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Domingo, Dezembro 22, 2024

Adicção à Internet, temos uma nova doença?

Ana Pinto-Coelho
Ana Pinto-Coelho
Aconselhamento em dependências químicas e comportamentais, Investigadora Adiction Counselling


No final do texto, vai encontrar 10 sinais de aviso de uma publicação especializada francesa, e mais 10 sinais de aviso de uma publicação norte-americana, para poder comparar o que se passa de um e do outro lado do oceano e do mundo. Verá que não existe grande diferença: a adicção à Internet e Smartphones é real, galopante e preocupante.

Embora ainda exista muita gente que não acredita que a Internet possa ser considerada uma adicção, o facto é que já o é, e existem estudos suficientes que demonstram os numerosos factores que levam os internautas a ultrapassar a linha de utilização salutar.

No entanto, não está ainda listada no DSM-V da Associação Americana de Psiquiatria, em parte porque tem um papel tão proeminente na sociedade que é difícil desenvolver qualquer conjunto distinto de critérios para a detecção ou diagnóstico das características que distinguem o uso normal do vício.

O vício à Internet é geralmente chamado de PIU (Problematic Internet Use), ou IAD (Internet Addiction Disorder) e define-se por um tipo de transtorno do controle dos impulsos, tal como se pode encontrar noutras formas de dependência, como com drogas ou álcool. De muitas maneiras, o PIU é também semelhante a outros vícios tais como jogos de azar, compras ou sexo.

Durante anos a fio, o uso excessivo do álcool foi considerado um comportamento aceitável, especialmente para os homens. Quando se tornou impossível ignorar as repercussões do beber em excesso – e definir o que é ou não excesso – a designação de adicção, dependência ou vício começou a ser utilizada. Da mesma forma, temos agora este percurso com a Internet. Tornou-se parte da vida quotidiana e, portanto, um comportamento completamente aceitável.

Chegámos ao ponto de criticar quem tem resistência a utilizar a Internet, comportamento que julgamos social e profissionalmente inaceitável. É este tipo de comportamento, e regra aceite, que dificulta a detecção dos sinais aditivos, sobretudo porque a Internet passou a fazer parte obrigatória do dia-a-dia. De acordo com o American Journal of Psychiatry, os comportamentos que compõem a adicção à Internet correspondem aos mesmos que definem os transtornos do espectro compulsivo- impulsivo. Noutras palavras, as funções de dependência da Internet são um distúrbio baseado em processos, em oposição aos distúrbios como o alcoolismo e a toxicodependência, baseados em consumos.

internetÉ necessário termos consciência que alguém com um vício em Internet experimenta mudanças fisiológicas quando está online, bem quando se encontra offline. Quando o adicto está online, existe uma libertação de endorfinas no cérebro. Com efeito, essa libertação de endorfinas entra directamente no sistema de recompensa do cérebro, que desempenha um papel importante em todas as dependências. O efeito inverso acontece na forma de sintomas de abstinência, quando uma pessoa passa algum tempo distante da Internet. Isso também envolve mudanças químicas no sistema de recompensa do cérebro.

Assim como acontece com o abuso de substâncias, o vício em Internet envolve tanto aspectos físicos, como comportamentais.

Apesar de a internet ter mais a ver com controlar o seu comportamento do que controlar uma ânsia de uma droga real, as causas físicas da dependência são em tudo semelhantes ao desejo de ir “usar”.

A obrigação de estar sempre conectado, pode transformar-se num problema de dependência (especialmente nos smartphones) e que provoca o FoMO (Fear of Misssing Out) que tratei num dos anteriores artigos FoMO  (Fear of Misssing Out) que tratei num dos anteriores artigos

O site Excite News, publicou 10 sinais que podem mostrar quando uma pessoa está viciada na Internet, tendo sido baseados no guia médico Manga Wakaru Shinryo Naika, criado por uma clínica psiquiátrica japonesa (Clínica Mental Yu). Na sua essência, entendem que o adicto à Internet é aquele que luta com a incapacidade de mitigar as actividades online, e  já experimentou consequências negativas como resultado.

E isto resulta num “transtorno do controle dos impulsos“. Embora o termo possa soar altamente clínico, esta frase é usada para descrever um conjunto comum de comportamentos em que um indivíduo tem dificuldade em controlar as acções, pensamentos ou emoções durante o curso da vida diária.

Existem geralmente distúrbios de controlo de impulsos (CDI) em pessoas que têm certos tipos de TDAH, (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), que lutam com problemas como o transtorno obsessivo compulsivo (vulgo TOC) ou que sofrem de algum tipo de adição.

Os chamados cinco estágios do transtorno do controle dos impulsos são

  1. O início do impulso: “Eu quero aceder ao Facebook”
  2. O crescer da tensão e acúmulo: “Eu preciso fazer login no Face, já”
  3. Prazer: “Sinto-me melhor, agora que estou ‘logado’ no Facebook”
  4. Sensação de alívio: “Isso foi bom para verificar o que estava acontecendo”
  5. Culpa: “Eu passei três horas online a olhar para as páginas dos meus amigos”

10 sinais que podem mostrar dependência/adicção à Internet, segundo a francesa Adala News

(Se uma pessoa tem, pelo menos, 5 ou mais sinais, considera-se adicta)

  1. Perceber muitas vezes que tem passado mais tempo na Internet do que o esperado ou do que se pretende inicialmente.
  2. Enquanto está na Net, sente que muitas vezes não consegue parar e desligar o computador – ou sair da Net no Smartphone -, mesmo sabendo que é hora de o fazer.
  3. Gradualmente vai escolhendo permanecer online em vez de ir ter com pessoas. Ou nunca desliga o smartphone quando está fisicamente com pessoas.
  4. Mesmo quando tem de se concentrar em alguma matéria, a primeira coisa que faz é entrar na Internet.
  5. Começa a ser comum a qualidade do seu trabalho ou os seus estudos sofrerem por causa do tempo gasto na Internet.
  6. Perceber que cada vez que conhece uma pessoa nova, é na Internet ou através dela.
  7. Estar online ajuda a reduzir o seu stress ou acalma as suas preocupações diárias.
  8. Fica de péssimo humor se alguém o interrompe quando está na Internet, seja por que motivo for (enquanto joga, está no chat, ouve música, visiona páginas de amigos, etc.).
  9. Se não está na Internet sente a sua vida monótona e vazia (FoMO)
  10. Durante as suas actividades diárias (de trabalho, passeios, etc.), muitas vezes dá por si a pensar na Internet ou no sentimento de estar online.

 

O Excite News escreve que na China (onde o vício em internet é um problema social gravíssimo), dois dos critérios para o diagnóstico de dependência da rede é saber se uma pessoa:

  • Passa mais de seis horas na Internet
  • Gasta mais horas na Net do que a trabalhar ou a estudar

Se suspeitar que você ou alguém que você conhece pode ser viciado na Internet, aqui estão outros 10 sinais que pode observar, desta vez, segundo a Addictions.com, da Stanford University:

  1. “Justificar, dizendo que é para planeamento” – inventar razões para utilizar a Internet, tais como verificação dos factos de que está a falar, por exemplo, à mesa. Consegue assim ir à Net “com justificação”, tornando mais curtos os espaços de tempo em que não está online. “Sneaking” online, quando não era de todo necessário…
  2. Problemas de relacionamento – negligenciar as relações de amizade e de família para passar mais tempo na Internet. Este sinal de vício em internet também inclui a substituição do tempo real de relacionamento cara-a-cara com interacções online. Em encontros face-a-face, como jantar num restaurante, a pessoa está ao mesmo tempo a participar num “chat” online usando um dispositivo móvel.
  3. Preocupação – perguntando o que está a acontecer na sua sala de chat favorita. Preocupar-se com e-mails sem vigilância, ou seja, que possam ter chegado e não viu. Um sentimento de desejo de estar permanentemente online.
  4. Perder Tempo – perder a noção do tempo enquanto estiver online. Este sinal de vício em Internet pode estar especialmente relacionado com outros comportamentos aditivos que também precisam de ligação à net, tais como ciberpornografia, jogos de azar online e outro tipo de jogos online. Isto também inclui ficar “perdido no computador” em jogos de computador, programação de código, em dispositivos móveis e desktop.
  5. Incapacidade de parar ou reduzir – Trata-se de um vício – sintoma de toda e qualquer adicção, seja química, seja comportamental.
  6. Os sintomas de abstinência – fica irritado, inquieto, deprimido(a) e / ou mal-humorado(a) quando passa tempo longe da Internet. Como a incapacidade de parar ou reduzir, este sinal de vício em internet, aplica-se a todos os tipos de vícios. Chama-se “ressaca” (pode ter exactamente os mesmos sintomas de uma ressaca de álcool, por exemplo – “As Ressacas).
  7. Acessibilidade – necessidade quase automatizada de se certificar que a Internet é acessível onde quer que vá. Isso inclui manter um laptop aberto em todos os momentos e compulsivamente verificando seu dispositivo móvel para actualizações de sites como Twitter e Facebook.
  8. Escaping – usando a Internet como uma maneira de aliviar sentimentos de depressão, ansiedade, impotência e/ou culpa. Isto também inclui a utilização da Internet para escapar de conflitos e/ou responsabilidades de relacionamento.
  9. Resposta emocional – sensações de euforia, enquanto envolvidos em actividades de Internet. Sentimentos de antecipação e entusiasmo quando se olha para a frente e está online. No fundo, tal como noutras adicções, está a “consumir”, está a “usar”.
  10. Comprometendo áreas principais da vida – De todos os sinais de vício em internet, este é o mais revelador. Perder um emprego ou perder alguém importante na sua vida por causa do tempo gasto online é o sintoma revelador máximo de um problema de dependência.

Antes que tudo isto aconteça, se sente que se identifica já com vários destes sinais, ou conhece alguém, não espere mais tempo. Procure ajuda profissional.

Se quiser saber mais, e em concreto como a China está a tentar resolver este enorme problema, assista ao filme ‘Web Junkie’: Internet Addiction in China.

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