A Turquia é um dos países que neste momento mais fomenta a guerra contra a informação isenta e livre.
231 jornalistas foram presos somente após 15 de julho de 2016. De acordo com o grupo de advogados da Suécia, Stockholm Center for Freedom, que pesquisa e segue casos de processos contra jornalistas turcos, no ano de 2018, 122 destes jornalistas receberam uma sentença de prisão, sentenças muito pesadas.
Erdogan e seu filho estavam na mira de investigações por suspeita de corrupção há três anos atrás.
Em dezembro de 2013 a polícia turca prendeu os filhos de três ministros e pelo menos 34 outros em ataques orquestrados que representaram o maior ataque à autoridade do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan, desde protestos em massa contra seu governo no verão de 2012.
ver Turkish ministers’ sons arrested in corruption and bribery investigation
Isso provocou uma investida contra jornais e jornalistas e escritores que transformaram a Turquia no país do mundo que mais jornalistas prendeu e mantém presos. Foram fechados jornais independentes, que denunciavam a política do regime turco, especialmente sua política de intromissão na crise da Síria e a agressão turca aos territórios sírios.
Jornalistas turcos exigem que o regime de Erdogan liberte imediatamente seus colegas e escritores presos por não apoiarem Erdogan, especialmente a ofensiva turca contra a Síria. Não apoiam e denunciam.
Na feira internacional de livros de Frankfurt, os jornalistas afirmaram que nunca esqueceriam seus colegas, vítimas das políticas opressivas de Erdogan.
Há dois meses, Erdogan deu uma rara entrevista para jornalistas de todo o Pais, em Istambul.
Por irónico que pareça Erdogan afirmou que a liberdade de imprensa era de “importância vital” para ele. Não é ironia. É cinismo.
Alguns dos alvos da perseguição contra a liberdade de imprensa
Can Dundar foi um dos editores de jornais mais importantes da Turquia, o Cumhuriyet. Jornal laico de centro-esquerda que investigava com frequência as políticas do governo no poder. Agora Can Dundar vive em Berlim. Tinha sido preso em dezembro de 2015 na Turquia natal por publicar uma história expondo a entrega de armas pelos serviços secretos turcos (National Intelligence Organization ou abreviada MIT) a grupos terroristas infiltrados na Síria. Condenado a seis anos com a acusação de revelar segredos de Estado.
A 6 de maio de 2016, houve uma tentativa de assassínio contra ele, testemunhada por vários jornalistas, em frente ao tribunal de Istambul, onde Dündar acabava de se defender de acusações de traição. O agressor foi impedido de levar a atentado a cabo pela esposa de Dündar e por um membro do parlamento, Muharrem Erkek, antes de disparar mais tiros. O agressor foi preso pela polícia à paisana.
No mesmo dia, Dündar foi condenado a prisão por cinco anos e 10 meses por “fornecer informações secretas do estado”. Mudou-se para a Alemanha em junho de 2016 pois tinha deixado de confiar no sistema judicial turco, após a prisão de milhares de juízes e procuradores do ministério público, a mando do regime de Erdogan. Em agosto de 2016, deixou o cargo de editor-chefe em Cumhuriyet e anunciou que continuaria como colunista no jornal. Um mandado de prisão à revelia foi emitido contra ele na Turquia em 31 de outubro de 2016.
Conhecido intelectual turco Dündar escreveu para vários jornais, produziu muitos programas de televisão para a TRT estatal e vários canais privados, incluindo CNN Türk e NTV, e publicou mais de 20 livros.
O jornal Zaman também foi fechado durante as perseguições efetuadas pelo governo turco após a tentativa de golpe de 2016.
O Zaman, era um grande jornal diário na Turquia. Com enormes edições antes da apreensão e encerramento pelo governo turco governo em 4 de março de 2016. Fora fundado em 1986 e foi o primeiro diário turco a ficar online em 1995.
Outro preso foi o jornalista Hakan Demir do site Daily Birgun. Demir também foi preso porque se manifestou contra à agressão turca nas terras sírias.
O Ministério Público de Istambul proibiu reportagens e comentários sobre o ataque militar da Turquia ao norte da Síria.
Perseguidos não foram só os jornalistas e a imprensa:
Após o golpe de 15 de julho de 2016 houve uma drástica limpeza política dos serviços públicos turcos.
O presidente Erdoğan avisou os seus opositores de que “eles pagariam muito caro pelo golpe.
E pagaram.
O New York Times, o The Economist, e outros grandes jornais ocidentais descreveram esta “limpeza” como um “contra-golpe”, com o Times a declarar que esperava que o presidente “se torne mais vingativo e obcecado com o controle de tudo e todos, explorando a crise não apenas para punir soldados rebeldes, mas para promover anular qualquer oposição na Turquia “. Em 20 de julho de 2016,já tinham sido acusados, demitidos, afastados mais de 45.000 oficiais militares, policias, 2700 juízes, governadores e funcionários, 15.000 professores e todos os reitores de universidades do país.
Conclusão: há golpes militares que vêm mesmo a calhar para os candidatos a ditadores.
Como foi o caso na Turquia e será o caso na Bolívia. Permitem que de seguida o cutelo afiado da vingança acabe com quem queira fazer oposição ao regime vitorioso. Até parece que há golpes militares encomendados a preceito.
Por opção do autor, este artigo respeita o AO90