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João de Sousa

Terça-feira, Dezembro 24, 2024

A Classe Média desapareceu

A atual situação política nacional a par da conjuntura política internacional vem ditar um novo posicionamento político estratégico para os partidos socialistas e sociais democratas em face das profundas alterações havidas na divisão segmentada do tecido social nas sociedades modernas em transição para a modernidade personificada na transição tecnológica.

Se tivermos em linha de conta que os interesses da “classe média” articulados com os interesses de classe do operariado e dos serviços mais os interesses dos pequenos investidores privados fazendo a ponte em nome da estabilidade social e económica com os interesses do setor financeiro e dos grandes investidores de forma a que o todo nacional micro e macroeconómico resulte e funcione em harmonia nacional concertada com as dinâmicas Europeias e internacionais, sempre foram os objetivos que estiveram presentes na orientação politica do Partido Socialista e que por isso os representava, num passado não muito distante, e que esses eram os interesses de um segmento social designado por classe média, uma classe social intermédia e que se situava entre o proletariado e o patronato, preenchendo na espiral da estrutura social e económica os domínios: administrativo; a educação; a justiça; os serviços; e outros; um patamar que está a desaparecer da estrutura de organização social nas sociedades modernas uma vez que a manufatura praticamente se extinguiu e por isso o proletariado convencional desapareceu como classe social, e a dita “classe média” passou, no organograma social, a ser uma classe uniforme estruturada para o fornecimento de mão de obra associada ao conhecimento nos novos processos padronizados de extração e de transformação das matérias primas e seus derivados até ao consumo e também na construção dos novos desígnios para os povos como o são:

  • A transição para a era digital;
  • O combate às alterações climáticas;
  • A sustentabilidade ambiental;
  • A biodiversidade;
  • Entre outros;

Depois há uma outra classe social que é a que arrecada as mais valias resultantes das atividades económicas por via direta ou de mecanismos financeiros.

Resultam assim dois polos opostos: os que exploram e os que são explorados.

Uma sociedade extremada em que um dos polos presta serviços; e outro pola arrecada as mais valias; A distinção social tal e qual acontecia no passado e que ainda perdura nas mentalidades é irrelevante por inexistente.

A manufatura estritamente necessária passou a ser minoritária no tecido produtivo e exercida por quadros qualificados;

É neste contexto que o reordenamento social do espectro político partidário urge e que o posicionamento político se torna um exercício dinâmico em ajustamento permanente de que resulta o extremar de posição entre a esquerda e a direita e que, também por isso, a disputa política eleitoral seja multifacetada nos horizontes, mas demasiado estreita nos objetivos.

Nesta perspetiva, o Partido Socialista não só sente a necessidade política e social de se posicionar à esquerda como não encontra argumentos de suporte ideológico em defesa do Socialismo Democrático convergente com o pensamento político do centro social-democrata porque esse espaço político-social já não existe.

Como sabemos, a dita “classe média” sempre se masturbou na aparência de elite presumida, e que por isso ainda não percebeu que deixou de ser o suporte da burguesia para promoção da submissão do proletariado para passar ela própria a ser a parte submissa.

É com esta nova realidade conjuntural que o Partido Socialista tem de enfrentar o presente e preparar o futuro político consciente de que se não o fizer deixará de ter o seu espaço político.

A identidade político-partidária tem por isso de acompanhar a nova identidade social de um só estereotipo de classe social: a dos que vendem a sua prestação de serviços seja em que domínio for: manual; intelectual; ou outro; sob pena de, se o não fizerem, os movimentos inorgânicos a par de organizações populistas poderem vir a introduzir dinâmicas sociais interativas descontroladas cujos fins serão sempre o caos conducente a regimes totalitários que se movimentam na sombra.

Este realinhamento sociológico identitário tem de personificar os anseios e aspirações de todo um universo carente de respostas cada vez mais céleres e mais exigentes, mas também, encontrar soluções de estabilidade nos processos de transição social para novos estádios da organização social mais:

  • interativos;
  • interculturais;
  • multiculturais;
  • em que os paradigmas da sustentabilidade ambiental; ecológica; e outros estão já em mudança.

Perceber estes sinais é de vital importância para a sobrevivência política dos partidos socialistas e sociais democratas tenham eles a sigla que tiverem na justa medida em que o seu espaço é o espaço da convergência social na defesa intransigente daquilo que são os interesses da cidadania; anseios e aspirações; estabilidade e futuro;

Em Portugal o Partido Socialista optou por convergir à esquerda em 2015 e de governar em minoria em 2019 não se sabendo neste momento se o Orçamento Geral do Estado para o ano de 2022 será ou não aprovado.

Aquilo que sabemos é que lhe cabe fazer passar a mensagem acautelando os valores da Democracia; da Liberdade; da Fraternidade; e da Igualdade.


Por opção do autor, este artigo respeita o AO90

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