Recordo-o bem da minha juventude. Generoso, despreocupado, gentil, paciente e brincalhão.
A Quinta do Sol, o fascínio das antiguidades, o bom gosto… Amante de uma boa refeição, de um copo de vinho, de uma gargalhada… Grande parte da sua obra está escondida em colecções privadas e em locais inacessíveis – como os motivos das Fábulas de La Fontaine nos azulejos de uma cozinha numa casa pombalina… com as côres mais belas que alguma vez vimos em azulejo… Será recordado como um grande artista, que semeou o nosso imaginário com mulheres vendendo luas e sóis sorridentes e rostos e mãos e seios redondos de mulher, peixes e ciprestes junto aos muros, com meninas brincando, rodas e estrelas…
«O Chagall?!… – surpreendeu-se ele serenamente, uma vez quando lhe confessei a minha paixão por este artista… – ele conseguiu pôr as vacas a voar…»
Adeus Mestre Querubim.
É tempo de descansar, mas as searas lá estarão nas lonjuras, ondulando na luz dourada do fim do verão que há de vir…
Francisco Oneto
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Dele recordo sobretudo a delicadeza dos gestos e da voz. O seu ambiente nativo estava onde quer que a Arte pudesse ser criada. Tenho para com ele uma dívida de gratidão que ficará por pagar como, de resto, seria sempre esse o seu destino.
Este homem brilhante, este Artista, no sentido que Almada Negreiros dá à palavra, era de uma generosidade e desinteresse inigualáveis. A última vez que estive com ele foi num obscuro centro de trabalho nos arredores de Lisboa, onde, a meu pedido, descalço, fazia a esquadria de um imenso cenário para uma peça de teatro de Natal de um grupo de crianças dessa freguesia.
Para o Pedro Abelha, seu filho, e para a Cristina Abelha, sua sobrinha, ambos colegas no Liceu D.Pedro V e cúmplices de outras aventuras, as minhas sentidas condolências. Bem como para todos os admiradores da sua obra de excepção.
João de Sousa
Biografia e Obra de Querubim Lapa na página Antifascistas da Resistência