A posição do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que levou o governo daquele país à paralização parcial, dá bem a medida da sua insensatez ao tratar da grave crise imigratória, especialmente essa em suas fronteiras.
O problema se deve à queda de braço entre Trump, eleito pelo Partido Republicano, e a oposição representada pelo Partido Democrata, que atualmente controla a Câmara dos Representantes (a Câmara dos Deputados). O presidente se recusa a aprovar parte do orçamento federal sem os recursos da ordem de US$ 5,7 bilhões (R$ 21,15 bilhões) para a construção de um muro na fronteira com o México, uma de suas principais promessas de campanha.
Essa já é mais longa paralisação da história. Seus efeitos são sentidos por todo o país, mas nem por isso Trump emite sinais de que pode abrir mão do seu propósito. O presidente dos Estados Unidos interpreta a radicalização do sistema que vê nos imigrantes a causa e não os efeitos da exacerbação da criminalidade e de outras mazelas sociais em seus países de origem. Seus ideólogos não lamentam as ruínas que semeiam; ao contrário, se orgulham do que fazem. E tentam erguer muros em torno de seus limites, deixando os “bárbaros” de fora. No caso do México, já existe um muro, construído pelos Estados Unidos, de 3 mil quilômetros onde morrem aproximadamente 500 pessoas por ano tentando ultrapassá-lo.
A dominação mundial desse sistema se dá com uma espécie de rede gigantesca de transações financeiras e de negócios, cobrindo os continentes mais do que as nações, ignorando fronteiras e se ligando diretamente aos centros financistas espalhados em todas as latitudes. Tentam submeter os organismos internacionais aos seus ditames e quando não conseguem simplesmente passam por cima da sua autoridade, como fez o ex-presidente George W. Bush, também republicano, com a Organização da Nações Unidas (ONU)n para invadir o Iraque.
O resultado é a disseminação da pobreza e da violência social, as causas principais do crescimento de imigrantes sobretudo da América Central que marcham para a fronteira dos Estados Unidos. Há algum tempo, um relatório da Secretaria de Integração Econômica da América Central indicou que cerca de 16 milhões dos 40 milhões de pessoas da região vivem em condições de plena pobreza, o que poderia levar — como de fasto levou — a crise financeira a transforme-se em crise humanitária.
Segundo o cientista político Moniz Bandeira, a dinâmica econômica de quase todos os países da América Central está na órbita norte-americana e alguns deles dependem das remessas de imigrantes que vivem nos Estados Unidos. Milhões de imigrantes desses países e do México — os que conseguiram sobreviver à travessia ilegal da fronteira — trabalham sem documentos; a maioria são pessoas separados de suas famílias já há muito tempo. Em geral, eles não têm profissão e se submetem a condições de trabalho extenuantes, frequentemente desumanas.
Para Donald Trump e seus seguidores, nada disso conta como causa do problema. Não faz parte da ideologia do seu sistema uma visão da crise imigratória que contemple suas causas reais. Não há, em seu universo de argumentos, uma explicação plausível para o motivo de milhares de centro-americanos atravessar o México em caravanas para fugir da miséria e da violência. Assim como não se busca os motivos também para as cenas de sírios ou africanos que tentam chegar à costa europeia. Para Trump, trata-se de uma mera “invasão”, algo que justificaria o tratamento desumano dispensado a essas pessoas; o governo dos Estados Unidos chegou a separar menores que viajaram com seus pais para prendê-los em espécies de jaulas.
A experiência recente da América Latina mostra que só uma alternativa à ideologia da famosa “Doutrina Monroe”, cujo slogan é a “A América para os americanos”, pode mudar esse perfil dos extratos sociais dos quais saem as ondas de imigrantes. A região, mais uma vez submetida ao modelo de dependência que causa a depauperação de grandes parcelas da sua população, experimentou a via das relações diplomáticas e econômicas baseada na multilateralidade e na união regional, com êxitos inegáveis. Há também outras experiências bem-sucedidas nesse sentido, sobretudo a China de Deng Xiaoping e seus camaradas. O desafio que se impõe é o da resistência, com a perspectiva da restauração da soberania e da independência latino-americana.
Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado