O que eu aprendi do bestseller, de 2018, dos cientistas políticos da Universidade de Harvard, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, “Como as Democracias Morrem”, é que Países democráticos podem ser bem governados apenas se seus partidos conservadores caem na segunda ou terceira das quatro categorias acima. Quando os conservadores se aglutinam em torno da reação ou do medo, as instituições democráticas estão sob ameaça.
Os conservadores americanos uma vez procuraram pegar as ondas dos mercados e inovação para acumular cada vez mais riqueza e prosperidade, mas agora eles se encolhem de medo. E, como a trajetória de hoje do Partido Republicano mostra, isso faz deles uma ameaça à democracia.
BERKELEY – Se você está preocupado com o bem-estar dos Estados Unidos e interessado no que o País pode fazer para ajudar a si mesmo, pare o que você está fazendo e leia o soberbo livro, de 2012, do historiador Geoffrey Kabaservice: “Rule and Ruin: The Downfall of Moderation and the Destruction of the Republican Party, from Eisenhower to the Tea Party” (Nota: Regra e Ruína: a Queda da Moderação e a Destruição do Partido Republicano, de Eisenhower ao Tea Party, numa tradução livre). Para compreender porquê, permita-me um breve interlúdio histórico.
Até quase o começo do Século XVII, as pessoas tinham geralmente que olhar para trás no tempo para encontrar evidência de grandeza humana. A humanidade tinha alcançado seu pico em idades de ouro há muito perdidas de semideuses, grandes pensadores e projetos de construção massivos. Quando as pessoas olhavam para o futuro para a promessa de um mundo melhor, era uma visão religiosa que eles conjuravam – uma cidade de Deus, não do homem. Quando eles olhavam para sua própria sociedade, eles viam que ela era basicamente a mesma que no passado, com Henrique VIII e sua comitiva presidindo a corte da mesma maneira que Agamenon, ou Tibério César, ou Arthur.
Mas então, por volta de 1600, as pessoas na Europa Ocidental notaram que a História estava se movendo amplamente em uma direção em particular, devido a expansão das capacidades tecnológicas da humanidade. Em resposta à nova doutrina de progresso europeia do século XVII, as forças conservadoras representam uma visão amplamente aceita de como as sociedades devem responder as implicações políticas das mudanças tecnológicas e sociais. Ao fazer isso, elas geralmente se reuniram em quatro tipos diferentes de partidos políticos.
O primeiro compreende reacionários: aqueles que simplesmente querem “resistir à História, gritando ‘PARE’”, como William F. Buckley famosamente colocou. Reacionários consideram a si mesmos estarem em guerra com uma “doutrina armada” distópica, com a qual o compromisso não é possível nem desejável. Na luta contra esse inimigo, nenhuma aliança deve ser rejeitada, mesmo que ela seja com facções que seriam de outra forma julgadas más ou desprezíveis.
O segundo tipo de partido favorece “medidas liberais e homens conservadores” (Nota: partidos políticos Whig e Tory, da Inglaterra, no Século XVII). Esses conservadores podem ver que mudanças tecnológicas e sociais podem ser transformadas em vantagem humana, desde que as mudanças sejam guiadas por líderes com uma grande apreciação do valor de nosso patrimônio histórico e dos perigos de destruir as instituições existentes antes de construir novas. Como Tancredi explica para seu tio, o Príncipe de Salina, em “O Leopardo”, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, “Se nós queremos que as coisas continuem as mesmas, as coisas vão ter que mudar”.
O terceiro tipo de partido conservador é encontrado principalmente (mas não exclusivamente) na América. Ele emerge como uma adaptação para uma sociedade que vê a si mesma como esmagadoramente nova e liberal. Ele não é um partido de tradição ou status herdado, mas de riqueza e negócios. Em suas fileiras estão conservadores que querem remover obstáculos impostos pelo governo a inovação tecnológica, empreendedorismo e empresas. Confiantes de que o mercado livre contém a chave para gerar riqueza e prosperidade, eles, sem fôlego, apregoam os méritos de surfar em suas ondas de destruição criativa de Schumpeterian.
Por último, há a casa dos medrosos e dos vigaristas que os exploram. Esse eleitorado inclui todos aqueles que acreditam que são eles que vão ser criativamente destruídos pelos processos de mudança histórica. Eles sentem (ou são levados a acreditar) que estão cercados em todos os lados por inimigos internos e externos, que são mais poderosos do que eles e estão ansiosos para “substitui-los” ou “cancela-los”.
O que eu aprendi do bestseller, de 2018, dos cientistas políticos da Universidade de Harvard, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, “Como as Democracias Morrem”, é que Países democráticos podem ser bem governados apenas se seus partidos conservadores caem na segunda ou terceira das quatro categorias acima. Quando os conservadores se aglutinam em torno da reação ou do medo, as instituições democráticas estão sob ameaça.
Levitsky e Ziblatt oferecem muitos exemplos para demonstrar isso, mas deixe-me adicionar mais um. Um pouco mais de um século atrás, a Grã-Bretanha experimentou um surpreendentemente rápido declínio de sua posição como a hiperpotência política e econômica do mundo. Esse processo foi acelerado significativamente pela transformação do seu Partido Tory em um partido combinando os tipos um e quatro. Isso foi o partido das celebrações da Noite do Mafeking (Nota: o cerco de Mafeking foi uma batalha de 217 dias pela torre de Mafeking – agora chamada Mahikeng – na África do Sul, durante a Segunda Guerra Boer, de outubro de 1899 a maio de 1900) e resistência armada a reforma constitucional irlandesa. No período de 1910 a 1914, George Dangerfield mais tarde lembrou, o mundo testemunhou a “estranha morte da Inglaterra liberal”.
Isso nos traz de volta ao livro de Kabaservice, que conta a história de como o Partido Republicano dos EUA pôs a si mesmo em um curso análogo. Quando eu olho para o cenário político atual, eu vejo muito poucos elementos das categorias dois e três no Partido Republicano. E quaisquer dos que sobraram estão rapidamente desaparecendo.
Os políticos Republicanos hoje estão desesperados para pegar o manto de Donald Trump, sem dúvidas um dos piores presidentes na História americana. Obviamente, essa perigosa e embaraçosa tendência precisa ser revertida tão rapidamente e tão completamente quanto possível. Mas eu, por mim, não consigo ver como isso poderia ser feito.
Fonte: Project Syndicate
por Bradford DeLong, Professor de Economia na Universidade da Califórnia, Berkeley e associado de pesquisa no Escritório Nacional de Pesquisa Econômica. Ele foi Assistente Adjunto do Secretário do Tesouro dos EUA durante a administração Clinton | Texto em português do Brasil, com tradução de Luciana Cristina Ruy
Exclusivo Editorial Rádio Peão Brasil / Tornado