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João de Sousa

Domingo, Novembro 3, 2024

A humanidade luta para construir o mundo novo onde predomine o amor

Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Jornalista, assessor do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo

Nesta edição, as três canções selecionadas constam da trilha sonora do filme Marighella (2019), de Wagner Moura. Elas reforçam a sensação de ação e de chamamento para a resistência. Como canta Gonzaguinha (1945-1991) sobre a tentativa de apagar da história a resistência contra a ditadura (1964-1985) .

“Uma crença num enorme coração/Dos humilhados e ofendidos/Explorados e oprimidos/Que tentaram encontrar a solução/São cruzes sem nomes, sem corpos, sem datas/Memória de um tempo onde lutar por seu direito/É um defeito que mata” (Pequena Memória Para Um Tempo sem Memória).

Pela memória dos que tombaram em defesa da liberdade e da justiça, essas canções comovem tanto quanto levam a reflexões sobre a atualidade e a necessidade de enterrar o fascismo de vez. Mais uma vez aprecie sem nenhuma moderação e se puder assista ao filme de Wagner Moura.

Nação Zumbi

O grupo pernambucano Nação Zumbi e Chico Science (1966-1997) com seu som singular cantam que “O medo dá origem ao mal/O homem coletivo sente a necessidade de lutar/o orgulho, a arrogância, a glória/Enche a imaginação de domínio/São demônios, os que destroem o poder bravio da humanidade”.

“Modernizar o passado
É uma evolução musical
Cadê as notas que estavam aqui
Não preciso delas!
Basta deixar tudo soando bem aos ouvidos
O medo dá origem ao mal
O homem coletivo sente a necessidade de lutar
o orgulho, a arrogância, a glória
Enche a imaginação de domínio
São demônios, os que destroem o poder bravio da humanidade
Viva Zapata!
Viva Sandino!
Viva Zumbi!
Antônio Conselheiro!
Todos os panteras negras, Lampião, sua imagem e semelhança
Eu tenho certeza, eles também cantaram um dia”

Monólogo ao Pé do Ouvido (1994), de Chico Science; canta Nação Zumbi

 

Racionais MCs

Já o grupo da periferia de São Paulo, Racionais MCs homenageia Marighella com esse rap.  Suas canções têm melodias e poesias fortes, marcantes. Aqui o grupo canta que “nosso lema é unir as forças revolucionárias/(Em qualquer parte do Brasil, compatriotas de todas partes/Podem surgir dos bairros, das ruas, dos conjuntos residenciais/Das favelas, mocambos, malocas e alagados/A missão de todos os revolucionários é fazer revolução”.

“Carlos Marighella
Carlos Marighella essa mensagem é para os operários de São Paulo
Da Guanabara, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Rio Grande Do Sul
Incluindo os trabalhadores do interior
Para criar o núcleo do exército de libertação
Carlos Marighella, Carlos Marighella
Carlos Marighella (Carlos Marighella) o poder pertence ao povo
(Carlos Marighella) nosso lema é unir as forças revolucionarias
(Em qualquer parte do Brasil, compatriotas de todas partes
Podem surgir dos bairros, das ruas, dos conjuntos residenciais
Das favelas, mocambos, malocas e alagados
A missão de todos os revolucionários é fazer revolução
Cada patriota deve saber manejar sua arma de fogo
(Carlos Marighella) aumentar sua resistência física (Carlos Marighella)
O principal mesmo para destruir seus inimigos é aprender a atirar
(Carlos Marighella)
Carlos Marighella, atenção, atenção, atenção
A postos para o seu general
Mil faces de um homem leal (vamo! Oi!)
A postos para o seu general
Mil faces de um homem leal
Protetor das multidões
Três encarnações de célebres malandros
De cérebros brilhantes
Reuniram-se no céu
O destino de um fiel, se é o céu o que Deus quer
Consumado, é o que é, assim foi escrito
Mártir, o mito ou Maldito sonhador
Bandido da minha cor
Um novo Messias
Se o povo domina ou não
Se poucos sabiam ler
E eu morrer em vão
Leso e louco sem saber
Coisas do Brasil, super-herói, mulato
Defensor dos fracos, assaltante nato
Ouçam, é foto e é fato a planos cruéis
Tramam 30 fariseus contra Moisés, morô
Reaja ao revés, seja alvo de inveja, irmão
Esquinas revelam a sina de um rebelde, óh meu
Que ousou lutar, honrou a raça
Honrou a causa que adotou
Aplauso é pra poucos
Revolução no Brasil tem um nome
Vejam o homem
Sei que esse era um homem também
A imagem e o gesto
Lutar por amor
Indigesto como o sequestro do embaixador
O resto é flor, se tem festa eu vou
Eu peço, leia os meus versos, e o protesto é show
Presta atenção que o sucesso em excesso é cão
Que se habilita a lutar, fome grita horrível
A todo ouvido insensível que evita escutar
Acredita lutar, quanto custa ligar?
Cidade chama vida que esvai por quem ama
Quem clama por socorro, quem ouvirá?
Crianças, velhos e cachorros sem temor
Clara meu eterno amor, sara minhas dores
Pra não dizer que eu não falei das flores
Da Bahia de São Salvador Brasil
Capoeira mata um mata mil, porque
Me fez hábil como um cão
Sábio como um monge
Antirreflexo de longe
Homem complexo sim
Confesso que queria
Ver Davi matar Golias
Nos trevos e cancelas
Becos e vielas
Guetos e favelas
Quero ver você trocar de igual
Subir os degraus, precipício
Ê vida difícil, ô povo feliz
Quem samba fica
Quem não samba, camba
Chegou, salve geral da mansão dos bamba
Não se faz revolução sem um fura na mão
Sem justiça não há paz, é escravidão
Revolução no Brasil tem um nome
A postos para o seu general
Mil faces de um homem leal
A postos para o seu general
Mil faces de um homem leal
Nessa noite em São Paulo um anjo vai morrer
Por mim e por você, por ter coragem de dizer
Todos nós devemos nos preparar para combater
É o momento para trabalhar pela base
Mais embaixo pela base
Chamemos os nossos amigos mais dispostos
Tenhamos decisão
Mesmo que seja enfrentando a morte
Por que para viver com dignidade
Para conquistar o poder para o povo
Para viver em liberdade
Construir o socialismo, o progresso
Vale mais a disposição
Cada um deve aprender a lutar em sua defesa pessoal
Aumentar a sua resistência física
Subir ou descer
Numa escada de barrancos
A medida que se for organizando a luta revolucionária
A luta armada, a luta de guerrilha
Que já venha com a sua arma
(Atenção)
Muito obrigado Marighella pela sua participação (Carlos Marighella)
Muito obrigado Carlos Marighella
Carlos Marighella
Eh Marighella agradecemos-lhe pela sua participação para o Brasil
Que com estes princípios se pode obter as mudanças
Carlos Marighella hoje vem para falarmos a cerca da conferência da Orla
Marighella que impressões você teve da conferência
Marighella em que outro aspecto você considera importante
Entre os vários temas tratados na conferência da OLAS?
Marighella e sobre a questão da tomada do poder pelas forças revolucionárias
Também discutida na OLAS?
O que você tem a dizer a respeito?Marighella, passando a outro ponto
Muito obrigado Marighella pela sua colaboração com o nosso programa!

Mil Faces de Um Homem Leal (Marighella, 2012), de Mano Brown; canta Racionais MCs

 

Gonzaguinha

Como um dos grandes nomes da MPB, o carioca Gonzaguinha mostra toda a sua força poética com esta poesia cantada de modo pujante. No filme, leva às lágrimas. Afinal são memórias “de um tempo onde lutar por seu direito é um defeito que mata”.

Memória de um tempo onde lutar
Por seu direito
É um defeito que mata
São tantas lutas inglórias
São histórias que a história
Qualquer dia contará
De obscuros personagens
As passagens, as coragens
São sementes espalhadas nesse chão
De Juvenais e de Raimundos
Tantos Júlios de Santana
Uma crença num enorme coração
Dos humilhados e ofendidos
Explorados e oprimidos
Que tentaram encontrar a solução
São cruzes sem nomes, sem corpos, sem datas
Memória de um tempo onde lutar por seu direito
É um defeito que mata
E tantos são os homens por debaixo das manchetes
São braços esquecidos que fizeram os heróis
São forças, são suores que levantam as vedetes
Do teatro de revistas, que é o país de todos nós
São vozes que negaram liberdade concedida
Pois ela é bem mais sangue
Ela é bem mais vida
São vidas que alimentam nosso fogo da esperança
O grito da batalha
Quem espera, nunca alcança
Ê ê, quando o Sol nascer
É que eu quero ver quem se lembrará
Ê ê, quando amanhecer
É que eu quero ver quem recordará
Ê ê, não quero esquecer
Essa legião que se entregou por um novo dia
Ê eu quero é cantar essa mão tão calejada
Que nos deu tanta alegria
E vamos à luta.

Pequena Memória Para Um Tempo Sem Memória (1981), de Gonzaguinha


Texto em português do Brasil

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