O Partido Socialista sofre uma erosão eleitoral há sete anos. A última votação com mais de dois milhões de votos aconteceu em 2009 com Sócrates a correr para um segundo mandato. Desde então a direita segue consistentemente à frente. O que se passa com o PS é complexo e fruto de uma riqueza que se transforma em falhanço.
A ideia de ter António José Seguro como líder não convenceu ninguém, mas era o único aparentemente disponível. Francisco Assis, que agora vem alertar para que o eleitorado PS se está a dividir entre o Bloco e a terra de ninguém, não conseguiu derrotar Seguro – o que mostra o seu valor eleitoral dentro do partido, naquele momento.
Se o PS se fartou de Sócrates, imagine-se o eleitorado. Por anos não pode sequer com a sombra do engenheiro. Enquanto pairar como morto-vivo, o PS estará sempre refém das suas idiossincrasias. Ora aparece a votar como cara de mau ora dá entrevistas com cara de anjo…
António Costa sabe que vai na segunda derrota eleitoral consecutiva e que, sem o PSD, pouco ou nada aprovará na Assembleia que seja do agrado do bicho Europa. Por isso a vitória de Marcelo deu jeito. Costa não é burro, no entanto. O perigo eleitoral de estar na cama com todos paga-se caro, porque nas legislativas seguintes todos vão reclamar louros e os socialistas ficam entre o frenesim da direita e as mãos no peito de trotskistas, maoistas e leninistas.
Para os socialistas é urgente explicar o que defendem, para não se misturarem no ruído dos dias. A nova geração do PS é panfletária e tem os tiques de duas classes que o PS detestava: os copinhos de leite e os líderes estudantis à procura de poder. Por muito que sejam pessoas extraordinárias, as novas caras socialistas ainda não criaram empatia com o eleitorado, uma vez que são mulheres e homens de gabinete. Não andam na rua-rua, andam apenas nos “círculos” certos.
Ora, a erosão do partido faz-se aqui. Os bons presidentes de Junta e de Câmara afastaram-se da ribalta. Medina só complica com as ideias da 2ª Circular e mais ninguém se lembra de outro presidente de Câmara (ou de Junta) do PS. Tem mais peso Bernardino em Loures do que Basílio em Sintra.
Há ainda o perigo de o Partido Socialista ter medo de ir sozinho a votos. Como o eleitorado não lhe distingue a mensagem nem o propósito, com a morte de Almeida Santos e a fraca saúde de Soares, quem são as figuras de referência? Guterres, amado por Marcelo e tomado pela Igreja? Sócrates, encrencado? Constâncio, “vendido” à Europa? Jorge Coelho? Daniel Oliveira?
No PSD ainda há Manuela Ferreira Leite, Pacheco Pereira, Balsemão, Santana Lopes (!) ou mesmo Durão Barroso, Fernando Nogueira e Cavaco. E Rui Rio.
Costa. É o que resta. Depois de três eleições contra o partido, Alegre não cabe. Talvez Jaime Gama, esse eterno protagonista estilo RTP2.
Se é para renovar e afirmar, que seja agora. Senão, o caminho do PS pode ser muito complicado sem Costa e sem referências – nem valores claros que os eleitores compreendam. É tudo uma questão de solidez e comunicação.
PS – Marcelo sem cinto e a estacionar no lugar dos deficientes é só uma prova do seu portuguesismo. Seria grave se fosse minoria. Não é, mas também ninguém nos mandou nascer aqui e ser do contra.