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João de Sousa

Domingo, Dezembro 22, 2024

A magia da Sétima Arte

Delmar Gonçalves, de Moçambique
Delmar Gonçalves, de Moçambique
De Quelimane, República de Moçambique. Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora (CEMD) e Coordenador Literário da Editorial Minerva. Venceu o Prémio de Literatura Juvenil Ferreira de Castro em 1987; o Galardão África Today em 2006; e o Prémio Lusofonia 2017.

Quero voltar a choramingar nos CINEMAS.Confesso sinceramente que tenho muitas saudades disso mesmo: lacrimejar nos CINEMAS. Cinemizar o choro.

Uma espécie de desforra com a vida quotidiana onde hoje quase tudo é plástico, descartável e artificial, quando não é profundamente dramático e trágico.

Vocês não têm saudades de sofrer saudavelmente sem consequências? De descarregar baterias da vida descontraidamente numa qualquer confortável cadeira? Eu tenho saudades.

Que é feito da magia cinematográfica lacrimosa? Que é feito do sentimentalismo? Que é feito do drama? Não é moda?

O que mais me deprimiu no século XX e me deprime neste século XXI é a manifesta incapacidade dos Realizadores, Guionistas, Produtores, Actores e Actrizes mundiais fazerem melodramas ou dramas dignos desse nome.

Embora saiba de antemão que o desaparecimento gradual e acelerado das salas de CINEMA clássicas é uma realidade irreversível e dramática. Sinal dos novos tempos, diz-se.Melhores?Nem por isso! Sem magia? Talvez. Diferentes certamente.

Será porque a vida real já é em si tão melodramática ou dramática? Julgo não ser por falta de guiões ou histórias/estórias: é que o melodrama ou drama não se compadece com o simples politicamente correcto, com o banal, com o rotineiro. Autoflagelação secreta? Autocensura? Masoquismo?

Um bom melodrama ou drama nunca pode ter vergonha do que é. Tem de se assumir claramente. É o que é.

Ser melodramático não é ser fraco, pelo contrário! O melodrama tem de sair bem lá do fundo das gavetas do melodrama, das entranhas do melodrama. O drama tem de sair do bolso do drama, não é?As gavetas do coração abarrotariam, não é?

Um bom cinéfilo tem que ser lamechas, tem que lacrimejar orgasmicamente de prazer, tem que apreciar o sentimentalismo lamechas.

Quando decidi que o cinema já não me faria lacrimejar (por influências modernas, pois claro), eis que vi e revi uma vez mais antigos filmes dos anos de ouro de Bollywood (“SHOLAY – FOGO REAL”, “YAADON KI BAARAAT – PASSADO INESQUECÍVEL”, “DEEWAAR – DESTINOS DIFERENTES”, “ZANJEER – AS ALGEMAS”) e de Hollywood revi “JOHNNY GUITAR”, “DUELO AO SOL” e “HELENA DE TRÓIA”. Quem diz que os filmes de Bollywood são infantilóides jamais compreenderá o espírito da criança pura que ainda habita em nós com a poesia da utopia ou não perceberá certamente nunca o verdadeiro significado de ser adulto ou, ainda vagamente, a simples alegria de choramingar lacrimejando copiosa e compulsivamente no CINEMA. Sem dúvida um saudoso hábito saudável.

 

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