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Segunda-feira, Dezembro 23, 2024

A organização da Internacional neofascista

Lejeune Mirhan
Lejeune Mirhan
Sociólogo, professor, escritor e arabista. É também comentarista Internacional, ensaísta e autor de 17 livros, como: Iraque: Relatos de uma ocupação (2003-2007), lançado em 2021; Marx, para principiantes, lançado em 2020 e Palestina: história, sionismo e suas perspectivas, lançado em 2019 (os três publicados pela Apparte Editora)

Em um ensaio meu anterior, fiz uma exposição longa sobre o crescimento da direita neofascista na Europa (1). Em um excelente artigo publicado em O Globo, cujo título é Partido de extrema-direita espanhol articula aliança anticomunista na América Latina (2), a questão neofascista ganha ares mundiais. Neste novo ensaio, procuro mostrar como anda esse crescimento, e uma eventual ação para esse enfrentamento.

Depois de ler com atenção a citada matéria, pesquisei um pouco mais e percebi que o crescimento da extrema-direita, que é sinônimo de fascismo, não é apenas na Europa, mas é mundial. Este movimento já é forte o suficiente para ficarmos preocupados e apavorados? talvez! Mas, ao final do artigo vou levantar algumas questões de como devemos reagir.

A matéria de O Globo dá conta de um deputado espanhol, presidente de um partido com uma porcentagem no parlamento que, se comparado ao Brasil, seria equivalente a 75 deputados. Nenhum partido aqui tem este número de parlamentares. O PT, com a maior bancada, tem 53. Então, temos que tomar cuidado.

Trata-se do Partido Vox que não é maioria e nem está no governo da Espanha, mas lhe faz oposição extremada pela direita. Ainda que não seja muito grande – tem 15% do parlamento espanhol – é muito perigoso. E essa articulação mundial passa pelo Brasil. Quem visitou o fascista que nos (des)governa no último dia 18 de outubro? Ivan Duque, o fascista que preside a Colômbia, que também está nessa articulação mundial. Eles estão se mexendo.

E nós? Vamos assistir e deixar a história passar na nossa frente? “Lembremos de 1933”, como disse Vladimir Putin em janeiro, em seu discurso virtual em Davos (3). E, o que aconteceu em 1933? O ditador Hitler venceu as eleições com o voto do povo.

As pessoas que integram essa internacional fascista ou neofascista, são extremamente perigosos, pois eles têm armas em casa, ameaçam e matam. Temos então, que redobrar a segurança. O presidente da Argentina (Alberto Fernandez), o presidente do Peru (Pedro Castillo), já estão sob pressão total dos fascistas de seus países. O presidente Lula, por exemplo, tem que redobrar toda a sua segurança.

 

História

Antes de entrar nos detalhes dessa organização internacional, vou contar um pouco da história. Já existe uma organização internacional de direita, é a Internacional Democrática Centrista (4). Eu sabia da sua existência, mas não conhecia em detalhes.

Esta internacional surgiu em 1961, portanto tem 60 anos de existência. Ela filia partidos e não pessoas. Conta com mais ou menos 75 partidos, de 60 países. Até que não é muito, se considerarmos que há cerca de 200 países no mundo, sendo que 193 deles são membros da ONU. Alguns estudos mostram que há mais de 200 países. A Fifa, por exemplo, tem 215 federações nacionais filiadas.

Conferindo a lista dos 60 países, alguns têm mais de um partido filiado a essa Internacional. O Brasil, por exemplo, tem dois: DEM e PSDB. Quando eu lecionava na universidade, traçava na lousa uma linha reta, colocando no meio uma linha perpendicular.

À esquerda dessa linha ficavam os partidos de esquerda e, à direita, os partidos de direita. Eu ia colocando da extrema-direita, centro-direita e centro e do outro lado até a extrema-esquerda. Até antes de eu me aposentar, há alguns anos, não existia um partido fascista no Brasil. O fascista que nos (des)governa, era apenas um obscuro deputado federal.

Na extrema direita do gráfico terminava com PSDB e DEM, este um pouco mais à direita. Eles compunham a extrema-direita brasileira. Nunca os coloquei como fascistas e continuo acreditando que não o são.

O Rodrigo Maia, por exemplo, que saiu do DEM, nasceu no exílio de seu pai, César Maia, que foi do Partido Comunista e foi perseguido pela ditadura. Mas, hoje, Rodrigo Maia é muito ruim politicamente, homem conservador e de direita. Mas, não dá para chamá-lo de fascista.

Ser liberal ou burguês, não significa ser fascista. Fernando Henrique Cardoso não é um fascista. Fugiu no segundo turno de 2018, igual ao Ciro Gomes, mas ainda assim não é fascista. Um covarde, é verdade. Geraldo Alckmin, Alberto Goldman e José Aníbal, indicaram que votaram no Haddad no segundo turno e eu creio nisso. Já, João Doria, não só votou no fascista, como fez campanha para Bolsonaro desde o primeiro turno. Foi a campanha do Bolso Dória.

Em um debate que fizeram dia 19 de outubro, para as prévias do PSDB, Dória e Eduardo Leite – este um neofascista – não disse que tinha se arrependido de votar no Bolsonaro, como fez Dória. Nesse mesmo debate dos pré-candidatos do PSDB à Presidência, em busca da tal da “terceira via” – que não vai ser formada – o governador de SP voltou a falar que se arrependeu e, Eduardo Leite, pela primeira vez, admitiu certo arrependimento. Do Artur Virgílio, não tenho informações, se apoiou ou não o presidente.

A turma do PSDB apoiou Alckmin no primeiro turno, mas foram traídos, inclusive por Dória, que vai pagar um preço elevadíssimo pela traição. Existe um dito político muito famoso que diz: “A política adora a traição, mas abomina o traidor”.

Ela foi dita pela primeira vez por Leonel Brizola dirigindo-se para Dante de Oliveira – ambos já falecidos – quando o ex-governador se aproximou do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso e já estava de malas prontas para trocar o PDT pelo PSDB, no início da década de 1990.

Talvez Dória não consiga a legenda para disputar a Presidência em 2022. E já fez acordo em SP para apoiar seu vice, Rodrigo Garcia, que trocou o DEM pelo PSDB. Mesmo o Dória, não acho que seja fascista. Ele também é filho de perseguido político. Seu pai foi cassado e exilado, que foi o João Agripino da Costa Dória Neto.

Essa internacional de direita – que eles chamam de centrista (sic) –, foi fundada com outro nome, que era Internacional Democrática Cristã. Ela surge sob a égide da influência do Vaticano, reunindo partidos que se apresentam como partidos cristãos.

Quando se fala do Hezbollah, como partido religioso, isso não corresponde à realidade. Ele é um partido político, mas com um nome religioso. Não são só os muçulmanos que podem ser membros, ele é aberto a todos. Eles têm ministros no governo libanês e muitos deputados no parlamento do Líbano.

Aqui no Brasil, entre os 33 legalizados, três têm “cristão no nome”: Partido Social Cristão-PSC; Partido Trabalhista Cristão-PTC e Democracia Cristã-DC. Mas eles não são filiados à Internacional Democrática Centrista.

O atual presidente desta entidade é André Pastrana, que foi presidente da Colômbia, que é um político de direita. Mas, o que é interessante e isso consta na reportagem de O Globo acima citada, é que esta articulação mais à direita fez um evento em Madri, onde está seu foco, e o Pastrana, que preside a outra internacional, fez-se presente, o que provocou um reboliço no campo da direita. Ele acabou recuando, mas vai ter que escolher se fica na entidade que preside ou adere à nova mais à direita.

Ângela Merkel é uma mulher de direita, conservadora, mas não é fascista, e muito menos nazista. Ela pertence a uma Federação Partidária chamada CSU-CDU que governou a Alemanha por 16 anos, com ela como primeira-ministra.

Os dois partidos que se juntaram em uma federação para governar a Alemanha há 16 anos, em suas siglas tem a letra “C” de “cristão” e essa Federação é uma das filiadas à internacional centrista. Outro partido mais expressivo dessa Internacional Centrista é o Partido Popular da Espanha, que tem como líder José Maria Aznar, que foi primeiro-ministro. Um homem de direita mas, aparentemente, não fascista.

E, por fim, um último exemplo, que é o caso do México. Lá existem três grandes partidos na política nacional no campo da direita e da esquerda. O que está hoje no governo é o Movimento de Regeneração Nacional-Morena, do presidente Manuel López Obrador (5). O segundo partido é o Partido Revolucionário Institucional-PRI, que governou o país por 70 anos (6). O terceiro é o Partido de Ação Nacional-PAN, que é filiado à internacional centrista (7).

 

Características do novo movimento

Esse novo movimento, na figura de Santiago Abascal, presidente do Vox (voz), um partido de extrema-direita na Espanha, faz a sua análise da situação política internacional. Abascal quer criar um grupo chamado Foro de Madri, para se contrapor ao Foro de São Paulo (8), uma organização que tem 31 anos de existência.

Lula foi um dos seus fundadores e hoje reúne cerca de 120 partidos comunistas, de esquerda, patrióticos, populares. Não tem nenhum partido de direita entre seus membros. Mas, são apenas das Américas. E tem convidados de fora. Hoje, a secretária executiva do Foro de São Paulo é Monica Valente, do Partido dos Trabalhadores – PT.

Os fascistas têm pavor do Foro de SP. Mas, também querem combater outro grupo, que é o Grupo de Puebla (9), que reúne ex-presidentes, autoridades, intelectuais. Aí, não são partidos, mas pessoas progressistas como Lula, Evo Morales, Rafael Correa, Cristina Kirchner, Alberto Fernandes.

Desta forma, esse novo movimento quer combater o Foro de SP e o Grupo de Puebla. Eles dizem que vários governos da América Latina foram “sequestrados” por regimes totalitários de inspiração comunista. Eu desconhecia que os comunistas estão controlando vários países latino-americanos. Isso é completamente ridículo.

Dizem ainda que “esses governos ou regimes, são apoiados pelo narcotráfico, sob o ‘guarda-chuva’ do regime cubano”. Isto, segundo a análise da extrema-direita. A Cuba de Fidel, uma ilha que só exporta médicos, aparece como a grande cabeça dos governos totalitários da América Latina. É crível uma análise dessa natureza?

Por que eles pensam dessa maneira? Nós – comunistas – não temos esta força que eles apregoam. Mas, o pavor deles é que o povo associa a palavra socialismo a igualdade, a justiça com distribuição de renda e de riqueza, com acesso à propriedade, coisas que a maioria não tem. É este o motivo do pânico deles.

A burguesia, de um modo geral, faz uma defesa ferrenha da propriedade privada. Como bem disse Marx, os comunistas não são contra a propriedade privada pessoal, ter uma casa e um carro. Isso em nada vai influenciar na economia.

Mas então, que tipo de propriedade privada os comunistas são contra e querem socializar? Não é a propriedade individual, mas a propriedade dos meios de produção, que são os “instrumentos (máquinas, prédios, instalações) com o que se produzem os bens para suprir as necessidades da sociedade.

E não falamos mais hoje só sobre a produção de bens materiais, mas também de um novo tipo de bens, assim como, um novo tipo de proletário, que é o chamado bem imaterial, aquele que não se pega, como a educação, cultura, transporte etc.

Eles sabem disso, mas propositalmente, incutem na cabeça das pessoas ideias como: “os comunistas vão tomar sua casa, seu carro”, para promover o ódio a esses. Marx e Engels dizem: “eles se insurgem contra a propriedade individual que, cerca a maioria das pessoas sequer tem”.

E, os poucos que têm, odeiam o sistema socialista que jamais lhes tomará as casas. O duro, é que aqueles que não têm, também são contra este tipo de regime comunista/socialista que, um dia lhes dará a casa. Mas, eles não sabem disso, não têm essa consciência.

Sobre isto, há uma passagem que costumo citar referente ao rompimento de Marx com Feuerbach, que disse em um de seus livros: “pensa-se diferente nos castelos e nos casebres”. Marx diz: “não, pensa-se exatamente igual”. Porque, a ideologia de uma época, é a ideologia da classe que domina política e economicamente aquela época, a burguesia.

Então, o pobre, sem esta consciência de classe, já está começando a perceber isto. Mesmo ainda sem essa força para levar as ideias socialistas para as amplas massas, de certa forma, elas já associam liberdade, igualdade e justiça com o socialismo. Por isso, não sem razão, eles estão em pânico. Por isso seu ódio aos comunistas e quaisquer grupos de esquerda.

Eles também estão em pânico, porque o sistema que eles amam e defendem, o capitalismo no seu modelo financeiro, o pior de todos os modelos, o neoliberalismo está estrebuchando. Outro dia participei de um programa ao vivo no DCM com o professor Luiz Gonzaga Beluzzo.

Fiquei muito honrado, pois já tinha estado com ele antes, mas não diretamente como desta vez. E, uma das perguntas que fiz para ele foi: “o neoliberalismo está ferido de morte?” e sua resposta foi inequívoca: “completamente, é um moribundo, um morto-vivo que sobrevive com aparelhos”.

Eu fiquei muito feliz ao ouvir isto de um autor-professor como ele, com seus inúmeros livros publicados, professor emérito da Unicamp. Eu escrevi um ensaio específico sobre esse tema, bem como tratei disso em várias entrevistas: neoliberalismo, pandemia e perspectivas do mundo (10). Nesse trabalho eu defendo esta tese de que o neoliberalismo não está morto ainda, mas está muito combalido.

Eles, então, estão preocupados e em pânico, porque o sistema se encontra decadente e, ao mesmo tempo, cresce na população esta ideia de justiça e igualdade. Se o verdadeiro cristianismo fosse seguido literalmente com relação ao que está escrito por todos os que se dizem cristãos, o mundo seria completamente diferente. Porque, o cristianismo primitivo é praticamente comunista, pregava a igualdade absoluta.

Eles estão em pânico e uma das suas ações mundiais hoje é de atacar o Papa Francisco para tentar derrubá-lo e, se possível, matá-lo. Esse Papa não é comunista, apesar de ter uma irmã que foi presa e torturada pela ditadura na Argentina. Mas, é um Papa muito avançado politicamente.

Esta é a análise de conjuntura que eles fazem neste momento. E, por isso estão articulando uma internacional que é muito mais à direita do espectro político e ideológico, do que aquela que já existe e que se intitula como Internacional Centrista que, na verdade é de direita, mas não é fascista.

O que nós estamos presenciando no mundo é algo parecido com o que estamos vivendo no Brasil neste momento. O campo do espectro político e ideológico da esquerda, do centro e da direita estão divididos. Tem um campo abertamente fascista, encabeçado por este que nos (des)governa e seus apaniguados e um outro campo, que é também de direita, mas não fascista.

Esse outro capo não confronta o Supremo, não defende o fechamento do Congresso. Bolsonaro parou de defender do fechamento do Supremo, porque estava ficando encurralado e teve que recuar, momentaneamente, mas não mudou a sua opinião, favorável ao fechamento dessas instituições.

 

Fatos sobre o novo movimento

Este novo movimento está articulando personalidades, não necessariamente partidos ou autoridades governamentais como ex-presidentes, intelectuais de direita, alguns governantes etc. Esta é a nova característica dessa nova internacional.

Vou aqui apresentar alguns nomes. No Chile tem dois: Keiko Fujimori e José Antonio Kast, do Partido Republicano Chileno. Ele é pinochetista. Ele lutou para que a Constituinte elaborada por Pinochet e que estava em vigor até outro dia, continuasse vigendo, mas perdeu. Ele deve sair candidato a presidente e vai perder. Infelizmente, ele desponta ainda em primeiro lugar nas pesquisas e as eleições ocorrerão no próximo dia 21 de novembro.

Na Bolívia, a líder fascista desse movimento está presa, que é a golpista Jeanine Añez. Ela foi quem liderou o movimento para derrubar Evo Morales em novembro de 2019. Como resultado o presidente teve que sair do país para não ser morto.

No Equador, é o atual presidente, Guilhermo Lasso que decretou no dia 19 de outubro, no país, o Estado de Exceção, previsto na Constituição deles e que significa a suspensão de todos os direitos políticos e todas as liberdades políticas e democráticas do povo. O exército ocupou as ruas, sob o pretexto de que o narcotráfico está tomando conta do país.

Mas, para combater a criminalidade, não precisaria suspender os direitos do povo. Ele tomou esta medida, porque está envolvido no escândalo conhecido como “Pandora Papers”, que envolve três presidentes em exercício (além dele, tem o do Chile e de Santo Domingo).

E, para diminuir a pressão sobre ele, que está sob investigação do Congresso, que aprovou por 125 x 112 a abertura de inquérito para investigar o escândalo do dinheiro escondido em paraíso fiscal. Por estar no olho do furacão, ele desviou o foco, o assunto, criando um fato novo.

Em Sociologia da Comunicação chamamos isso de “um fato na forma de notícia que esconde uma outra notícia”. Agora, ninguém mais fala do “Pandora Papers”, mas do Estado de sítio. Em Quito houve muitas manifestações favoráveis a estas medidas de restrições às liberdades.

No Brasil, quem representa esse movimento de extrema direita mundial é Eduardo Bolsonaro, que é uma espécie de sucessor ou herdeiro político do pai fascista e faz as grandes articulações. Ainda que não tenha a menor capacidade cognitiva de realizar uma análise mínima sobre qualquer coisa, ele é o queridinho dessa articulação mundial.

Na Argentina tem agora um tal de Javier Milei. É uma novidade na política por lá. Eu mesmo não o conhecia em maior profundidade, mesmo estudando e lendo muito sobre política internacional. Ele está crescendo na política, de forma que, se as eleições presidências fossem hoje, ele poderia ir para o segundo turno com Alberto Fernandez. Ele é um fascista que declarou amor a Bolsonaro.

Na Colômbia está no poder o Ivan Duque, que visitou recentemente o fascista brasileiro. Mas, o nome do movimento no país leva o nome de seu líder de extrema direita, que é Álvaro Uribe, que é o “uribismo”. Uribe apoiou Duque, que derrotou o candidato de centro-direita, apoiado pelo ex-presidente Manuel dos Santos, que tinha feito a paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-FARC, que renunciaram à luta armada. Foi um tratado de paz feito sob os auspícios de Cuba, com Raul Castro patrocinando.

Nos Estados Unidos o principal nome é o Donald Trump, que não vê a hora de voltar ao poder. E Biden sabe que se as eleições fossem hoje, o ex-presidente teria grande chance de voltar. E, junto dele, tem o senador republicano do Texas, Ted Cruz, filho de um foragido da Revolução Cubana. Ele é da extrema-direita do Partido Republicano. Ele articula a internacional fascista.

Na Europa, o principal nome no poder na Hungria, que é o Vitor Orban. Na Itália, o líder da extrema direita é Matteo Salvini, da Lega Norte e que já foi vice-primeiro-Ministro do país. Recentemente, quando Bolsonaro esteve na Itália por ocasião da COP-26 – que envergonhou o Brasil – ele tratou de encontrar-se com esse fascista italiano.

Na França, surge um nome ainda mais à direita que a tradicional Marine Le Pen, que é o Éric Zemmour, judeu nascido na Argélia. Ele consegue ser muito mais xenófobo do que a Le Pen, do Partido Frente Nacional.

Para termos uma ideia de algumas de suas propostas, ele quer fazer valer uma lei de 1804 que proibia que todas as crianças nascidas na França fossem registradas com nomes que não fosse de origem francesa (que vem do código napoleônico). Um verdadeiro absurdo.

Nada acontece por acaso no mundo. E nada do que acontece no Brasil é desvinculado da grande questão geopolítica mundial. Hoje a luta é Socialismo x Barbárie, que é o capitalismo, o fascismo. E temos que entender esta política e aplicar no dia a dia que o inimigo principal a ser destruído é o fascismo e o capitalismo. É por isso que sempre batemos na tecla de Frente Ampla Antifascista.

 

Conclusões

Qual é a saída? A política externa de Joe Biden está muito ruim. Ainda que não seja a mesma de Donald Trump, com nuances de diferenças, ele vem fazendo o que já vinha sendo feito há vários governos, começando com Bush, passando por Obama, Trump e ele continuou. A questão central é a de tentar emparedar a Rússia e a China.

Em primeiro lugar, ele não vai conseguir. Segundo, ao fazer isto, ele enfraquece uma luta mais geral no mundo que de certa forma a Rússia e China travam contra o fascismo, contra o terrorismo, o extremismo e todo o tipo de separatismo. Mas, os EUA não estão nessa briga.

Tudo o que proponho daqui em diante é polêmico e, alguns amigos dizem que a comparação não cabe. A Segunda Guerra Mundial começou no dia 3 de setembro de 1939. Hitler já estava no poder, tendo vencido a eleição de março de 1933. Alguns meses depois fechou tudo, legislativo, judiciário, tornando-se um ditador.

Quase toda a Europa foi tomada pelo nazi-fascismo: Mussolini na Itália, Hitler na Alemanha, Salazar em Portugal, Franco na Espanha etc. Não só. Na Ásia, o imperador Hiroito tinha seus projetos de dominação do mundo, tendo ocupado parte da China.

O presidente dos Estados Unidos naquele período era Franklin Delano Roosevelt. Um presidente keynesiano. Ele venceu pela primeira vez as eleições em novembro de 1932, tomando posse em 20 de janeiro de 1933, em meio à maior crise econômica. Ele foi reeleito nos pleitos seguintes de 1936, 1940, 1944 e seria reeleito em 1948, se não morresse em 1945 e foi substituo por Harry Truman. Não havia ainda o limite para reeleições.

Como o seu keynesianismo, Roosevelt era a favor do Estado como agente da indução econômica. Não só o setor privado deveria investir, mas também o setor público tinha que injetar dinheiro para o desenvolvimento do país. É a ideia do Estado grande.

O Brasil está na contramão da história nos dias atuais. A PEC que querem aprovar em Brasília acaba com o serviço público, assim como o pacote aprovado por Dória em SP, que enfraquece totalmente o serviço público.

Antes de tomar posse Roosevelt recebeu a Central Sindical dos EUA, que é a AFL – Federação Americana do Trabalho, fundada em 1886, que posteriormente englobaria a Organização do Congresso Industrial (CIO na sigla inglesa). Eram duas entidades que se fundiram em uma central poderosíssima (12).

Ele reuniu-se com eles que levaram uma carta com várias reivindicações. O presidente leu, devolveu o papel e disse: “eu concordo com tudo o que está aí, façam-me cumprir”. Ele quis dizer que para cumprir tudo, teria que ser pressionado.

Nós não vivemos isso com os presidentes Lula e Dilma. Era só fazer um movimento de pressão para que ele atendesse as reivindicações, que vinham os contrários dizendo para não fazer isso, porque se tratava do “nosso” governo.

Na Segunda Guerra Hitler vai invadir a URSS em 1941. Roosevelt fica quieto esperando que a Alemanha conseguisse cumprir seu objetivo e acabar com o governo Soviético e derrubar Stálin. Mas, ocorreu um fato inusitado. Assim é a história, às vezes, tudo vai acontecendo normalmente, até dar um salto. Isso deu-se entre junho e dezembro desse ano. Era a chamada Operação Barbarossa (13).

No dia 7 de dezembro de 1941, dois dias depois da conclusão da Barbarossa, o Japão bombardeia a base naval de Pearl Harbour no Pacífico, matando mais de 300 pessoas entre soldados e civis, com a quase total destruição da base. No dia seguinte, Roosevelt declara guerra ao eixo: Japão, Alemanha e Itália. Aí os EUA entram na guerra, mais de dois anos depois que ela começou. Mas, eles não venceriam sozinhos sem a ajuda da União Soviética.

Houve então três encontros dos três grandes. Dois países capitalistas: Inglaterra e EUA e um socialista, União Soviética. Os dois capitalistas, por certo, odiavam Stálin, mas sabiam que não venceriam a guerra sem ele. Tinham que fazer a aliança.

Está aí um exemplo de frente ampla que muitos não compreendem, que em alguns momentos, é preciso se aliar até com o inimigo, para vencer um mal maior, um inimigo comum. Naquele momento histórico, o maior inimigo era o nazi-fascismo.

Roosevelt, então, apertou a mão do comandante do Exército Vermelho, Joseph Stálin. Isso ocorreu em 28 de novembro de 1943, quase dois anos depois que os EUA entraram na guerra. Demorou para eles perceberem que tinham que conversar. Caso contrário, não venceriam a Guerra.

O primeiro dos três encontros ocorreu em Teerã, que era da órbita do Ocidente. O segundo encontro ocorreu em fevereiro de 1945, na Criméia, que era Ucrânia, da órbita soviética. E, o terceiro e último, ocorreu julho de 1945, em Potsdam, uma cidade perto de Berlin, quando a II Guerra já havia terminado. Reuniram-se os três grandes. Foi uma reunião longa, de 17 de julho a 3 de agosto.

O que Vladimir Putin falou em seu discurso virtual de 3 de janeiro deste ano, para a reunião dos ricos em Davos? Entre outras coisas ele disse: “lembremos de 1933”. O que aconteceu naquele ano? Para ser mais preciso, em 5 de março de 1933. Hitler teve 18 milhões de votos nas eleições parlamentares.

A soma dos votos dos comunistas e dos sociais-democratas – que saíram separados e que se atacavam mutuamente – foi de 11 milhões. Hitler, com sete milhões de votos a mais, fez sozinho, 45% do Parlamento, faltando apenas 5% para fazer maioria, que ele conseguiu com o apoio do Partido Conservador. Virou chanceler pelo voto, enquanto os comunistas brigavam com os sociais-democratas.

Era uma época em que a Internacional Comunista, desde o seu 6º Congresso em 1928, deu uma orientação equivocada, sob o comando de Stálin, aos partidos comunistas do mundo inteiro. Eles avaliaram a conjuntura europeia e acharam que o proletariado europeu estava na iminência de tomar o poder e derrotar as burguesias nacionais.

Uma avaliação equivocada. Um erro histórico. Uma orientação sectária que não levou em conta a correta análise da correlação de forças que existia na sociedade europeia naquele momento. Os comunistas não perceberam que estava em ascensão o nazi-fascismo. Mussolini já estava no poder, Hitler ainda não tinha conquistado, mas era visível o crescimento do nazismo na Alemanha.

Quando Hitler vence pelo voto direto em 1933, há então uma mudança no posicionamento da Internacional e eles convocam o 7º Congresso, que vai acontecer em agosto de 1935 na cidade de Moscou. Portanto, dois anos depois da vitória nazista pelo voto.

O Congresso dos comunistas do mundo inteiro – a Internacional funciona como se fosse o partido comunista mundial, ou do proletariado revolucionário – reunidos em Moscou em 1935, muda de posição e emana uma nova orientação: Frente Única Antifascista. Todos os que eram contra os regimes nazistas e fascistas da Europa eram benvindos, independentemente de suas ideologias pessoais ou correntes políticas a que pertenciam ou à classe social.

As coisas começam a se modificar, mas demoraria ainda um tempo, até as três reuniões dos grandes. Quando os Estados Unidos entram na Guerra pós o ataque japonês, o Exército Vermelho já iniciava a sua virada de mesa, com as famosas batalhas de rua, quadra a quadra, na Batalha de Stalingrado.

Quando começa a ter esta mudança no front do Leste Europeu, na Europa, os partigiani, liderados pelos comunistas, mas não só eles, cristãos, socialistas, protestantes, todos unidos contra o fascismo. Houve muitos atentados, mas não contra a vida, mas contra a infraestrutura da Alemanha, como pontes, estradas, estações de trem. Tudo para sabotar o nazismo que dominava quase a Europa inteira.

Metade da França estava ocupada. Itália e Espanha não precisava ocupar porque tinha lá governantes nazifascistas e, no Leste Europeu, os nazistas haviam tomado tudo, Polônia, Hungria etc. E, tomou também as Repúblicas do Báltico e já estavam às portas de Moscou.

Os EUA despertaram, e toparam fazer a Frente Ampla na Europa contra Hitler. Foi então que a luta antifascista forçou Roosevelt e Churchill a apertarem a mão de Stálin. Por que falo tudo isto neste momento histórico que vivemos?

Para questionar se neste momento, no mundo hoje, caberia fazer uma reunião, um movimento mundial antifascista? Será que Biden teria esta visão que tiveram Roosevelt e Churchil, de grandeza de parar de fustigar China e Rússia para juntar forças contra o nazifascismo e o terrorismo, ou não?

Não tenho ilusão de que Biden seja um grande democrata, mas me parece também que ele não é fascista. Ele é herdeiro das lutas pelos direitos civis da década de 1960. Quando Carter ganha em 1976, Biden já havia sido eleito pela primeira vez para senador desde 1972 (14).

A política de direitos humanos que os EUA desenvolviam, era verdadeira. Diferente de hoje que é uma farsa. A defesa dos direitos humanos hoje serve para que se tenha ingerência externa em outros países.

Na época a América Latina estava tomada por ditaduras. Então, era importante defender os direitos humanos e a democratização do subcontinente. Por isso, não me parece correto afirmar que Joe Biden seja um homem de extrema-direita ou fascista.

Por vezes tenho ouvido que ele poderia vir a apoiar Bolsonaro na eleição do ano que vem. Mas, fico pensando, será que ele seria tão burro assim? Caso Bolsonaro vença a eleição no Brasil – ainda que eu ache muito improvável – quem ele apoiaria para presidente dos EUA em 2024? Donald Trump! Então, é sem lógica uma afirmação como esta de que Biden apoiaria Bolsonaro que viria a apoiar o seu inimigo futuramente.

A luta hoje é para esmagar a cabeça da serpente que é o fascismo. E, é preciso unir todas as forças políticas no mundo. A Rússia e a China estão dispostas. No livro: O esquerdismo, doença infantil do comunismo (de 1920), Lênin diz que nós temos que nos sentar à mesa e conversar com qualquer força política, porque, a negociação não diz respeito ao aspecto moral, mas são compromissos assumidos entre acordos de correntes diferentes, que dizem respeito a correlação de forças.

Em algumas situações, pode-se estabelecer conversas e alianças com grupos divergentes, para derrotar inimigos comuns imediatos. Biden, no entanto, dispersa e concentra suas energias no mar do Sul da China, para amedrontar e intimidar o país asiático. Faz aliança com Austrália e Inglaterra (AUKUS), faz aliança com a Índia (Quad). São alianças militares para intimidar a China, o que não vai conseguir. Eles apenas gastam energias enquanto o fascismo cresce.

 

Notas

1) Veja aqui neste link <O crescimento do fascismo na Europa> o artigo que mencionei.

2) Neste link <Partido de extrema direita espanhol articula aliança anticomunista na América Latina> está o artigo de O Globo mencionado. Esse texto longo e bem completo, mostra que, quando o grupo Globo, quer fazer jornalismo, eles são competentes mesmo.

3) Veja aqui <PUTIN interviene en el FORO DE DAVOS> o discurso de Putin legendado em espanhol de 47 minutos;

4) Neste link <Internacional Democrata Centrista> a história dos 60 anos de existência da Internacional de Direita, de origem cristã;

5) O novo Partido de Lopes Obrador, presidente do México, chama-se MORENA e pode-se ler neste site suas propostas <Movimento Regeneração Nacional>;

6) Aqui neste link <Partido Revolucionário Institucional> mais informações sobre o PRI;

7) Aqui neste link <Partido de Ação Nacional (México)> maiores informações sobre o PAN mexicano;

8) No livro: Reflexões sobre o Oriente Médio, escrevo sobre as entidades do campo da resistência mundial, do qual faz parte o Foro de SP.

9) Todas as informações sobre a história do Grupo de Puebla pode ser obtida em seu próprio site neste link <Grupo de Puebla>;

10) Meu artigo onde abordo a questão do neoliberalismo e pandemia pode ser lido neste endereço <O mundo que teremos após a pandemia>;

11) O saudoso historiador comunista Augusto Buonicore escreveu um longo ensaio sobre o cristianismo primitivo e o comunismo que pode ser lido neste endereço <O cristianismo e o comunismo primitivo>;

12) A breve história da AFL-CIO neste link <AFL-CIO>;

13) A Operação Barbarossa desencadeou a invasão da URSS. Veja informações neste site <Operação Barbarossa>;

14) Toda a história de Joe Biden, 46º presidente dos EUA pode ser lida aqui <Joe Biden>.


Texto em português do Brasil

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