Humildade. Confundida quase sempre com servidão e subserviência, ela é, ao contrário e sobretudo, independência e liberdade interior que nasce das profundezas do espírito, apoiando-lhe a permanente e incessante renovação para o bem.
Sempre que genuína e sincera, ela reflete, diariamente, e no contacto com os outros, o rumo e a essência das nossas próprias ações. Sem que nos apercebamos, quando nos dirigimos aos outros, mesmo que para simples opiniões, em torno de sucedidos triviais do quotidiano, estamos colocando o nosso modo de ser no que dizemos; ao proferirmos frase superficial que seja e sem importância, estamos a derramar o conteúdo moral e ético do nosso coração naquilo que dizemos; em qualquer referência determinada, estamos a apontar o rumo das nossas inclinações e demonstrarmos os interesses que nos regem a vida íntima.
Todas as nossas ideias e comentários, atos e diretrizes, partem de nós ao encontro do outro, como sementes lançadas em direção aos demais, e tudo quanto sentimos, falemos e realizemos, é substância real da nossa passagem e mensagem deixada aos outros, sendo que é pelo que fazemos que a lei de causa e efeito, seja na Terra ou noutros mundos, nos responde na exata medida.
É no cultivar da justiça e do amor, na compreensão e na bondade, que se faz sentir e revestir as boas ações e as soluções que nem sempre são as mais fáceis ou as mais agradáveis. E nos perigosos e escorregadios deslizes do oportunismo e dos fingimentos, exige de nós um esforço maior de nossa melhoria interior, de modo a que a segurança, o equilíbrio, a saúde e a estabilidade façam parte integrante da nossa personalidade e do nosso íntimo, sem permitir a ambiguidade nas palavras ou nas atitudes.
Se assim agirmos, conscientes e responsáveis, a noção de justiça e de retidão nos regerá o comportamento, apontando-nos o dever para connosco e para com todos os que nos rodeiam, na edificação da harmonia comum de que nós e cada um fazemos parte.
Além do mais, e na verdade, se assim agirmos, aprendemos que a felicidade, para ser verdadeira, há-de guardar essência eterna. Pois de que nos servirá o compromisso com as exterioridades humanas, se essas mesmas exterioridades não se fundamentam em nossas obrigações para com o bem dos outros, se a morte não poupa a ninguém? Nas realidades que norteiam a vida espiritual é que receberemos o retorno de tudo o que durante a jornada terrena emitimos para os outros; e se emitimos para os outros, emitimos para nós mesmos.
Não basta, pois, para nenhum de nós o imediatismo de apenas do hoje. É preciso saber que se estamos pensando, sentindo, falando ou agindo para o contentamento de agora, seja também para o contentamento depois.
Assim, na humildade, jamais alardeemos o que possuímos, de material ou outro, pois que nada, no fundo, nos pertence, e à falta dela, negamos o evidente, que é a nossa pequenez diante do Universo e das realidades fundamentais da vida, dando origem a doentias cristalizações de sentimento, quais sejam o orgulho e a vaidade, o egoísmo e a discórdia em todas as direções.
Por opção do autor, este artigo respeita o AO90
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