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Quinta-feira, Novembro 21, 2024

A Rota da Seda e o admirável Mundo Novo

Beatriz Lamas Oliveira
Beatriz Lamas Oliveira
Médica Especialista em Saúde Publica e Medicina Tropical. Editora na "Escrivaninha". Autora e ilustradora.

A Iniciativa do The Belt and Road Initiative (siglas BRI, ou B&R) é uma gigantesca e arrojada estratégia de desenvolvimento global adotada pelo governo chinês em 2013, envolvendo desenvolvimento e investimentos em infraestrutura em 152 países e organizações internacionais na Ásia, Europa, África, Oriente Médio e no Américas.

O líder da República Popular da China, Xi Jinping, anunciou inicialmente qual a estratégia durante visitas oficiais à Indonésia e ao Cazaquistão em 2013. “Cintura” refere-se às rotas terrestres para transporte rodoviário e ferroviário, também chamado “Cinto Económico da Rota da Seda”; considerando que “estrada” se refere às rotas marítimas, ou à Rota Marítima da Seda do século XXI.

O governo chinês chama a iniciativa de “uma tentativa de melhorar as relações e comunicações regionais e criar um futuro melhor”. Claro que isso pode ser olhado de outra forma, como uma tentativa de domínio chinês nos assuntos globais através de uma rede comercial centrada na China.

O projeto tem data de conclusão prevista para 2049, no 100º aniversário da República Popular da China.

O Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas, (sigla AIIB) criado em 2016, do qual a Índia é o segundo maior acionista, tendo por Presidente Mr. Jin Liqun é um banco de desenvolvimento dedicado a empréstimos para projetos de infraestruturas e é o suporte financeiro do projecto.

Em 2015, a China anunciou que mais de 160 biliões de dólares de projetos relacionados com infraestruturas estavam a ser planeados uns, outros já em construção. Estas infraestruturas em toda a Ásia têm por objetivo permitir a integração regional, melhorar o desenvolvimento económico e melhorar o acesso público aos serviços sociais. O banco tem um capital autorizado de 100 biliões de dólares, dos quais 75% vêm da Ásia e Oceânia. A China será a maior parte interessada, com 26,63% dos direitos de voto. O banco iniciou operações em de janeiro de 2016 e aprovou seus quatro primeiros empréstimos em junho. do mesmo ano.

Inicialmente pensado para investimentos em infraestruturas, educação, materiais de construção, linhas de caminho de ferro, estradas, automóveis, imóveis, redes de eletricidade e ferro e aço. A Iniciativa do Cinturão e Rota da Seda é um dos maiores projetos de infraestruturas e investimentos da história, incluindo mais de 68 países, representando 65% da população mundial e 40% do produto interno bruto global a partir de 2017.

A Rota Marítima da Seda, é a via da rota marítima. Iniciativa complementar destinada a investir e promover a colaboração no sudeste da Ásia, Oceania e África, através de mares contínuos: o Mar da China Meridional, o Oceano Pacífico do Sul e a área mais ampla do Oceano Índico. Foi proposto pela primeira vez em outubro de 2013 por Xi Jinping em um discurso ao Parlamento da Indonésia. Como a iniciativa do Cinturão Econômico da Rota da Seda, a maioria dos países aderiu ao Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura.

Alem disso a Rússia e a China concordaram em construir uma ‘Rota da Seda no Gelo’ ao longo da Rota do Mar do Norte, no Árctico, ao longo de uma rota marítima que a Rússia considera parte de suas águas internas. A China COSCO Shipping Corp. concluiu várias viagens de teste nas rotas marítimas do Ártico, e empresas chinesas e russas estão a preparar cooperação na exploração de petróleo e gás na área e para promover uma colaboração abrangente na construção de infraestrutura, turismo e expedições científicas. A Rússia e a China, estão a estudar como por em prática o projecto das infraestruturas globais da da Rota da Seda no Ártico. Empresas Russas como a Gazprom, Lukoil, RosAtom, Rosgeologiya, VnesheconomBank, Morneftegazproekt, Murmanshelf, Russian Helicopters,e auditores estrangeiros como a Deloitte,e centros de consultoria como o Norwegian Rystad Energy.

Em junho de 2019, ambos, os Presidentes da Rússia e da China declararam que estavam comprometidos com o conceito de construção da “Grande Parceria Eurasiana“. Xi afirmou que tinha concordado com Putin em ligar a União Económica da Euroásia à Iniciativa Chinesa Belt & Road.

Os cinco países da Ásia Central – Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, Turquemenistão e Uzbequistão – são parte importante da rota terrestre da Iniciativa da nova Rota da seda.

O Projeto Hidrelétrico Conjunto Argentina-China construirá duas barragens no rio Santa Cruz, no sul da Argentina

E a Europa?

Recentemente, a Itália e a Grécia foram as seguintes, depois da Polónia, a aderir à Iniciativa do Cinturão e Rota, reforçando a urgência da UE esclarecer suas posições em relação às políticas internacionais da China. De fato, enquanto o vice-primeiro-ministro da Itália, Luigi Di Maio, disse que o acordo “não é motivo de preocupação”, os líderes franceses e alemães mostram-se menos otimistas. O presidente Macron chegou a dizer em Bruxelas que “o tempo da ingenuidade europeia terminou”. “Por muitos anos”, acrescentou, “tivemos uma abordagem descoordenada e a China aproveitou nossas divisões”.

No final de março de 2019, a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente da Comissão Europeia Jean-Claude Juncker conversaram com o Presidente Xi em Paris na companhia do presidente Macron. Macron exortou a China a “respeitar a unidade da União Europeia e os valores que ela representa no mundo”. Juncker enfatizou que as empresas europeias deveriam encontrar “o mesmo grau de abertura no mercado chinês que as empresas chinesas na Europa”. Na mesma linha, Merkel declarou que o BRI “deve ter reciprocidade, e ainda estamos a discutir isso”. Em janeiro de 2019, Macron disse: “as antigas Rota da Seda nunca eram apenas chinesas .Novas estradas não podem seguir apenas um caminho.” Esta declaração pode ser encarada como uma verdade de Mr de La Palisse. (No final de dezembro de 2018, a Alemanha reforçou suas políticas em relação ao comércio exterior, aumentando sua capacidade de restringir certas aquisições diretas ou indiretas de ações de empresas alemãs com base na segurança nacional.)

Este projeto da nova Rota da Seda e deste novo admirável mundo pode levantar muitas dúvidas, medos, teorias da conspiração. Analistas dos mais variados quadrantes analisam os Prós e Contras, mas não tenho informação se a Fátima Campos Ferreira tenciona fazer um dos seus debates sobre o assunto.

A China foi mais ou menos acusada de estar a elaborar um projeto neo colonial.

O pensamento chinês sempre foi considerado enigmático. Penso que é mesmo assim, melhor do que o pensamento errático de um Trump, o pensamento desabrido de um Boris Jonhson, o pensamento pequenino de muitos países europeus ao se verem substituídos no seu papel de faróis do mundo.

É melhor irmos acompanhando notícias sobre este projeto, do que nos mantermos nas baias da informação nacional.


Por opção do autor, este artigo respeita o AO90


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