Lehman Brothers – O triunfo dos abutres
Os banqueiros são uma espécie de predadores. I.e. são predadores de uma dada espécie. Do género das hienas. Matam em grupo, e alimentam-se das vísceras dos cadáveres, no meio de grande algazarra. São os reis da selva do capitalismo. O capitalismo, esse, é uma espécie de natureza nas mãos de hienas.
Em vez do Triunfo dos Porcos, George Orwell devia ter escrito o triunfo dos banqueiros, ou das hienas. Que os banqueiros eram porcos, sabíamos. Que celebram os cadáveres com canapés ficamos a saber. Era habitual ser com as entranhas das vítimas.
A notícia saiu no Nouvelle Observateur de 21 de Agosto: “Os ex-banqueiros do Lehman Brothers estão a organizar uma festa de aniversário… da sua falência”! Da nossa, se lermos bem.
Só para recordar: a falência do Lehman Brothers, o banco de negócios americano, foi o coroar da crise do imobiliário, que por sua vez foi o coroar de uma vigarice em cascata do tipo Dona Branca à escala de biliões – o tal subprime – que se estendeu de Nova Iorque a Londres e provocou as crises gravíssimas no sul da Europa, em particular na Grécia e em Portugal – com a organização de alcateias chamadas de troika, que vieram esfolar e comer os rebanhos com as medidas ditas de austeridade, reajustamento e reestruturação, que deixaram um rasto de destruição que se mantém até hoje.
As hienas do Lehman Brothers passaram à história como as que abriram a porta à crise de 2008. O ano do chiqueiro, se os anos tiverem direito a cognome. Se há anos santos e do jubileu! Pelo que se sabe agora, um ano de glória para o capitalismo!
A festa – um party, claro – está marcada para 15 de Setembro, em local secreto. Dada a popularidade dos celebrantes. As hienas foram convidadas para um jantar com canapés e cocktails – quase certamente de sangue. A celebração foi anunciada no site Finantial News, para celebrar os 10 anos do sucesso da crise financeira.
No email que os organizadores enviaram a 210 pessoas (sic) estes dirigem-se aos “irmãos e irmãs de Lehman”. E sublinham, candidamente: como é difícil acreditar que dez anos já tenham passado desde os “nossos dias no Lehman”! Adiantam: Que melhor atitude tomar do que festejar o décimo aniversário e reunir todos uma vez mais, do antigo administrador ao antigo analista?”
Surgiram, tímidas, algumas criticas, mas sem grande ênfase. O sistema é mesmo assim. Há os que perderam o emprego, a casa e a pensão de reforma para enfartar estas hienas que causaram um crash financeiro. Mas também é verdade não serem habitualmente convidadas as ovelhas para as festas das hienas, nem dos abutres.
Quem explicou melhor este sentimento de compreensão pela natureza do capitalismo foi o ministro britânico das finanças, na altura do sucesso do Lehaman Brothers em 2008: Seria ridículo impedir, ou criticar uma iniciativa como esta, dizer que não é possível as pessoas (sic) reencontrarem-se. Honestamente (sic), o facto de algumas pessoas (sic, sic) se juntarem para beber um copo de vinho não é o problema mais importante que tenhamos de defrontar nos dias de hoje.” O homem chama-se Alistair Darling. Um Querido!
Por cá, acredito que os accionistas do Observador, e os seus mandaletes, os Gomes Ferreira e Camilos Lourenço de turno, pensam o mesmo. Um copito nunca fez mal a nenhum bandido.
Sai um copo à saúde do Lehman Brothers e das troikas que o alimentaram. Haverá mais, porque é da natureza do capitalismo.
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