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Sexta-feira, Dezembro 20, 2024

A democracia brasileira está no Oscar

Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Jornalista, assessor do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo

O presidente Jair Bolsonaro não esperava por essa, mas o filme Democracia em Vertigem (2019), de Petra Costa, foi indicado para concorrer ao prêmio de Melhor Documentário ao Oscar 2020.

“Com isso a luta pela restauração da democracia mostra a sua cara na mais famosa premiação do cinema mundial”, afirma Ronaldo Leite, secretário de Formação e Cultura da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

Principalmente porque o filme retrata o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, em 2016, que culminou com um golpe à democracia e a instauração de um governo de cunho neoliberal para a destruição do Estado e dos direitos da classe trabalhadora.

A aprovação da reforma trabalhista em 2017 e a eleição de Jair Bolsonaro, em 2018, aprofundaram o golpe de Estado com a reforma da previdência e cortes de programas sociais e investimentos em cultura, educação, esporte, saúde, enfim em todas as áreas sociais. Além “da entrega das riquezas nacionais e privatização de estatais fundamentais para o desenvolvimento do país”, alerta Ivânia Pereira, vice-presidenta da CTB.

“Bolsonaro elegeu a cultura e a liberdade de expressão como inimigas de seu governo obscurantista”, complementa Leite. O governo aparelhou a Agência Nacional do Cinema (Ancine) para impedir a produção de obras que retratam a história e a vida brasileira como Marighela, de Wagner Moura, A Vida Invisível, de Karim Aïnouz, filmes de temática LGBT e qualquer obra que pense a liberdade.

Como diz o cineasta Cacá Diegues “pode-se criar uma crise financeira de produção. Pode-se enchê-lo de outras muitas dificuldades. Mas ninguém nunca vai conseguir acabar com o cinema brasileiro”. O documentário Democracia em Vertigem está aí para provar.

Não é de hoje que setores da elite brasileira torcem o nariz para a cultura. Quando Fernando Collor de Mello assumiu em 1990, extinguiu a Empresa Brasileira de Filmes (Embrafilme), levando a produção do cinema brasileiro a quase zero.

Coube a Carla Camurati com Carlota Joaquina – Princesa do Brasil, marcar o renascimento do cinema nacional, em 1995, depois de anos de ostracismo. Criada em 2001, a Ancine veio para restabelecer de vez o cinema brasileiro. Com os governos Lula e Dilma a produção de filmes atingiu patamares jamais havia acontecido.

O filme da cineasta mineira Petra Costa desnuda o golpe travestido de impeachment com poesia e sensibilidade, sem medo de questionar o que deve ser questionado. “Petra conseguiu fazer de Democracia em Vertigem um relato potente da conjuntura nacional sem deixar de lado suas pitadas de poesia, principal característica de seus filmes anteriores, Elena (2012) e O Olmo e a Gaivota (2014)”, afirma a jornalista Mariana Serafini, no Portal Vermelho.

Essa é a primeira indicação de Petra ao Oscar. Quem sabe o cinema brasileiro dá mais essa chacoalhada na ignorância e o autoritarismo de um governo destinado às páginas inglórias da história.


Texto em português do Brasil


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