Os crescentes custos da energia na Europa estão a encerrar empresas e ameaçam uma recessão em toda a UE. No entanto, nem todos aceitam esse destino e algumas empresas estão a mudar-se para locais mais baratos, como o gigante siderúrgico ArcelorMittal (maior produtor de aço do mundo com sede no Luxemburgo, que foi constituído em 2006 a partir da fusão da Mittal Steel Company, de capitais indianos, e da Arcelor, empresa criada em 2002 por uma fusão da espanhola Aceralia, da francesa Usinor e da luxemburguesa Arbed) que anunciou no início deste mês uma redução para metade da produção nas suas instalações na Alemanha devido aos altos preços do gás. Isto depois de já ter anunciado no início deste ano que tinha planos de expandir a sua actividade no Texas, descrevendo aquele estado norte-americano como uma região que oferece energia altamente competitiva.
Segundo o Wall Strreet Journal esta é apenas uma das empresas sediadas na Europa que perante os exorbitantes custos da energia ponderam mudar para uma localização onde esta seja muito mais barata, tanto mais que a este benefício podem juntar um programa de novos incentivos oferecidos pelos EUA (ao abrigo da Lei de Redução da Inflação aprovada no mês passado) para certas indústrias, como a produção de baterias, de energia verde e de produtos químicos, áreas que se contam entre as que mais substancialmente deles podem beneficiar.
Enquanto isso, na Europa e graças à inflação da energia, cada vez mais empresas estão a entrar em modo de sobrevivência, como se chamava a atenção num artigo do New York Times para os incapacitantes custos da energia que estão a forçar a liquidação das fábricas na Europa, particularmente as indústrias que usam intensivamente essa energia, como sejam a manufactura e produção de fertilizantes ou a indústria do vidro, especialmente vulneráveis precisamente devido às suas maiores necessidades de energia.
As promessas de intervenção da Comissão Europeia, como sejam a redução no consumo da electricidade, a garantia de liquidez das energéticas, a aplicação de um tecto máximo sobre o gás russo, a limitação das receitas dos produtores de electricidade que usam uma fonte primária de energia que não o gás e ainda a tributação dos lucros “excessivos” das empresas de petróleo, gás e carvão, podem estar carregadas de boas intenções, mas serão sempre limitadas e titubeantes ou, como é o caso da proposta de limitação de preços, não apresentassem o grande estigma de contrariar o liberalismo dos “mercados” e o risco de reduzir os sacrossantos lucros especulativos.
Se por um lado o plano, pensado para arrecadar cerca de 140 mil milhões de euros destinados a serem redistribuídos entre famílias e empresas em dificuldades, conheceu imediatas críticas no Financial Times e até a aceitável observação da sua insuficiência na prevenção de uma previsível avalanche de falências, por outro foi completamente ignorada a difícil aplicabilidade da intenção de limitar o preço do gás russo e quase liminarmente silenciada a dura realidade do aproveitamento especulativo que se vive no mercado energético, como se confirma de recentes declarações do ministro alemão da economia, onde não poupou críticas directas aos EUA.
Esta nova vaga de deslocalização de empresas, ditada pelo absurdo aumento dos custos da energia, é outra consequência não intencional das políticas adoptadas pelos governos europeus, especialmente no campo da energia e mais um risco para a sobrevivência do bloco como formação industrializada e competitiva no futuro. E esse risco apresenta mais um enigma para os governos e a administração em Bruxelas resolverem em pouco tempo.