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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

A guerra e a síndroma dicromática

Paulo Casaca, em Bruxelas
Paulo Casaca, em Bruxelas
Foi deputado no Parlamento Europeu de 1999 a 2009, na Assembleia da República em 1992-1993 e na Assembleia Regional dos Açores em 1990-1991. Foi professor convidado no ISEG 1995-1996, bem como no ISCAL. É autor de alguns livros em economia e relações internacionais.
  1. A revolução na Europa

Durante duas décadas, a Europa não ouviu os discursos de Putin – que da nostalgia nacionalista evoluiu com o tempo para o delírio imperial – menorizou a expansão militar russa na Geórgia, Ucrânia e Síria; ignorou a ditadura dentro de portas e as mais óbvias ameaças para o exterior. Dias antes da ofensiva russa considerava abandonar a Ucrânia em favor de promessas etéreas de paz. Finalmente, em cinco dias, perante a guerra russa total, percebeu que tinha de mudar de agulha.

Essa mesma Europa que se enfureceu com os apelos de Trump para investir na sua defesa e para não colaborar com Putin no estrangulamento da Ucrânia, e que até ao dia 24 de Fevereiro se recusou a deixar seguir qualquer material de defesa para esse país, fez finalmente a revolução: declarou guerra económica, diplomática e informativa à Rússia; anunciou fornecimento de armas à resistência ucraniana; afirmou querer a adesão europeia da Ucrânia o mais rapidamente possível e fez mesmo saber estar disposta a consagrar verbas do orçamento europeu ao envio de armamento para a Ucrânia.

Mais vale tarde do que nunca, mas convém que neste acordar, tardio, mas energético, se tenham dois pontos essenciais em atenção. O primeiro é que a Rússia é a potência com o maior arsenal nuclear do mundo, algo que Putin não se esqueceu de recordar quando se deu conta das dificuldades que encontrou na sua invasão da Ucrânia. O segundo é que o fanatismo imperial não é monopólio de Putin e é igualmente partilhado por vários outros líderes e é comum a outras ideologias, muito em particular a da Jihad.

No primeiro ponto, há que registar o silêncio de Biden, no seu discurso anual mais importante, sobre as antigas garantias norte-americanas à Europa no quadro da OTAN no caso de ataque nuclear russo – possibilidade que Lavrov tornou ainda mais clara do que Putin.

A Europa parece ter finalmente entendido que a OTAN não faz parte do problema na confrontação com a Rússia; resta-lhe agora entender que a falta de compromisso firme da actual administração americana com a defesa da Europa no quadro da OTAN é, esse sim, um enorme problema europeu.

Na circunstância, o primeiro princípio a reter é que há uma única coisa que seguramente contribuirá para que Putin avance no seu plano nuclear: o pânico na Europa! Quanto ao resto, todo o quadro de defesa tem de estar sobre a mesa e ser pensado por gente competente, apostando num dispositivo de dissuasão eficaz que possa fazer frente às intenções nucleares russas.

Quanto ao segundo ponto, trata-se de ultrapassar a síndroma dicromática europeia – ou seja, a sua incapacidade para ver a várias cores, confundindo o verde com o vermelho, fenómeno típico da doença – passando a entender os vários cenários, os vários protagonistas e as várias ameaças de forma simultânea.

  1. A ameaça da Jihad

Uma notícia da agência noticiosa AP dá-nos conta de uma milionária operação de espionagem e desinformação encomendada pelo Emirato do Qatar à empresa norte-americana ‘Global Risk Advisors’, encimada por um ex-agente da CIA, a fim de silenciar os críticos à escolha do Qatar para o campeonato do mundo de futebol em 2022. A operação terá decorrido em simultâneo com várias outras que tiveram como objectivo subornar decisores favoráveis à escolha do Qatar e que se encontram perante os tribunais norte-americanos.

A maior fragilidade dos EUA é o poder e a liberdade exagerados que são dados ao dinheiro, que se tornaram ainda mais preocupantes desde que, na vigência da administração Obama, desapareceram na prática os meios fundamentais de controlo do financiamento das campanhas políticas, como se explica, por exemplo, neste artigo do Instituto Gatestone.

O problema potencial mais importante que decorre desta situação é a da facilidade com que os inimigos dos EUA se podem concertar com instituições e particulares americanos para influenciar a política do país de acordo com os seus interesses, tema a que dediquei várias análises – esta em especial – no quadro do acordo nuclear irano-americano.

Como assinalei aqui no Tornado na semana passada, tudo indica que a Administração Biden está a colaborar activamente na conquista do mercado europeu do gás pelo Qatar, nomeadamente ignorando o ataque total feito pelo Qatar à exploração de gás em Moçambique.

De forma ainda mais óbvia, é a influência qatari que permite entender a permeabilidade dos decisores políticos americanos aos objectivos da Jihad, e a sua entrega do Afeganistão aos taliban.

Mas não é só nos EUA que a questão se coloca. Utilizando a porosidade americana ao financiamento da Jihad, um número considerável de pretensas ONG e laboratório de ideias independentes ou pretensamente norte-americanos infiltraram-se profundamente nas instituições europeias, usando em regra como cobertura a ‘luta contra a desinformação russa’ e a ‘luta contra a islamofobia’.

Estou convencido que a ‘Global Risk Advisors’ não é a excepção, é uma entre inúmeras instituições formalmente norte-americanas que se dedicam em solo europeu, com cobertura europeia, infiltradas nas instituições europeias, a executar a agenda da Jihad.

A ‘EU-Disinfolab’ organização que surgiu do movimento ‘Je ne suis pas Charlie’ para atacar instituições e pessoas que se tivessem atravessado no caminho da Jihad, usando de uma pretensa capa ‘anti-russa’, é uma das que se encrustaram no tecido europeu e que é essencial extrair se não quisermos ser levados a políticas suicidas, encomendadas pelos inimigos imperiais da Europa.

  1. O vírus e a manipulação em massa

Como nos fomos dando conta, um dos efeitos colaterais da guerra foi o desaparecimento da covidomania, faltando saber se esse desaparecimento não é apenas temporário.

Durante dois anos, uma impressionante máquina de desinformação procurou esconder da opinião pública tudo o que é essencial sobre esse vírus, a começar por ter sido uma criação do homem e não um acidente da natureza.

Tendo aparecido na única cidade chinesa onde existem dois laboratórios equipados para a investigação sobre este tipo de vírus – que na natureza se encontra a enorme distância da cidade – é estatisticamente impossível que a sua origem fosse outra. Fábulas como a do Pangolim, foram desmascaradas como inventadas; o discurso surrealista de que o vírus viria de um mercado de animais vivos justamente vizinho dos ditos laboratórios, mercados dos quais há certamente milhares no país, continua a ser apregoado, apesar da sua inverosimilhança.

Saber se a óbvia fuga laboratorial se deu a partir do vírus tal como existia na natureza ou já a partir de um vírus artificialmente criado é em primeiro lugar uma discussão técnica. Quanto à mesma, limito-me a registar o número enorme de cientistas (grande demais para aqui citar) que apontam para que a fuga tenha sido já de um vírus geneticamente modificado e para a forma como a máquina global de desinformação os procurou silenciar, nomeadamente desacreditando-os.

À discussão técnica junta-se outra que tem maior impacto probatório, que é a conclusão clara, por exemplo, relatada aqui na Newsweek, de que o orçamento americano financiou de forma ilegal engenharia genética do vírus no laboratório de Wuhan.

Neste contexto, é relevante falar da questão do uso do vírus como arma. Que isso não aconteceu neste caso, parece-me evidente. Seria absurdo que a China o deixasse fazer na cidade que é o seu coração industrial e que qualquer outro país o tivesse provocado sem tomar qualquer providência para se defender da praga que tinha lançado.

Que todas as instituições preocupadas com a defesa certamente se debruçaram sobre o potencial uso de vírus como arma, isso também me parece evidente, quer como forma de ataque ou de defesa, e se o não tivessem feito estariam a incorrer em indesculpável negligência.

A imprensa institucional, a fim de lançar a confusão, juntou esta acusação não verosímil de a libertação do vírus ter fins militares, com as bastante mais plausíveis, de a investigação sobre o vírus, como muitos outros, acidentalmente propagado, ter o negócio das vacinas como motor. Toda a informação disponível, e nomeadamente os meios faraónicos colocados ao serviço da desinformação do milagre das vacinas, e de perseguição em quem nele não acreditou, leva a considerar como altamente provável esta última possibilidade.

A agressão que foi feita à saúde, ao bem-estar, aos direitos dos cidadãos e às economias, em nome deste milagre, não tem paralelo na história recente da humanidade. Os vacinómanos – que começaram por inverter a linguagem acusando de negacionismo todos os que duvidaram dos disparates que apregoaram e de ‘antivax’ todos os que duvidaram da capacidade milagrosa da substância – mudaram a um ritmo alucinante o seu discurso.

Primeiro, as vacinas davam protecção a 95%, depois, perante o desmentido feito pela realidade, já não dariam protecção, mas diminuiriam a agressividade do germe, levando também a uma menor mortalidade.

Mas mesmo esta versão seria facilmente verificável se as autoridades fizessem algo muito simples, que é a produção de estatísticas de mortalidade no último ano, por faixa etária e por período de tempo, de três grupos de pessoas, (1) não vacinados; (2) parcialmente vacinados e (3) totalmente vacinados.

Se alguma vez os vacinómanos e outros covidistas que tomaram o poder nas nossas sociedades estão seguros do que dizem, já teriam produzido essas estatísticas e provado como o seu produto salvou vidas, em vez de passarem a vida com episódios avulsos a tentar mandar poeira para os olhos da opinião pública.

Em qualquer caso, as pretensas vacinas, revelaram-se absolutamente incapazes de prevenir contágios, a tal ponto que a desinformação institucional covidista já nem sequer tenta sustentar este ponto, que seria o único a justificar qualquer obrigatoriedade do uso desses produtos confusamente denominados de ‘vacinas’.

Quanto à única pretensão que ainda não foi abandonada pelo arsenal de propaganda, a de que as ditas vacinas que não impedem a doença nem o contágio, tornariam o vírus menos virulento, é significativo que nenhuma análise estatística que siga os passos elementares para ser levada a sério tenha sido feita.

Mas mesmo que esse exame venha a ser feito e venha a dar resultados positivos às vacinas, o discurso oficial continuaria a ser absurdo. É consensual que a aspirina ou o paracetamol podem melhorar o estado de saúde de pessoas constipadas ou engripadas, mas ainda ninguém se lembrou de lhes dar por essa razão o estatuto de ‘vacinas’ e de os tornar obrigatórios.

A partir do momento em que se tornou evidente, mesmo para os mais fanáticos, que as chamadas vacinas não tinham qualquer impacto na prevenção da transmissão do vírus, é surrealista que se tenha continuado a insistir na sua obrigatoriedade.

A China de Xi e as Filipinas de Duterte foram os países que mais zelosamente impuseram o covidismo em todo o mundo. Duterte, o ditador que assassinou milhares de pessoas por serem alegadamente drogados, notabilizou-se pela brutalidade do seu covidismo, mas a sua acção foi ignorada pela imprensa institucional para não desmentir a fábula de que era a extrema-direita que se opunha à vacinomania.

Do que se passou até hoje neste domínio, confirma-se o que se vê noutros temas: o poder irrestrito do dinheiro é um enorme perigo para a humanidade; mas há algo de novo profundamente perturbante e que é o facto de os dirigentes políticos tidos como mais liberais dos países igualmente tidos como mais liberais – Macron em França, Trudeau no Canadá, Biden nos EUA, Morrison na Austrália, Ardern na Nova Zelândia ou Rutte nos Países Baixos – terem sido os émulos mais perfeitos do totalitarismo de Xi ou de Duterte.

O vírus do totalitarismo provou ser de dispersão mais fulminante do que qualquer um de nós poderia ter imaginado. É isso, o que me parece mais preocupante neste quadro de ameaças a cores diversas. A conquista das sociedades democráticas pelo seu interior, através de máquinas infernais de terror desinformativo, aparece hoje como a ameaça maior que pesa sobre nós.

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