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Sábado, Novembro 23, 2024

A estranha aparição do Inventor – 3

José Antunes Ribeiro
José Antunes Ribeiro
Editor e Autor

“Que diferença faz quem fala?”

Michel Foucault

No adro da Igreja Matriz e sob o olhar atento do Anjo Gabriel juntara-se o povo em círculo.

As mulheres vestidas de preto, os homens com os seus fatos cinzentos. A maior parte estivera na missa de corpo presente por alma do inventor.

– Mas qual a razão desta morte? Dissera a vizinha de Pepe Mão de Fada.

– É necessário alguma razão para morrer? Disse com certa rispidez o dono da tasca frequentada de longe em longe pelo inventor. Bagaço, só bebia bagaço, nada mais do que um bagacinho para as noites mais frias.

– Falavam de quê? Insistiu a vizinha.

– De tudo e de nada. Do tempo. Do sol. Da chuva. Da música, da música da floresta, obsessão maior do inventor. (Do vento a silvar entre as ramagens dos pinheiros e eucaliptos.).

A vida do inventor continua um enigma difícil de entender.

(Mas o que é que ele inventou quando ainda não era este cadáver que assiste impávido e sereno à missa de corpo presente?).

 

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