No início deste ano e a propósito do Fórum Económico Mundial de Davos, um relatório então apresentado pela OXFAM (Public Good or Private Wealth) revelava que no ano que acabava de terminar se tinha alargado o fosso entre ricos e pobres, pois enquanto a riqueza dos primeiros tinha aumentado 12% a dos segundos tinha caído 11%.
Houve mesmo quem, como o PUBLICO, tivesse chamado a atenção para o facto dos 26 mais ricos terem tanto dinheiro quanto a metade mais pobre da população mundial, número que compara com anteriores trabalhos da mesma organização onde se revelava que os 388 mega-ricos que em 2010 detinham cerca de 50% da riqueza mundial, já estavam reduzidos a apenas 62, em 2016.
Inacreditavelmente e apesar destes números, continuamos a ouvir insistentemente a afirmação da ideia, de que «é cada vez maior o número de pobres que estão a ser tirados da pobreza», esquecendo que aquela situação resulta especialmente da migração dos campos para as cidades e para condições de vida mais inseguras e é repetida vezes sem conta apesar da dura evidência de que, de facto, a metade mais pobre da humanidade perdeu quase metade da sua riqueza, só nos últimos cinco anos.
Este grande embuste é significativo nas suas implicações; não é apenas uma afirmação inegavelmente falsa sobre o sucesso da globalização, mas também uma manobra de encobrimento dos seus resultados. O que é invariavelmente apresentado como um benefício infalível do mercado global revela-se afinal o oposto da realidade. Quando as teorias e os dogmas do mercado colapsam como resultado, que dizer da “teoria do trickle-down economics” (ver o artigo A Utopia do Trickle-down) quando, na verdade, o prometido fluxo para baixo se transformou num fluxo de transferências dos mais pobres para os mais ricos na ordem das centenas de milhares de milhões de dólares?
O que podemos dizer agora da doutrina incansavelmente proclamada de que o mercado global traz “mais riqueza para todos”, quando, na verdade, a irrefutável evidência mostra uma realidade oposta, onde os mais desfavorecidos perderam inegavelmente quase metade de sua participação na riqueza global, enquanto os mais ricos multiplicaram o seu quinhão e onde se comprova que as principais reivindicações morais e económicas que justificam o mercado global são uma enorme mentira que o tempo torna cada vez maior.
O número de multimilionários duplicou desde a crise financeira de 2008 e as suas fortunas cresceram à média de 2,5 mil milhões de dólares por dia (os números são do referido relatório da OXFAM) e, no entanto, as grandes fortunas e as grandes empresas pagam taxas de impostos cada vez mais baixas.
Enquanto o Banco Mundial, o FMI e organizações internacionais congéneres continuam a garantir a redução da pobreza no mundo e os grandes meios de comunicação asseguram nas suas manchetes que a situação tem melhorado para os mais pobres, a maioria destes vêem reduzida a sua qualidade de vida. Na realidade, esses alegados grandes ganhos traduzem-se em insignificantes aumentos de rendimento e no alargamento do fosso para os mais ricos.
A apregoada liberdade capitalista da “globalização” sem fronteiras (sistema económico-financeiro orientado para reduzir o financiamento de todos os sectores e instituições públicas criados para responder ao interesse comum e com os serviços públicos e infra-estruturas condenados a uma situação de falência, não apenas pelas políticas de cortes, privatizações e controle corporativo das políticas públicas e subsídios, mas também por uma crescente evasão fiscal relativamente à qual governos e tratados comerciais nada fizeram nada para corrigir), continua a favorecer os mais ricos enquanto apresenta a contínua privação dos pobres sob a falsa imagem da “redução da pobreza”.
A defesa do interesse individual sobre o interesse geral, conduziu a que os governos que deveriam assegurar a manutenção dos sistemas de apoio à vida social e à defesa ambiental estão agora sistematicamente falidos ou endividados e, sem que muitas vezes se compreenda o porquê, a economia mundial entra em sucessivas e cada vez mais profundas recessões. Enquanto isso continua a fomentar-se a privatização de serviços públicos, em lugar de políticas que privilegiem a disponibilização de serviços públicos e universais de saúde e educação, e mantém-se as opções de baixa imposição fiscal sobre as grandes fortunas e os lucros das grandes empresas multinacionais e pouca ou nenhuma acção real para travar a evasão fiscal.
A globalização em benefício das grandes corporações não está apenas fora de controlo, ela está a colocar em risco toda a organização da vida social e ecológica. A competição global significa, de facto, o desrespeito pelos meios de vida e pela segurança das populações enquanto o meio ambiente é saqueado e poluído numa escala crescente de depredação. E o maior sinal de insanidade é continuarmos a defender e a apresentar como solução a estratégia que nos conduziu a esta situação: o dogma do crescimento infinito num planeta com recursos limitados.
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