Livros. Montes de livros. Muitas dezenas. Aliás, praticamente, uma centena. Foram exactamente 94 os títulos até agora publicados pela Arandis, uma editora algarvia que surgiu há três anos. Todos sobre temas algarvios ou escritos por autores naturais da região mais a sul do país.
Foi lançada por três amigos – Nuno Inácio, Sérgio Brito e Fernando Lobo – que adoram a região, a sua história, as suas tradições, usos e costumes. Também gostam de escrever e, diz Nuno Inácio, inventaram a Arandis “basicamente para editar os nossos livros e, eventualmente, de um ou outro amigo”.
As coisas têm corrido bem melhor do que imaginaram, cada vez aparecem mais autores a bater-lhes à porta com os seus projectos literários, muitos dos quais acabam por converter-se em livros.
Mas, mais do que uma editora, a Arandis é um projecto cultural, que mexe com muita gente. Até agora, pela contabilidade de Sérgio Brito, “já juntámos mais de 20 mil pessoas nas iniciativas que levámos a cabo”, o que, para uma região como o Algarve, é relevante. Para além da apresentação e lançamento de novas obras, a Arandis promove encontros de escritores e organiza os prémios literários Manuel Teixeira Gomes e Manuel Neto dos Santos.
O outro sócio da editora é Fernando Lobo, um homem que pouco aparece, por estar fisicamente mais longe, pois vive na Holanda. Mas a sua impressão digital está sempre presente nas publicações, uma vez que é o responsável pela parte da paginação e produção das capas. Um trabalho que faz, tal como os outros, não por dinheiro, mas “por idealismo”, segundo garantiu na festa do 3º aniversário da editora, uma das raras ocasiões em que os três culpados por esta aventura conseguiram juntar-se no mesmo espaço.
Numa altura em que crise é a palavra mais pronunciada e em que o virtual ganha cada vez mais pontos ao real, em que a leitura de jornais e revistas em papel tem vindo a ser substituída pela leitura digital, nos ecrãs de computador, dos tablets ou dos smartphones, é capaz de não ser muito fácil manter em funcionamento uma pequena editora como esta. E não é, concorda Nuno Inácio. Trata-se, no fundo, de “uma guerra na qual estamos sozinhos sem outros apoios que não sejam os dos autores e leitores das obras que publicamos”.
Acresce um outro problema. É que o sector de distribuição está muito concentrado. A parte de leão dos livros vendidos em Portugal faz-se em meia-dúzia de cadeias de livrarias e de grandes superfícies. Nelas, basicamente, só conseguem entrar as grandes editoras e os autores conhecidos que assegurem, à partida, um considerável número de vendas.
Não tem, por isso, sido fácil à Arandis encontrar formas de disponibilizar ao público as obras que vai editando. Um dos veículos principais têm sido as feiras do livro da região algarvia, onde a editora marca presença, juntamente com os seus autores. Outra forma de fazer passar a palavra é a internet, onde mantém uma loja digital.
Mas, recentemente, “conseguimos uma vitória”, que poderá fazer aumentar substancialmente o número de exemplares vendidos, diz Sérgio Brito. A editora fechou acordo com uma distribuidora que garante a colocação dos seus livros num elevado número de pontos de venda do país. A pronúncia do Algarve, em forma de livro, passa, assim, a ultrapassar as fronteiras naturais de uma região que tem muito mais para oferecer do que apenas sol e praia.