Em 27 de Fevereiro de 1953 foi assinado o Acordo de Londres respeitante à dívida alemã.
A publicitação e divulgação deste acordo é importante, nos tempos que correm, com países a braços com dívidas insustentáveis, impagáveis e populações em sofrimento.
Os diferentes Estados devedores chegaram a esta situação por razões diversas que importa não generalisar.
O elemento detonador foi a crise da sub prime nos Estados Unidos. Esta situação de partida foi agravada pelas polítcas de austeridade seguidas pela UE, que continua em crise, mas não o foram nos EUA que atingiram resultados positivos não aderindo à austeridade.
Ao longo do percurso vários economistas de renome lançaram alertas e hoje, Instituições como o FMI e, mais recentemente, a ONU apontam no mesmo sentido: a austeridade nada resolveu e é responsável pela manutenção da crise.
Aquando da negociação com a Grécia até o Presidente Obama alertou para a necessidade de deixar a Grécia respirar. O vexame grego, marca, do meu ponto de vista, o fim da Europa solidária e foi um grave atentado aos Valores que estiveram na base da construção da União Europeia.
É neste contexto que vale a pena recordar o caso alemão.
Os Estados Unidos, que alertaram para o impossível cumprimento do Tratado de Versalhes (talvez o maior responsável pela ascenção de Hitler) foram os impulsionadores do Acordo de Londres que permitiu a recuperação económica da Alemanha, o designado milagre económico.
Este, em síntese, constata que a dívida além de impagável não permitia o desenvolvimento da economia alemã.
O Acordo visou assegurar o crescimento económico alemão e a capacidade efectiva de pagamento. Foi construido à volta das seguintes linhas mestras:
- perdão de cerca de 50% da dívida;
- reescalonamento para um prazo de 30 anos e taxas de juro inferiores a 5%;
- as amortizações seriam feitas com o excedente das exportações, poupando as reservas cambiais;
- recusa de redução do consumo para amortização da dívida.
Os credores acordaram garantir, duradouramente, a capacidade negociadora e a fluidez económica da Alemanha, permitir um superavit da balança comercial e aceitaram o direito da esta levantar, unilateralmente, barreiras às importações que prejudicassem a sua economia.
Em caso de dificuldades havia a possibilidade de suspensão e renegociação dos pagamentos.
É curioso verificar que só em Outubro de 1990 (dois dias antes da reunificação) a Alemanha emite obrigações para pagar a dívida de 1920.
Hoje a Europa desunida (norte contra sul), intolerante intra muros (vexame grego), não solidária para com os seus membros (não hesita em celebrar tratados comerciais com países terceiros favoráveis a alguns membros e penalizantes para outros), invadida por ondas de refugiados das zonas de guerra criadas pela aventura irresponsável da invasão do Iraque (políticas de acolhimento que irão criar e agravar os problemas no futuro) caminha para uma desagregação próxima.
Atente-se na forma como a Europa cede reivindicações britânicas (muitas inaceitáveis) e esmaga as pretenções gregas (muitas justas). Recorde-se que a Grécia foi um dos países mais generosos com a Alemanha apesar dos crimes de guerra cometidos durante a ocupação.
A Alemanha destruída, derrotada e sujeita às consequências do Tratado de Versalhes é hoje motor de imposições igualmente inaceitáveis e intolerantes.
O futuro será dos euro-cépticos?
Rui G. Amaral
Gestor Reformado