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Domingo, Setembro 1, 2024

A freira visionária contra os burgueses

João Vasco AlmeidaA freira visionária estava sossegadita nos seus aposentos do convento de Mont Pelliers, lá nas bélgicas. Tinha ingressado no convento já lá ia um ano, aos seus 15, quando começou a ouvir deus nosso senhor. Juliana de Mont Cornillon deve ter apanhado um susto do caraças. Uma miúda de 16 anos no séc. XIII a ouvir cenas podia bem ser imediatamente posta na fogueira (não havendo prozac, as loucas acabavam muitas vezes grelhadas).

Sorte a da freira Juliana. O cónego Tiago Pantaleão de Troyes, um posto acima de padre e amigo das noviças de Mont Pelliers, encontrou candura em Juliana e acreditou-lhe a história das visões e da mensagem. Como era a visão?

Era recorrente e mostrava “uma lua dividida em dois por uma faixa negra”. Vai daí, interpretou-se a coisa como sendo um apelo de deus-nossenhor para que se dedicasse um dia à celebração da Eucaristia – o momento da missa onde a bolacha e o vinho doce se transformam em carne e sangue. Confuso? Não esteja. É milagre.

Quem não estava pelos ajustes era a burguesia. Quando Roberto de Thourotte, que iria acabar mal por querer ser vizir no lugar do vizir, instaurou a festa, o patronato começou a espernear. Gritavam que era mais um feriado que ia custar dinheiro e parar a produção. Malditos proletas sempre a arranjar desculpas para não fazer um caracol, inda por cima à custa da freira da lua cortada.

Mas a magnífica interpretação da lua com faixa foi mesmo adiante. Juliana é que não teve sossego. Perseguida como um qualquer Ana Avoila a querer dar descanso imerecido aos jornaleiros, andou a visionária fugida de mosteiro em mosteiro, de Val Benoît a Huy e Salzinnes, acabando por morrer a 5 de Abril de 1258, em Fosses-la-Ville.

Em Liège, onde o patronato se tinha oposto ao feriado, a malta nova e os padres lá insistiram – tanto que Urbano IV, depois de saber da freirita e da necessidade de catar mais uns impostos para a dividida Igreja, consagrou o dia ao mistério da Fé e, desde então, só Passos Coelho e Paulo Portas, o PSD e o CDS ,- e a Troika – acharam por bem mandar Juliana à fava e fosse à missa quem quisesse.

Claro que Urbano IV só confirmou a festa depois de um milagre: Em Bolsena, terra perto de onde Urbano tinha assentado arraial, por não poder entrar em Roma por causa de umas questões paralelas, deu-se o necessário. O padre local andava cheio de dúvidas se deus se manifestava ou não na bolacha e no vinho. Foi ao Papa, que lhe disse que tivesse juízo e voltasse à terra.

Nem com Tide isto sai, Cardoso
Nem com Tide isto sai, Cardoso

Os cristãos, com o talento habitual, escrevem que estava o pobre homem, quase ateu, a dar a missa e, no momento seguinte ao da consagração da hóstia e do vinha, pimba: “Acabada esta última, o preciosíssimo sangue começou a borbulhar, subiu, subiu, transbordando e gotas e muitas gotas derramaram-se sobre o corporal, tingindo-o de sangue. Assustado com o facto inexplicável, pensa em ocultar o milagre, tanto mais que o atribui ao seu pecado. Dobra, cuidadosamente o corporal e procura escondê-lo debaixo da pedra d’ara. Mas, o sangue passa pelo linho e quatro gotas caem sobre os degraus do altar, deixando impressos os sinais evidentes do sangue. Que fazer?”…

Enviou o pano ao Papa que, tendo ali relíquia, mandou à fava os burgueses e impôs o feriado.

No fundo, no fundo, percebe-se porque José Rodrigues dos Santos tem razão: se os fascizóides têm origem no marxismo, este feriado proleta não podia existir sem um forte apoio parlamentar de marxistas. É o milagre da Bíblia a transmutar-se n’O Capital.

 

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