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Terça-feira, Dezembro 24, 2024

A Anedota de Juncker

José Mateus
José Mateus
Analista e conferencista de Geo-estratégia e Inteligência Económica

A “Europa” faz 60 anos e Juncker conta uma anedota.

 Vocês desculpem mas tenho uma confissão a fazer. Bem sei que isto aqui não é o mural das confissões mas, mesmo assim, tenho de vos confessar um pecadilho: eu gosto do senhor Juncker, Jean-Claude Juncker. Ele é um pândego. E regado com umas boas pingas de gin fica mesmo inultrapassável. Sem ele a Europa não seria a Europa!

Estado da (des)integração da “União”, segundo a ‘Limes’, revista italiana de geopolítica.

Jean-Claude Juncker é, em si (falo da “coisa em si”, para usar uma terminologia cara à fase barroca do romantismo alemão, a dos Hegel, Marx & Cª), ele é, em si, dizia eu, o retrato perfeito e acabado desta querida Europa que nos deu a imperadora que veio do frio (aproveito para esclarecer que não acredito naquela teoria que há dias me “vendia” um ex-altíssimo responsável da velha estrutura clandestina e armada do PCP: “Ela é o melhor agente undercover do KGB de Putine…”. Não acredito, “prontes”!

O Juncker (que há tempos veio a Lisboa “esclarecer-nos” sobre a Europa e acabou por confundir o Colombo com o Vasco da Gama ou pior ainda), como bom pândego que é (para além de ser o jocker da Merkel) decidiu contar uma anedota ao Trump.

Disse ele ao inquilino da Casa Branca que “há risco de guerra nos Balcans se a União Europeia se desintegrar”. Ao que me contam de Washington, pelo telefone, o Trump ainda está a rir-se, com as mãos na barriga…

É claro que a guerra nos Balcans começou logo a seguir à reunificação da Alemanha, quando a “ressuscitada” Berlim decidiu (contra a vontade de Londres, Paris e etc.) voltar a experimentar a sua capacidade de projecção de poder, medir reacções e analisar resultados.

A pobre Jugoslávia, que estava ali à mão e tinha uns croatas e uns eslovenos que se bateram ao lado do III Reich (ao contrário dos sérvios que se bateram ao lado dos Aliados) foi a vítima escolhida. Oficialmente, a guerra durou de 1991 a 2001 (embora tenha, em baixa intensidade, continuado até agora…) e “produziu” já uma meia-dúzia de “repúblicas” (incluindo uma islâmica, pelo menos…) e ainda o curioso facto de quase metade da ex-Jugoslávia ter ficado sob influência alemã.

Trump deve estar lembrado que, oficialmente, a guerra acabou na Jugoslávia quando, a insistências de uma Berlim alarmada com a dimensão que tomava o incêndio que ateara, Washington teve de enviar os seus meios militares “calar” os sérvios. E se Trump está lembrado disso, Juncker devia lembrar-se que foi também por essa altura que a Europa morreu em Pristina…

Portanto, as Balcans estão em guerra há mais de 25 anos (se Juncker puder ir passar um fim de semana em Belgrado vai perceber melhor o que estou a dizer). O papel da UE liderada por Berlim, durante o grande incêndio que destruiu a Jugoslávia, foi o de um puto que ateia um fogo, perde o controlo da situação e vai chamar o irmão mais velho. Foi, precisamente, esse posicionamento que levou, então, um comandante americano a comentar que as forças dos EUA resolviam o problema e depois os militares europeus poderiam ajudar as velhinhas a atravessar as ruas.

A tropa de G. W. Bush resolveu o incêndio “calando” a Sérvia (Juncker poderá ver mesmo ainda hoje, em Belgrado, os vários resultados dessa acção pedida por Berlim/Bruxelas a Washington) e a Alemanha saiu-se muito bem da sua aventura nos Balcans, a sua primeira desde 1945…

Mas Trump não é G.W. Bush. Com Trump a conversa fia mais fino. O conflito nos Balcans continua vivo e activo… e com a Ucrânia ali bem perto. Ucrânia, a segunda grande aventura alemã de projecção de poder, que desencadeou um conflito com Moscovo que Berlim (de novo) não tem meios para resolver (e ainda menos depois do Brexit).

Juncker deve ter visto alguns vídeos de manobras conjuntas russo-sérvias e apanhou medo. Depois de umas gotas para ganhar coragem, resolveu contar uma anedota a Trump. Digam lá se o homem não é um pândego e se não merece que se goste dele? Eu, como confessei, gosto dele que é um grande artista. Europeu, claro.

Quando ao resto, a “Europa”, recomendo a Juncker um recente texto do meu amigo George Friedman (um homem com muito bom humor mas sem tempo para contar anedotas) cuja conclusão é muito clara: “The EU was an attempt to freeze history in peace and prosperity. The prosperity having failed, the question of peace is now on the table. If peace fails, then the geopolitical reality shifts, and history continues.”

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