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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

Aberta a picada para a prisão de Bolsonaro. Antes, porém, a inelegibilidade

Tereza Cruvinel, em Brasília
Tereza Cruvinel, em Brasília
Jornalista, actualmente colunista do Jornal do Brasil. Foi colunista política do Brasil 247 e comentarista política da RedeTV. Ex-presidente da TV Brasil, ex-colunista de O Globo e Correio Braziliense.

A prisão de auxiliares e a busca e apreensão na casa de Jair Bolsonaro certamente elevam a temperatura política e a radicalização da extrema direita, em momento delicado para o governo Lula. O presidente da Câmara, Arthur Lira, está dando avisos neste sentido. Mas crimes são crimes, Bolsonaro os cometeu às pencas e terá de pagar por eles. A apreensão de seu telefone abre uma picada para as investigações da PF  contra ele, para além da falsificação do cartão de vacina.

Do celular de Bolsonaro, mesmo tendo ele se recusado a fornecer a senha, a PF poderá extrair informações valiosas para outros inquéritos, como o que investiga as joias das arábias e o que trata da tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro. Dizem que, para evitar isso mesmo, ele vem trocando de celular o tempo todo, e neste caso a PF não tiraria muito proveito do aparelho apreendido ontem.

Antes de chorar na Jovem Pan, de falar em esculacho e perseguição política, ele  declarou nesta quarta-feira foi o que todos sabemos: que não se vacinou nem deixou a filha Laura, uma menina, ser vacinada. Michele complementou dizendo que na família só ela foi vacinada. Mas não é isso que está sendo investigado, e sim a tentativa de inserir no sistema do SUS dados sobre uma vacinação dele, com duas doses de Phizer,  que nunca aconteceu. Aliás, duas tentativas, ocorridas em posto de saúde de Duque de Caxias, onde ele tem um aliado na prefeitura e outros tantos em cargos municipais. Uma das tentativas foi no dia 27 de dezembro, vésperas de sua fuga para os Estados Unidos para não transmitir a faixa presidencial a Lula. Muito antes ocorrera outra em São Paulo.

Vários crimes podem ter sido cometidos nestas operações altamente irresponsável. Os que se envolveram nela estão encalacrados, ainda que não fique provado que agiram a pedido ou mando de Bolsonaro. Como sempre, ele dirá que não tem nada a ver com isso. Como não teve nada a ver com as joias nem com a tentativa de golpe. Mas se não se vacinou e não tentou esconder o fato, por que impôs sigilo de 100 anos sobre seu cartão vacinal?

Mais cedo ou mais tarde Bolsonaro será preso, ainda que isso piore o clima político. Contemporizar com os crimes dele para evitar os estrilos da extrema direita também crime, uma prevaricação sem tamanho.

Mas, antes da prisão, poderá acontecer ainda neste mês de maio a declaração de sua inelegibilidade pelo TSE, numa das 16 ações a que ele responde lá. No caso, aquela que investiga a reunião com embaixadores estrangeiros para difamar o sistema eleitoral brasileiro, à qual foi apensada a minuta do golpe – golpe com decretação de estado de defesa, intervenção do TSE e anulação do resultado eleitoral.

A inelegibilidade não dá cadeia mas não é pouca coisa. Significará seu banimento das eleições até 2030 e a orfandade da extrema direita. Ainda que ela tenha substitutos em construção, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, nenhum será tão odioso, inescrepuloso, ignorante, tosco e ousado como Bolsonaro.


Texto original em português do Brasil

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