A imprensa noticiou a forma como Hassan Rouhani, chefe de Estado do Irão foi recebido em Roma. As esculturas do Museu Capitolini, obras de arte da civilização ocidental, foram cobertas para não ferir a susceptibilidade do visitante e no repasto oficial não foi servido vinho.
A Europa sempre se orgulhou de ser uma civilização de Valores que encontrou na Democracia o sistema político menos mau e na cultura da Liberdade individual, da Fraternidade e da Igualdade, os seus pilares.
Em termos culturais, cultivou-se a liberdade de expressão, combateram-se as diversas formas de censura, respeitou-se a liberdade de consciência recusando-se que umas consciências se impusessem a outras, desenvolveram-se os direitos das mulheres, difundiu-se o ensino estendendo o seu acesso a todos, recusaram-se os livros únicos, etc.
Foi desta forma que nos afirmámos em termos globais, que erigimos uma cultura contrária aos absolutismos e aos fanatismos e que chegámos aos dias de hoje.
Existem culturas que não partilham dos nossos valores e se caracterizam, por exemplo, pela falta de liberdade individual, pela negação da liberdade de opinião, pela promiscuidade entre Religião e Estado (o que resulta muitas vezes na imposição do “pensamento religioso de Estado”), pela desvalorização da vida.
São estádios de evolução civilizacional — do ponto de vista da cultura ocidental — pelos quais a Europa e o Ocidente já passaram.
Nos dias de hoje, em que se vislumbram sinais de crise de Valores no Ocidente, torna-se imperioso que estejamos na primeira linha da defesa dos nossos Valores e que não capitulemos perante as ofensivas externas e internas.
Tapar as nossas esculturas não é um sinal de cortesia para com o visitante mas sim uma capitulação inaceitável da nossa cultura. É envergonharmo-nos dos Valores que foram conquistados com muito esforço e trabalho.
As esculturas são algo de condenável? A nudez artística é vergonhosa? Como explicar aos nossos filhos o porquê de as cobrirmos? Não servir vinho à refeição foi um acto gratuito que não resiste a uma análise medianamente séria.
Que o chefe de Estado do Irão não beba está no seu direito que devemos respeitar (embora os Persas conhecessem o vinho e no Irão não respeitem os hábitos e costumes dos turistas europeus). Servi-lo não obriga ninguém a beber.
O vinho faz parte do nosso modo de vida e da nossa cultura gastronómica e assim como devemos respeitar a liberdade do chefe de Estado do Irão em não beber também deve ser respeitada a nossa liberdade em o beber.
O que se passou não é aceitável sob nenhum ponto de vista. Será o início da submissão silenciosa tão bem descrita no romance, com o mesmo título, de Houellebecq?
Os franceses optaram por não servirem o jantar. Apesar de tudo foi uma decisão mais inteligente.
Será que se o Presidente ou Primeiro Ministro italiano visitarem o Irão haverá vinho à refeição como sinal de cortesia para com os visitantes? Será que um turista ocidental pode beber vinho livremente num qualquer restaurante do Irão?
Estamos a assistir, sejamos objectivos, à lenta imposição de valores do islão radical a uma Europa cristã (até o Real Madrid retirou, vergonhosamente, a cruz do seu emblema).
Fê-lo, como foi relatado na imprensa, a troco do patrocínio do Banco Nacional de Abu Dhabi. Ao que parece o Real Madrid passou a ter um emblema com cruz em fora dos Emiratos e um sem cruz nos Emiratos.
Na base de tudo isto estão os interesses do dinheiro, o investimento de 23 mil milhões foi o preço, dos italianos. Mas até este argumento mais não mostra que a fragilidade e má qualidade dos negociadores italianos.
O Irão, saído do período de sanções, porventura injustas, está debilitado e necessita urgentemente de escoar o seu petróleo e de abrir a sua economia ao ocidente. Visita Itália e França numa posição de fraqueza pelo que, até sob este ponto de vista, o que se passou era absolutamente desnecessário.
É caso para dizer “o programa segue dentro de momentos”.