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Sexta-feira, Abril 18, 2025

A filantropia do New Deal Verde

Arnaldo Xarim
Arnaldo Xarim
Economista

Está em curso uma profunda mudança em direcção a uma “economia verde” e quem a está a impulsionar deveria deixar-nos preocupados, ou pelo menos desconfortáveis.

Os cabeçalhos dos grandes órgãos de informação continuam a privilegiar as referências a adolescentes preocupados com o nosso futuro, como Greta Thunberg, ou jovens políticos em ascensão, como a norte-americana Alexandria Ocasio-Cortez, e o seu New Deal Verde que defende a substituição das forças irracionais dos mercados que determinam o nosso destino pelo objectivo da descarbonização; na mesma linha encontra-se Ursula von der Leyen, a presidente da Comissão Europeia, que também já anunciou um New Deal Verde europeu, fixando como objectivo a neutralidade carbónica até 2050.

Ninguém duvidará da necessidade de conter e contrariar as forças de mercado e os gigantes da finança, verdadeiros senhores das estruturas do poder económico, que as manobram em seu exclusivo benefício, ou implementação de políticas de contenção e redução do aquecimento global, mas quando tudo, ou quase tudo, permanece por fazer no capítulo da regulamentação e da criação de verdadeiras e eficazes estruturas de controle e supervisão, o pronto salto para um novo e ambicioso objectivo, nos antípodas daquele, justifica alguma reflexão, tanto mais que por trás dos programas do New Deal Verde começam a prefigurar-se figuras e negócios de modo algum associáveis ao humanitarismo que propagandeiam.

Mark Carney

Entre estas, destaque-se o papel da City londrina e da rede bancária associada à família Rothschild na promoção de “instrumentos financeiros verdes” destinados a canalizar planos de pensão e fundos de investimento para projectos verdes em que talvez ninguém investisse e a criação de índices ESG (Ecológico, Social e de Governança) que pouco mais pretenderão que a criação de novos “mercados” e de novas “oportunidades de negócio”, aproveitando a boleia da moda ecológica. O próprio governador do Banco de Inglaterra, o canadiano e ex-Goldman Sachs Mark Carney, já veio assegurar que o “negócio” que agora vale cerca de 140 mil milhões de euros poderia ultrapassar os 6 biliões de euros, quase anunciando a próxima bolha a rebentar, onde obviamente já navegam todos os gigantes, demasiado grandes para falirem, da finança mundial.

Recentes acontecimentos, como a Crise Sistémica Global de 2008, revelaram a verdadeira face do sistema financeiro global, pelo que esta aparente preocupação ecológica só pode ser encarada, na melhor das hipóteses, como uma campanha de gestão de imagem, ou, na pior e provavelmente mais real hipótese, como mais um mecanismo camaleónico que parece tudo mudar… para manter tudo na mesma.

Mesmo quem reconhece os perigos do crescimento do consumismo e os malefícios da glorificação dos ganhos imediatos em detrimento de modelos de crescimento sustentados a médio e longo prazo, deverá ponderar que a reorganização do sistema proposta por quem aspira a monetizar a redução das pegadas de carbono, através do famigerado mecanismo de negociação de direitos de poluição, ou a espalhar formas alternativas de produção de energia que ainda não respondem cabalmente às necessidades da capacidade industrial instalada, deve ser encarada com as devidas reservas e cautelas.

Julian Huxley

Tudo isto e a recorrente teia de intrincadas relações entre as grandes fortunas mundiais (onde se incluem famílias aristocráticas como os Windsor e os Orange) e os financeiros que as gerem e alimentam – fenómeno que remonta aos primórdios da formação dos grandes monopólios industriais, os tempos dos grandes magnatas do ferro, dos transportes e do petróleo, que transitou para os actuais empórios financeiros e de que são exemplo organizações como o World Wildlife Fund (fundado em 1961 por Julian Huxley, impulsionador e primeiro director-geral da UNESCO, ao lado dos príncipes Philip Mountbatten e Bernardo da Holanda e ainda de Godfrey Rockfeller) ou o famoso Clube Bilderberg (think tank fundado em 1954 com o alto patrocínio do mesmo príncipe Bernardo da Holanda e o anunciado objectivo de combater um crescente sentimento antiamericano na Europa, transformado no fórum mundial de entronização de servidores dos grandes interesses e aspirantes a grandes líderes políticos) – não pode deixar de merecer referência, cuidada reflexão e convenientes reservas.

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