O belga Abdelhamid Abaaoud, apontado como mentor dos ataques terroristas de Paris, está morto, informou esta Quinta-feira a Procuradoria de Paris.
“Abdel Hamid Abaaoud acaba de ser formalmente identificado, depois da comparação das impressões papilares, como falecido no decorrer da operação realizada pela RAID (unidade de elite da polícia francesa) na rua Corbillon de Saint-Denis na noite de 18 de Novembro”, afirma o comunicado oficial.
Às 4h30 da madrugada de Quarta-feira, os homens das brigadas de elite francesas RAID e BIS atacaram um apartamento no número 8 da Rue du Corbillon, em Saint-Denis, bairro do norte de Paris onde se situa o Estádio de França. Seguiram-se horas dramáticas, marcadas no início por uma troca de tiros com os homens entrincheirados no apartamento.
À medida que foram sendo conhecidos detalhes desta operação policial de vasta envergadura, tornou-se claro que, no quadro das investigações sobre os atentados de Sexta-feira passada em Paris, as autoridades francesas lançaram o ataque porque suspeitavam de que ali estaria a ser preparado um atentado terrorista ao centro financeiro da capital, o bairro La Defense, e porque no interior do apartamento cercado esperavam encontrar um dos jihadistas mais procurado no mundo, o belga de origem marroquina Abdelhamid Abaaoud
A notícia de que Abdelhamid é considerado pelas autoridades francesas o mentor dos atentados de dia 13 que fizeram pelo menos 129 mortos e mais de 350 feridos, foi recebida com incredulidade em França. Eis que o jihadista que os serviços de segurança europeus sabiam ter sido encarregue pelo auto-proclamado “Estado Islâmico” (Daech) de treinar combatentes para realizar atentados em território europeu, conhecido por actos de atrocidade nas fileiras da organização na Síria, é identificado como o cérebro do grupo que executou os atentados em Paris. Isto depois de, em Fevereiro, numa entrevista à Dabiq, a revista de propaganda do Daech, ter referido estar a planear um massacre em França.
No início de 2014, o jovem de 28 anos, nascido e crescido em Molenbeeck, na Bélgica, fez manchete nas capas dos jornais belgas por ter levado para a Síria o seu irmão Yunis, de 13 anos, aparecendo pouco depois num vídeo de propaganda do EI, ao volante de um veículo com corpos mutilados. Em Julho, foi condenado à revelia na Bélgica a 20 anos de prisão por liderar uma rede de recrutamento de jihadistas para a organização terrorista, mas manteve-se sempre a monte. Apesar de tudo isto, conseguiu preparar os recentes atentados de Paris.
O bairro de Saint-Denis foi acordado na madrugada de Quarta-feira pela mega-operação de caça a Abdelhamid Abaaoud (conhecido nas fileiras do Daech com o nome de guerra Abou Umar al-Baljiki, ou seja “Abou Umar, o Belga”). Embora não houvesse certezas de que se encontrava no apartamento no momento em que se deu o ataque, a polícia tinha informações que apontavam fortemente para essa possibilidade. As autoridades não confirmaram a morte do super-terrorista, até que foi identificado por meio de impressões digitais.
O confronto durou sete horas e foi muito violento. Uma mulher fez-se explodir, estando por confirmar as notícias que diziam tratar-se de uma prima de Abdelhamid, Hasna Aitboulahcen. Outros sete suspeitos foram detidos, mas não são ainda conhecidas as suas identidades.O ministro do Interior francês, Bernard Cazeneuve, disse em Saint-Denis que a França vai manter nos próximos dias a operação de investigação que está a ser conduzida em larga escala em todo o país, no quadro da luta contra o terrorismo. Nos últimos dias, o presidente francês François Hollande repete como um mantra que “a França está em guerra”. Nas redes sociais, foram entretanto ressuscitadas pelos internautas as imagens de uma entrevista do ex-primeiro-ministro Dominique de Villepin ao canal France 2, em Setembro de 2014, durante a qual alertou que “fazer crer que estamos em guerra é uma armadilha” e que “a guerra contra o terrorismo nunca poderá ser ganha”, defendendo que estamos “presos num círculo vicioso e que “só uma estratégia política, uma visão política e uma capacidade de pensar a acção muito além das bombas” pode garantir a paz.
“O meu nome e a minha fotografia estavam nas notícias e mesmo assim consegui ficar na terra deles, planear operações e sair com segurança quando foi necessário”, tinha dito Abdelhamid na entrevista à Dabiq.