Brasil ingressou na pandemia com o mundo do trabalho profundamente debilitado, cenário refletido na destruição de empregos do setor produtivo e industrial, três vezes maior que a dos EUA.
A crise sanitária aberta pela pandemia do coronavírus impactou negativamente a economia e, por consequência, a classe trabalhadora. A forma com que os governos conduziram as medidas de enfrentamento da onda viral ajuda a entender diferentes resultados em relação ao emprego destruído, por exemplo.
De maneira geral, o nível de emprego contraído recentemente também reflete a composição da estrutura ocupacional existente, bem como o seu comportamento nos últimos anos. Destaca-se, nesse sentido, como o nível e a composição das ocupações foram afetados negativamente desde o início da grave recessão em 2015 no Brasil.
Entre o último trimestre de 2014 e o trimestre móvel (nov/dez2019/jan2020) que antecedeu a chegada da covid-19 no país, o total da ocupação aumentou 1,2 milhão de pessoas, pois passou de 92,9 milhões para 94,1 milhões de trabalhadores. Em contrapartida, o desemprego que era de 6,4 milhões de pessoas aumentou para 11,9 milhões no mesmo período de tempo.
Também se pode ressaltar a queda de 7,6% na taxa de assalariamento formal que passou de 51,3% do total dos ocupados no último trimestre de 2014 (47,7 milhões de empregados) para 47,4% no trimestre móvel de nov/dez2019/jan2020 (44,6 milhões de empregados). Com 3,1 milhões de empregos assalariados formais a menos, nota-se que a ocupação que aumentou em 4,3 milhões de trabalhadores foi justamente aquela desprotegida de direitos sociais e trabalhistas, cujas reformas trabalhista e previdenciária realizadas teriam por objetivo resolver. Ledo engano.
Em função disso, o Brasil ingressou na pandemia do coronavírus com o mundo do trabalho profundamente debilitado, diferentemente de outras nações. Em comparação com os Estados Unidos, a composição dos empregos não agrícolas destruídos no mês de abril de 2020 se apresentou relativamente diferente no Brasil.
Nos EUA, por exemplo, quase 84% dos empregos destruídos ocorreram no setor de serviços. Enquanto no Brasil esse mesmo setor econômico respondeu por menos de 67%. A diferença encontra-se no fato de que a destruição dos empregos dos brasileiros ter sido quase 3 vezes mais elevada no setor produtivo, sobretudo na indústria.
No mês de abril, a destruição de empregos na indústria dos EUA correspondeu a menos de 7% do total. Ao passo que o Brasil representou quase 23%. Ou seja, 3,4 vezes maior no Brasil, que nos EUA, o peso da manufatura no total de emprego destruído.
Por fim, no setor de serviços, dois aspectos interessantes a registrar. O primeiro relacionado ao fato do comércio no Brasil ter respondido por quase 27% do total da destruição dos empregos e o de lazer e entretenimento por 18,5%. Enquanto nos EUA o comércio respondeu por menos de 15% dos empregos perdidos e o entretenimento e lazer por 37,3%.
O segundo aspecto deriva do reconhecimento que nos EUA a administração pública atingiu quase 5% do total do emprego destruído em abril de 2020. No Brasil em contrapartida, a administração pública representou menos 3% do total dos empregos destruído.
Em síntese, a participação do comércio no total do emprego destruído no Brasil foi 1,8 vezes maior que nos EUA, cujas atividades de lazer e entretenimento tiveram 2 vezes mais importância relativa na destruição do total do emprego do que no Brasil. Na administração pública, por fim, o peso relativo nos empregos destruídos nos EUA foi 1,8 vezes maior que o Brasil.
por Marcio Pochmann, Economista, pesquisador e professor da Unicamp | Texto original em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV (Fonte: RBA) / Tornado