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Sábado, Julho 27, 2024

A estranha ausência de Mohamed VI

Isabel Lourenço
Isabel Lourenço
Observadora Internacional e colaboradora de porunsaharalibre.org

O rei de Marrocos passa a maior parte do ano fora do seu país. Gerindo os destinos do reino por via virtual, o monarca alauita passou apenas 20 dias em Marrocos nos primeiros cinco meses do ano.

Poder-se-ia pensar que tem uma agenda ocupada com visitas de estado e outras deslocações relacionadas com os seus deveres, mas de facto essas ocupam apenas uma pequena parte da sua actividade, o Rei evita ao máximo aparecer em reuniões oficiais para evitar exposição ao aumento diário de contestação da sua politica e do governo que tem debaixo o seu comando férreo.

Depois de ausências prolongadas, quando regressou a Marrocos no inicio do Ramadão, recuperou o tempo perdido com uma actividade frenética no encerramento do ciclo de conversações religiosas organizadas no Ramadão no palácio real de Casablanca, na inauguração de vários projectos sociais em Kenitra, Salé e Rabat; e dois portos em Tânger, um pesqueiro e outro turístico, com um investimento de cerca de 550 milhões de euros. Em Rabat um dos mais importantes monumentos a Torre de Hassan, permanece fechado para turistas que esperam por sua majestade para inaugurar o trabalho de reabilitação concluído há dois anos, pode ler-se num artigo publicado dia 21 de Junho no diário El Español.

Muitos são os rumores sobre a saúde do Monarca, nos últimos 12 meses circularam várias noticias nas redes sociais prognosticando uma morte iminente, o que provou ser falso apesar do Rei ter sido sujeito a uma cirurgia por arritmia cardíaca em Paris no inicio do ano. Quem quer saber de sua majestade terá que consultar as redes sociais, nomeadamente na sua conta facebook onde tem 3,6 milhões de “amigos”.

Aí ficamos a saber das suas viagens no continente africano, as largas estadias em França nas duas propriedades herdadas dos seus pais, no castelo que Hassan II (pai do monarca) construiu na cidade francesa de Betz e na residência da sua mãe em Neuilly (Hauts-de-Seine).

Os súbditos que vivem na pobreza, e que há vários meses realizam boicotes aos bens essenciais vendidos pelas empresas estatais podem ver o monarca em selfies em lojas e restaurantes de luxo, em roupas informais e “modernas”.

Essa modernidade, no entanto, termina nas roupas do monarca e na sua conduta social, no país reina o terror, a repressão e a falta de liberdade de expressão.

Marrocos está paralisado em muitos sectores e vive uma grande crise interna

Os cidadãos estão a boicotar há mais de dois meses as três marcas de produtos básicos nas mãos de empresários ligados a Mohamed VI. As pessoas não compram ou consomem água de Sidi Ali, leite Centrale Danone e gasolina da cadeia Afriquia, embora já tenham baixado os seus preços. Os trabalhadores dessas empresas temem perder os seus empregos e tomam as ruas para protestar contra a perda dessas empresas. O Ministro das Relações Públicas, Lahcen Daoudi, que os apoiou contra o boicote teve que renunciar.

Jerada e o Rif seguem em tumulto. Na cidade de Jerada, a 60 quilómetros de Oujda, a população protesta nas ruas desde Dezembro 2017, quando 8 pessoas morreram nas minas clandestinas. A última tragédia aconteceu em 4 de Junho com a morte de dois cidadãos, um menor, pelo colapso de uma galeria.

A Human Rights Watch condenou a “campanha de repressão” contra os manifestantes, com “uso excessivo de forças de segurança” que prenderam 69 manifestantes desde Março.

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