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Domingo, Novembro 24, 2024

A tartaruga Marina

Beatriz Lamas Oliveira
Beatriz Lamas Oliveira
Médica Especialista em Saúde Publica e Medicina Tropical. Editora na "Escrivaninha". Autora e ilustradora.

A Tartaruga Marina vive no oceano e é uma linda adolescente de dezassete anos.

Muito satisfeita com o lugar onde reside, pois tem muito alimento à disposição: lagostas, camarões, estrelas e pulgas do mar, tudo lhe cai no bico, sem dentes, com agrado e nem precisa de guardanapo! Mastigar é com ela! Para encontrar estes manjares só precisa de nadar com as belas barbatanas com que foi dotada pela natureza.

A Marina anda a sentir-se diferente e parece-lhe que há qualquer coisa na barriga que a não deixa sossegar. Decide dirigir-se à praia, embora isso represente um esforço, pois as barbatanas que tão bom sucesso lhe trazem na água, na areia arrastam-se um pedaço, a fazer-la sentir embaraçada. Na verdade a Marina é vaidosa e suspeita que ao caminhar na areia da praia parece desengonçada. Ou seja, a elegância fica-lhe pelo peso da carapaça. Uma carapaça castanho avermelhada.

Verifica que algumas amigas também andam ali pela praia mar.

Sente grande vontade de escavar um buraco. Talvez possa fazer uma casinha, um abrigo, talvez possa tirar ali umas férias.

Começa a sentir-se bem acomodada.

Uns movimentos debaixo do corpo fazem-lhe perceber que está a pôr ovos: que lindos são. Grandes, brancos, bem cheirosos. Agora a Marina apercebe-se porque lhe tinha chegado tanta vontade de ir para a areia e porque é que tinha subido a duna até àquele lugar mais longe das ondas.

Olha para cima, para o céu, e observa com cuidado o grande disco solar. Sabe que é o Sol quem vai tomar conta dos ovos durante os muitos dias em que os filhotes, quentinhos dentro do ovo, se vão desenvolver até serem capazes de sair e correr para o mar.

Ali perto vê a amiga Marcia que também fez o seu buraco e parece feliz com os resultados.

Marina pergunta-lhe, na linguagem que usam as tartarugas para comunicar umas com as outras:

_Então Marcinha, também é a primeira vez que vens desovar?

Marcinha tem um trejeito de superioridade ao avançar o pescoço para fora da carapaça.

_ Então Marina! Que pergunta! Sou mais velha do que tu. Já passaram sete luas e sete sois desde a última vez que deixei os meus ovos na praia. Os meus filhos passeiam-se pelos mares. Dei muita vida ao oceano e por isso estive bastante tempo sem vir aqui deixar mais ninhadas. Olha que eu tenho 26 anos!

Marina ficou um pouco cabisbaixa com esta frase da amiga Marcia. Mas, incapaz de controlar a curiosidade, voltou a perguntar:

_ Marcinha, sou nova nestas lides de pôr ovos e ter filhotes. Tu tens a certeza de que os sol toma bem conta deles?

Marcia já se estava a levantar e a preparar-se para descer para a beira mar.

_Olha Marina, os nossos ovos correm alguns riscos, é verdade. Outros animais que não são da nossa família, se os encontram, chamam-lhes um petisco! Há por aí aves marinhas, caranguejos, polvos que os procuram e comem. É assim, é a lei da vida. Mas olha que nós também corremos muitos perigos. A nossa vida só é mais fácil e agradável protegidas pelo mar onde nadamos. Até aqui na praia temos dificuldade em andar, perdemos a graça e a velocidade. Outros animais podem podem apanhar-nos sem dó em piedade.

_Que susto, prima Marcia! Nem me digas! E logo agora que é a primeira vez que vim deixar os meus lindos ovos!

_ Marina, então tu não sabes que agora, até mesmo dentro de água, onde somos velozes e poderosas outro perigo nos espreita?

_ Ouvi dizer, ouvi. Até estremeço com medo. Dizem que há umas redes onde podemos ficar entaladas, e morremos sem conseguir nadar nem comer!

_ Ai, Marina, rica prima! E não ouviste falar de umas terríveis bolsas transparentes, assim parecidas com alforrecas, que uma tartaruga grande como nós pode engolir e e fica-nos na barriga a acabar com a nossa vida? Isso sim, é uma grande consumição!

_ E então esses sacos não deitam algum mau cheiro que nos avise do perigo?

_ Infelizmente não! E os nossos olhos não os conseguem ver.

_ Mas quem nos pode ajudar nessa nova calamidade?

_Ouvi dizer que há uma espécie de humanos, uma espécie rara, que gosta muito de nós e nos quer ajudar. Os mais pequenos desses humanos, as crias deles, andam pelas praias a apanhar essas bolsas. Os humanos adultos, têm grande carapaças que andam sobre o mar e os levam dentro. E têm umas barbatanas grandes, maiores do que as nossas e com elas apanham esses perigos ambulantes.

_ Marcinha, obrigada, já me sinto mais crescida, mais sabedora e mais descansada. Vamos lá, as duas juntas, fazermo-nos ao mar!

 

Ilustração: A Tartaruga Marina, de Beatriz Lamas Oliveira


Por opção do autor, este artigo respeita o AO90



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