O Instituto Superior Politécnico Metropolitano de Angola (IMETRO), uma das mais prestigiadas instituições de ensino superior de Angola, debateu a importância da inovação curricular e novas competências para o professor do ensino superior.
O debate aconteceu na segunda quinzena do passado mês de Março, em Luanda, no Auditório Principal do IMETRO, no âmbito de uma Aula Magna intitulada “Inovação Curricular e Competências do Professor em contexto de Ensino Superior”, proferida por M. Azancot de Menezes, PhD em Educação pela Universidade de Lisboa.
A temática abordada aconteceu num momento em que o Ministério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação (MESCTI) de Angola, após a expansão quantitativa do Ensino Superior caracterizada pela abertura de mais sete regiões académicas e de dezenas de Instituições de Ensino Superior (IES) privadas, pretende imprimir qualidade nas IES legalmente reconhecidas, principalmente ao nível das competências dos docentes.
No acto de abertura solene do evento, o Director-Geral do IMETRO, Prof. Doutor Luís Kandjimbo, destacou a importância da qualidade do Ensino Superior em todo o país, relembrando que Angola só será uma Nação verdadeiramente desenvolvida e independente se tiver um sólido sistema de educação superior.
Visão muito redutora do Ensino Superior
Na opinião de Azancot de Menezes, e foi desta forma que iniciou a sua Aula, “existem muitas fragilidades em algumas IES, essencialmente, por falta de sentido estratégico e incapacidade para perspectivar o futuro”.
O professor acrescentou que há “uma visão muito redutora do Ensino Superior” porque “a maioria das IES limitam-se a preparar diplomados apenas para a aprendizagem de uma profissão, e esquecem-se que a formação ao nível do ensino superior implica que o diplomado deve adquirir múltiplas competências, científicas, técnicas e de âmbito mais alargado, as chamadas competências de terceiro nível”.
E por isso apelou “à problematização e à reflexão profunda em torno das várias dimensões ligadas ao ensino superior”.
Inovação curricular
A importância da gestão e da inovação curricular foi igualmente debatida no IMETRO porque, disse Azancot de Menezes, “ao contrário do que defendia Aristóteles, aprender não é memorizar..” e por isso faz todo o sentido problematizar em torno do currículo.
Segundo o especialista, o currículo reflecte aspectos culturais, sociais e políticos, portanto “é preciso haver uma preocupação com a inovação e gestão curricular no âmbito da reorganização do Ensino Superior”.
Invocando a autora portuguesa Maria do Céu Roldão, Azancot de Menezes defendeu que qualquer professor do Ensino Superior tem que «gerir o currículo», isto é, tem que “decidir o que ensinar e porquê, como, quando, com que prioridades, com que meios, com que organização, com que resultados..”.
Durante a Aula também foi realçada a importância da diminuição da carga lectiva, “para o estudante ter mais tempo para pesquisar e reflectir”, e da actualização permanente dos planos de estudo, no quadro da harmonização do Ensino Superior em Angola, “para estar em consonância com o avanço da ciência e também para facilitar as equivalências de estudos e a mobilidade”.
Competências do professor do Ensino Superior
Depois de ter referido a importância da revisão dos conteúdos das unidades curriculares e da inovação curricular para se conseguir “desenhos curriculares mais adequados aos estudantes e às expectativas da sociedade e do mercado de trabalho”, a Aula prosseguiu em torno das competências do professor em contexto de Ensino Superior.
O prelector, sempre com uma postura dialogante, no jeito que o caracteriza, perguntou:
“Quais são os critérios para analisarmos a qualidade da docência no Ensino Superior?”.
Para além de ter repetido que o professor competente, aquele que detém um conjunto determinado de conhecimentos e habilidades para desenvolver actividade docente, “tem que saber planificar o processo de ensino-aprendizagem” tendo sempre presente que “deve estar capacitado para saber conceber e estruturar o programa da unidade curricular que vai ministrar, nomeadamente aspectos ligados ao contexto, aos objectivos e competências a alcançar, à metodologia, ao processo de avaliação e à bibliografia”, Azancot de Menezes chamou a atenção para a importância do docente ter que estar atento “no sentido de assegurar a coerência entre o programa proposto e o projecto formativo da instituição”.
Durante 45 minutos o auditório, constituído por dirigentes do IMETRO, académicos angolanos, brasileiros, cubanos e portugueses, bem como por estudantes, manteve-se em silêncio a escutar o professor.
Antes de terminar a sua Aula, Azancot de Menezes fez questão em dizer que defendia “um modelo de planificação didáctica centrado nas competências”, ao contrário dos modelos tradicionais, porque as “modalidades organizativas, os métodos de ensino e os sistemas de avaliação definem-se paralela e integradamente em relação às competências a alcançar, num processo de ensino-aprendizagem assente numa perspectiva construtivista”.
A Lição de Sapência terminou com um alerta ligado ao progresso da ciência.
O Prof. Azancot de Menezes relembrou que dar um rumo diferente à investigação científica empurrando-a para um nível internacional de excelência implica “termos que reflectir, discutir e realizar estudos sobre o modo de pensar e agir dos agentes educativos envolvidos no ensino superior (reitores, directores, decanos, gestores, professores, funcionários, alunos, etc.) porque há variáveis e fenómenos emergentes que suscitam dúvidas e provocam questionamentos em relação às práticas profissionais e ao modo de funcionamento das instituições de ensino superior”.
Após ter respondido a várias questões colocadas por uma dúzia de participantes, deu-se por encerrada a Aula Magna que decorreu no Auditório Principal do Instituto Superior Politécnico Metropolitano de Angola, sediado em Luanda, uma instituição que possui autonomia administrativa, financeira, científica e didáctico-pedagógica, e que oferece cursos de graduação e de pós-graduação nas áreas de Ciências Sociais, Artes e Humanidades e nas áreas de Ciências Tecnológicas.
M. Azancot de Menezes, ex-Professor Associado do Instituto Superior de Ciências da Educação de Luanda (ISCED de Luanda), foi Pró-reitor da Universidade de Díli, Assessor Técnico do Departamento do Currículo do Ensino Superior do Ministério da Educação e Cultura de Timor-Leste, e actualmente é docente dos Cursos de Pós-Graduação do IMETRO e do Curso de Licenciatura em Ciências da Educação da Universidade Independente de Angola (UnIA).