O melhor é que não estão fazendo campanha por partidos ou candidatos, embora acolham essas bandeiras. São os jovens do “povo”, como definiu Mário De Andrade, não se apegam à erudição, embora alguns tenham nascido em berço de ouro.
São aprendizes como devemos ser, especialmente em tempos sombrios! Não cultivam o pessimismo intelectual, “falam asneiras” e “celebram a vida”.
Descontextualizo as palavras, apenas porque a realidade do país exige atualizações, ajustes de visão nos quais “as ideias correspondam aos fatos” (Cazuza).
A carta tem data de 10 de novembro de 1924 e é dirigida ao jovem poeta de 22 anos, Carlos Drummond de Andrade.
Mário, um “jovem” senhor na época (nasceu em 1893), critica o pessimismo do amigo com quem acabou se correspondendo durante 20 anos. Nunca se visitaram, Mário sempre morou em São Paulo e Drummond, mineiro, se fixou e fez fama no Rio de Janeiro.
Os engravatados no ofício
“Eu não posso compreender um homem de gabinete e vocês todos, do Rio, de Minas, do Norte me parecem um pouco de gabinete demais.”
Colecionando fichas de leitura
“Veja bem, eu não ataco nem nego a erudição e a civilização, como fez o Osvaldo num momento de erro, ao contrário respeito-as e cá tenho também (comedidamente, muito comedidamente) as minhas fichinhas de leitura. Mas vivo tudo.”
O dom da mocidade é crer (Mário de Andrade)
“Fique sabendo duma coisa, se não sabe ainda: é com essa gente que se aprende a sentir e não com a inteligência e a erudição livresca. Eles é que conservam o espírito religioso da vida e fazem tudo sublimemente num ritual esclarecido de religião.”
Brasil que samba
“Aquela negra me ensinou o que milhões, milhões é exagero, muitos livros não me ensinaram. Ela me ensinou a felicidade.”
Escola sem mestre
“Eu vivo. E vocês não vivem porque são uns despaisados e não têm a coragem suficiente pra serem vocês. É preciso que vocês se ajuntem a nós ou com este delírio religioso que é meu, do Osvaldo, de Tarsila ou com a clara serenidade e deliciosa flexibilidade do pessoal do Rio, Graça, Ronald. De qualquer jeito porque não se trata de formar escola com um mestrão na frente. Trata-se de ser.”
Maldades moças
“(…)li seu artigo. Está muito bom. Mas nele ressalta bem o que falta a você — espírito de mocidade brasileira. Está bom demais pra você. Quero dizer: está muito bem pensante, refletido, sereno, acomodado, justo, principalmente isso, escrito com grande espírito de justiça. Pois eu preferia que você dissesse asneiras, injustiças, maldades moças que nunca fizeram mal a quem sofre delas.”
O monstro indeciso
“A minha vaidade hoje é de ser transitório. Estraçalho a minha obra. Escrevo língua imbecil, penso ingênuo, só pra chamar a atenção dos mais fortes do que eu pra este monstro mole e indeciso ainda que é o Brasil.”
Dores do parto
“Os gênios nacionais não são de geração espontânea. Eles nascem porque um amontoado de sacrifícios humanos anteriores lhes preparou a altitude necessária de onde podem descortinar e revelar uma nação.”
Alma que o diabo não ameaça
“Nós temos que dar ao Brasil o que ele não tem e que por isso até agora não viveu, nós temos que dar uma alma ao Brasil e para isso todo sacrifício é grandioso, é sublime. E nos dá felicidade.”
A porta aberta do diálogo
“Responda, discuta, aceite ou não aceite, responda. Amigo eu serei sempre de qualquer forma.”
(Do livro “Lição do Amigo – Cartas de Mário de Andrade a Carlos Drummond de Andrade” – 1ª edição, 1982, Editora Record)
Nota: a autora escreve em português do Brasil