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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

A IA e rendimento universal

Arnaldo Xarim
Arnaldo Xarim
Economista

Desde os tempos imemoriais da introdução da agricultura e da sedentarização, passando pela invenção da imprensa ou da máquina a vapor e pela mais recente Internet, todos os avanços tecnológicos tiveram consequências socioeconómicas marcantes que deram lugar a profundas alterações na sociedade, pelo que será de esperar que o desenvolvimento e a expansão da Inteligência Artificial (IA) não represente uma excepção àquela norma.

É desde já previsível que entre os mais afectados por esta “novidade” se contem os licenciados (e entre estes os mais jovens, cujas condições de trabalho já estão longe de serem óptimas), que serão as primeiras vítimas de uma automatização do trabalho que agravará os vários tipos de desigualdade (rendimento, género e habilidades) e que deverá acelerar a decadência das conquistas sociais no Ocidente.

O Employment Outlook 2023, um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) aponta que em Portugal o impacto da IA no mercado de trabalho poderá ser tão relevante a ponto de a automação poder afetar 30% dos empregos, valor acima dos 27% da média dos países da OCDE.

A par com este, o igualmente recente estudo “A Moralidade da Inteligência Artificial em Portugal”, da NOVA Information Management School (NOVA IMS) conclui que a maioria dos portugueses (o universo observado foram 466 consumidores portugueses de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os 18 e os 67 anos, residentes em Portugal e com acesso à internet) não encara a inteligência artificial como sendo moral, segura, justa ou leal. A notícia conclui ainda que os entrevistados admitem duvidar da sua inocência, solidariedade ou empatia.

Apesar das muitas dúvidas e reticências, a profunda mudança nas relações de trabalho que se avizinha deverá condicionar os próprios governos, podendo até deixá-los sem outra escolha senão a de considerar esta nova realidade nas suas políticas económicas, numa conjuntura de inflação elevada e quando se registam fortes quebras nos salários reais (como confirma o estudo da própria OCDE, que mostra que apenas 4 dos 37 países observados não registaram quebras e mais de 30% situaram-se acima da média)…

…pelo que não será displicente admitir que alguns governos possam começar a olhar com maior atenção para a ideia da implementação de um rendimento universal (também designado como rendimento básico incondicional e que não é mais que uma prestação pública, suficiente para uma vida digna e não sujeita a outros condicionalismos, atribuída a cada cidadão), com outro cuidado e atenção. O número de apoiantes deste conceito está a crescer regularmente e começa já a incluir algumas figuras influentes, especialmente desde a crise da Covid e o comprovado aumento da desigualdade que ela provocou, além de que a ideia é particularmente popular entre a geração mais jovem, pelo que o mero tacticismo eleitoral a poderá transformar num projecto importante nos próximos anos. Tão importante que já estão em curso testes em Inglaterra, que se seguem a outros realizados em Espanha e na Alemanha, mesmo depois do relativo insucesso atribuído a um ensaio realizado na Finlândia, que consistiu no pagamento mensal a um grupo de desempregados e que foi julgado desanimador por não ter aumentado a procura de emprego.

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