Diário
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João de Sousa

Segunda-feira, Novembro 4, 2024

A verdade

Era uma vez um jovem viúvo, que gostava muito de seu filho de cinco anos, e durante uma ausência sua, a trabalho, apareceram salteadores que puseram fogo na cidade e levaram o seu filho. Quando o homem voltou para casa, viu tudo destruído e entrou em pânico. Pegou no corpo queimado de uma criança que tomou por seu filho e chorou copiosamente. Organizou a cerimónia da cremação e pôs as cinzas num bonito e pequeno saco, que passou a carregar sempre consigo.

Um pouco mais tarde, o seu verdadeiro filho escapou dos salteadores, e conseguiu encontrar o caminho de casa. Ao chegar à nova casa do seu pai, tarde da noite, bateu à porta. O pai, ainda muito desgostoso, perguntou: “Quem é?” A criança respondeu, “sou eu, pai, abra a porta!”

Mas no seu agitado estado de alma, convencido de que o seu filho já estava morto, o pai pensou que algum outro menino o estava a ridicularizar. E então gritou: “Vai embora!” e continuou a chorar.

Depois de algum tempo a criança foi embora. E pai e filho nunca mais se encontraram.

Sobre esta história, Buda disse: “Às vezes pensamos que alguma coisa é verdadeira. Se nos apegamos fortemente a esta “verdade”, mesmo que a verdade bata à nossa porta, não a abriremos.”

Tal o apego a “verdades” que consideramos e cremos como sendo imutáveis e inquestionáveis, que quando confrontados com a verdade, reagimos tantas vezes com  violência em vez de pensar e inquirir com equilíbrio. Com prepotência, em vez de agir com despretensão. Ou com orgulho, em vez da simplicidade e da consideração. E não raras vezes, ao apego doentio segue-se-lhe os domínios intransigentes e arbitrários que conduzem a lugares sem saída, incompatibilizados com a harmonia e a aquietação.

Se é imperativo a libertação de preconceitos e das “verdades” que resvalam em animosidades e desvairamentos de vária ordem, certo é que da verdade todos nós precisamos, seja a respeito de pessoas, ou de situações. Na preservação e na base sempre do esclarecimento, da esperança e da compaixão.

Por opção do autor, este artigo respeita o AO90

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