Quando me olho no espelho e com a ponta dos dedos trilho os contornos das minhas rugas, mapeando as minhas vivências, uma dolorosa nostalgia acompanha-me, e um rio de lágrimas desagua no amargo sorriso tatuado no conformismo, aceito o efeito do tempo em mim, penteio a grisalha juba, meu coração reivindica a tua ausência, suspiro profundamente, e outra vez não me permito te querer…
E todos os dias te renego em meu fôlego
E como um pecado mortal, resistes à minha vontade.
Aqui estou eu escrevendo esta carta que certamente não a enviarei, sei que vou esmaga-la com toda a raiva e deixar que o tempo cure esta carência, e talvez ela traga para mim um novo amor em forma de balsamo milagroso.
Te busco na madrugada, quando o meu cansado querer se rende ao gritante silêncio da saudade.
Quando me isolo das penitencias que corrompem o meu desejo.
E no meu intimo, o meu querer resiste a cada tentação, fortificando a devoção.
Uns chamam de amor.
Outros de dependência.
E eu … Eu só sei que me proíbo de te querer, justificando cada regra, abafando as excepções me negando a te ter.
As lembranças de tudo que já vivemos, magoa meu ego e me nega o sossego… Decorei o meu intimo com mil motivos para te esquecer, mas quando te vejo não consigo parar de tremer.
E outra vez, as noticias na radio anunciam a subida de preços, e outra vez um criminoso absolvido… A seca continua, sem uma gota de solidariedade, o pouco que vai, desagua em outros mares… Estou aqui esperando o sinal do satélite largado na rua da vaidade, para enfeitar ambiguidades.
Talvez te querer não seja pecaminoso, mas não te ter, é certamente algo doloroso. Sobe o salário, aumentam as necessidades e quando encontramos braços dispostos a abraçar nos sentimos invadidos.
A autora escreve em PT Angola
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