Foi inesperado o acolhimento dado, pelos leitores do Jornal Tornado, ao meu artigo de estreia.
Desconhecia eu o alcance desta publicação online; fiquei feliz com a sua dimensão que prova onde está realmente a força da imprensa neste momento e também acentua onde se escreve o presente com visão de futuro; e duplamente surpreendido pelos comentários que recebi.
Uma das mais atentas das notas ao que escrevi, assinada por uma leitora, sublinhava que Kierkegaard, o existencialista que eu citava largamente, era autor de uma das frases mais sábias de sempre (“Pode estabelecer-se um sistema da lógica; não pode, em momento algum, conceber-se um limite da existência”), e acrescentava que se tratava de um autor inquietante.
A frase, por si só, inquieta-nos, realmente. Analisá-la daria um debate para filósofos. Não é o que aqui se pretende. Mas, usando-a, posso dizer que foi uma das ideias que esteve presente quando fundámos o Observatório para a Liberdade Religiosa.
Provavelmente, ainda não saberão o que é o OLR.
Resultado da mobilização de um grupo de cidadãos, o Observatório para a Liberdade Religiosa apresentou-se ao público há mais de um ano.
A intenção principal é simples: observar o fenómeno religioso, a sua prática, o que desenvolve e aquilo que eventualmente o limita e persegue – para que o cidadão possa, em liberdade, ter a sua religião sem barreiras ou obstáculos, não pagando preços de intolerância nem fazendo-os cobrar. Em suma, tendo como principal missão a observação do Fenómeno Religioso, no respeito pelo princípio das liberdades associativa, individual e de consciência.
Promovendo iniciativas próprias e/ou estabelecendo parcerias, o OLR tem ainda como missão acompanhar e facilitar processos de diálogo cultural, especificamente o diálogo entre estruturas de crença, na forma de religiões e/ou espiritualidades, promovendo o respeito pelas diferenças e a responsabilidade social, para uma cidadania plena e activa. Cruzando conhecimento e informação, o OLR facultará às comunidades religiosas, à academia e à sociedade em geral, mecanismos de identificação, sinalização e análise do Fenómeno Religioso, em defesa da Liberdade Religiosa e baseado na Carta dos Direitos do Homem (uma carta que, infelizmente, só faz sentido numa parte reduzida do mundo em que vivemos). Como estrutura independente ao serviço do pluralismo cultural, o OLR reúne e emite sínteses de actividade, tornando público um relatório anual.
O OLR reconhece a complexidade do Fenómeno Religioso, o valor das diferentes culturas religiosas e ou espirituais e planos de consciência, o desafio do diálogo, o estímulo às práticas de cidadania a partir da observação dos direitos e deveres inerentes à Liberdade Religiosa, a importância do estudo e disseminação da Ciência das Religiões, bem como da produção de conhecimento isento relativo ao Fenómeno Religioso em todos os escalões de ensino reconhecidos oficialmente.
Tenho um orgulho verdadeiro por ser, ao lado de Joaquim Franco, um dos dois coordenadores do OLR, instituição onde todos os dias aprendemos que “Pode estabelecer-se um sistema da lógica; não pode, em momento algum, conceber-se um limite da existência”.
[…] A liberdade religiosa e as sombras do Apocalipse […]