Luigi Di Maio, vice-primeiro-ministro italiano acusou França de continuar a colonizar e explorar África e contribuir para a imigração em grandes números para a Europa.
A UE deveria impor sanções à França e a todos os países como a França, que empobrecem a África e fazem com que essas pessoas saiam, porque os africanos deveriam estar na África, e não no fundo do Mediterrâneo”
“Se as pessoas estão a sair hoje, é porque os países europeus, a França acima de tudo, nunca pararam de colonizar dezenas de países africanos”, disse Di Maio e afirmou que se não fosse pela África, a França seria a 15ª entre as economias mundiais, e não estaria entre as seis primeiras.
As declarações de Luigi Di Maio, no passado domingo, eleito pelo “Movimento 5 estrelas”, não foram bem-recebidas por Paris e despoletaram uma crise diplomática entre os dois países.
Apesar do primeiro-ministro Giuseppe Conte ter tentado acalmar a disputa na terça-feira, destacando a “sólida amizade” dos dois países, o ministro do Interior, Matteo Salvini, não hesitou em agravar a situação classificando o presidente francês Emmanuel Macron de “presidente terrível”.
O vice primeiro ministro Di Maio, que também é ministro do trabalho e da economia, acusou ainda a França de manipular as economias dos países africanos que usam o franco CFA, uma moeda da era colonial apoiada pelo tesouro francês.
“A França é um desses países que, imprimindo dinheiro para 14 estados africanos, impede o seu desenvolvimento económico e contribui para o facto de os refugiados partirem e depois morrerem no mar ou chegarem às nossas costas”, disse.
Se a Europa quiser ser corajosa, deve ter a coragem de enfrentar a questão da descolonização em África.”
Di Maio não levantou uma questão nova, a controvérsia sobre o controlo e exploração económica de França sobre os 14 países que têm o CFA (Franco Africano) é antiga mas recentemente encontra cada vez mais resistência nos países Francófonos.
Vários activistas e lideres de países africanos francófonos já fizeram declarações explosivas sobre o CFA (moeda usada em Senegal Mali, Níger, Burkina Faso, Costa do Marfim, Benin, Togo, Camarões, Chade, Gabão, Republica do Congo, Republica Centro Africana, na Guiné-Bissau e na Guiné Equatorial) e que é um dos factores apontados que impede o desenvolvimento e crescimento destes países.
Em 2017, Kémi Séba, foi expulso do Senegal depois de ter queimado uma nota de 5.000 CFA num protesto público.
Em 2015 nas comemorações do 55º aniversário da independência do Chade, o presidente Idriss Deby declarou: “devemos ter a coragem de dizer que há um cordão que impede o desenvolvimento na África que deve ser cortado referindo-se ao CFA.
Segundo declarações de Guy Marius Sagna, activista senegalês, “debater os méritos do franco CFA é como discutir as vantagens e desvantagens da escravidão”.
No livro “Tirar África da servidão monetária. Quem beneficia do franco CFA?” os autores explicam a história e o funcionamento do CFA e realçam que ao contrário da crença popular, a paridade CFA – euro dificulta a unificação dos mercados africanos, abordando ainda as consequências sociais sentidos na África francófona, que são multiplicadas pela desigualdade do comércio.
O CFA é emitido desde 1945 e indexado ao franco francês, o franco CFA desde 1999 está indexado ao euro. Actualmente, um euro vale 656 francos CFA.
Enquanto o banco central francês garante a moeda, os 14 países que o utilizam têm que depositar metade de suas reservas cambiais numa conta do tesouro francês.
Os 8 países donde chegam a grande maioria dos refugiados à Europa são originários da Guine Conacri, Marrocos, Mali, Síria, Afeganistão, Iraque, Argélia, Costa do Marfim e Tunísia. Sendo que o Mali e a Costa do Marfim têm o CFA e apenas o Afeganistão e o Iraque não foram colónias francesas.
Os ataques de Di Maio à França tiveram o mérito de por a imprensa “mainstream” a analisar, embora de forma tímida e superficial, as ingerências europeias em África.