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Sábado, Novembro 23, 2024

Alemanha executa o Economicídio da Europa

José Mateus
José Mateus
Analista e conferencista de Geo-estratégia e Inteligência Económica

Ou como muito lucidamente escreveu Eric Conan, na Marianne, “atrás do bode expiatório inglês, está o problema alemão”. Explicações para o Brexit.

José MateusEric Conan pratica, aliás, um bem informado e implacável exercício de demolição da conduta alemã com a França e com a Europa e também da sua estratégia nacional-mercantilista de “pequena China”.

Os Diktats da “Pequena China”

“Actualmente, os problemas não advêm dos britânicos, localizados na periferia, mas dos alemães instalados no centro da máquina, que defendem os seus interesses bem escondidos debaixo do austero Maquiavelismo de Angela Merkel. Começando pelo “comando” da Eurozona, cujo balancete global é negativo (crescimento inferior ao de outras regiões, taxa de desemprego jovem superior a 20%), à excepção de Berlim.

Favorecida pelo euro forte e reinando sobre a mão-de-obra “barata” do seu Interior oriental, a Alemanha faz o papel de pequena China em detrimento da Europa do Sul.

Exportando mais de metade da sua produção, a Alemanha acumula “superavit” comerciais excessivos – actualmente criticados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) – traduzidos na retenção exagerada de Poupanças cujo propósito é reassegurar as inquietações de pessoas que já não geram mais crianças e apenas se preocupam com as suas pensões e reformas.

Poupanças estéreis não reinvestidas, são “colocadas” fora da Europa para “se eximirem” às políticas europeias de baixas taxas de juro definidas pelo Banco Central Europeu (BCE)…

Esta combinação de poder e “inquietação” conduziu Berlim a impor-se sob a forma de Diktats: como a organização do “estrangulamento” da Grécia enquanto, ao mesmo tempo, lhe interdita a saída do euro; ou “clamando”, sem qualquer concertação, na defesa dos migrantes e refugiados, para a seguir, em pânico, recusar o seu acolhimento; violando em todos os casos as regras de Schengen.

Negociando, sem mandato, um acordo de inferioridade com Erdogan, humilhante e arriscado para as fronteiras europeias. Perturbando os investimentos no mercado da energia através da eliminação da opção nuclear para relançar o sector do carvão subvencionado. Desestabilizando a produção de suínos e de lacticínios através do dumping social e concentrando as “explorações” animais. Promovendo iniciativas diplomáticas nacionais interessadas (China, Ucrânia, Tafta), mas condicionando a sua participação aos esforços colectivos de defesa no Médio Oriente ou em Sahel.

Tudo isto tem valor mas criticar o Império de Berlim permanece tabu. Aqueles que arriscam fazê-lo (Chevènement, Montebourg, Mélenchon) são acusados e etiquetados de “germanófobos”, enquanto a “anglofobia” jamais é invocada… ”

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“Uma Oligarquia com Sintomas de Totalitarismo Soft”

Para a equipa (anónima) atrás de um blog especializado em geopolítica, o problema tem a sua equação rapidamente estabelecida: “Como bem se percebe, a UE foi pensada para garantir que a Alemanha e a França se tornariam “BFF” (os melhores amigos para sempre) em vez de lutarem pela hegemonia na Europa através da guerra. Nesse sentido, a UE realizou prodígios. No entanto, agora no novo milénio…

O que se destaca é que os chefes de Estado e políticos na Europa têm vindo, subrepticiamente, a construir uma entidade política muito mais ampla. Não está a ser pedido, aos eleitores, o seu consentimento.

A ausência de legitimidade é a principal característica da UE. Uma vez que não existe procedimento para o direito democrático de deitar fora a , a UE transformou-se em algo nunca antes visto no mundo, uma oligarquia com suaves sintomas de totalitarismo.

A Alemanha está ao volante transformando estados da EU mais fracos em pretectorados, tirando proveito do euro enquanto outros sofrem com isso, impondo movimentos de população que terão consequências demográficas, limitando a liberdade de expressão e muito para além disso, é impopular, para não dizer alarmante.

Existe apenas uma forma de sair desta situação que é fundir todos os estados-nação da UE e transformá-los numa genuína federação, com unidade política e fiscal o que é ainda mais impopular e alarmante. Os Britânicos percebem que este império deve terminar em explosão totalitária ou falha catastrófica, e seu voto mostra que eles não desejam fazer parte de nenhuma delas.

Outro acidente da história está subjacente à preferência dos britânicos pela independência e democracia, e não importa se estas têm um custo associado.

No entanto, cerca de meia dúzia de países da UE já ponderam a possibilidade de seguir os Britânicos, e se fizerem, todo o ensaio experimental errado da UE poderá cair por terra.

Nos idos de 1805 William Pitt, The Younger enfrentou uma crise semelhante com a célebre expressão “A Inglaterra salvou-se pelo seu esforço e vontade, como espero, salvará a Europa através do seu exemplo”.” Sim, sim e sim novamente.”

brexit-abandon-shipExtensão do Domínio Alemão ao Campo Militar e Estratégico

Para o Prof. Julian Lindley-French, a Alemanha vai agir muito rapidamente, neste final de Junho e inícios de Julho, nos domínios militar e estratégico, “usando a UE para integrar os pequenos poderes da Europa em torno da Alemanha” e criando assim uma “federação alemã híbrida”.

Este Verão será, portanto, “realmente um grande momento estratégico para a Europa”…

Como o professor Julian Lindley-French escreve: “Em 28 de Junho, cerca de uma semana antes da grande Cimeira da NATO em Varsóvia (e convenientemente uma semana após a votação Brexit) uma Cimeira da UE terá lugar, na qual o Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a política de segurança Federica Mogherini irá desvendar a estratégia global em matéria de política externa e de segurança. (…) Por conseguinte, Berlim pós-Brexit irá mover-se rapidamente para estender, através de Bruxelas, a sua influência sobre os seus vizinhos do continente utilizando a EU para integrar em torno da Alemanha, as potências menores.

Os três principais elementos da estratégia alemã são a Zona Euro, Schengen e a próxima União de Defesa Europeia (UDE). É por isso que nove dos Estados-membros da UE estão prestes a ser encaminhados pela Alemanha para uma forma de UDE que usará a chamada cooperação estruturada permanente, que também foi acordada no Tratado de Lisboa, em 2009.

Esse é também o motivo pelo qual a Alemanha provavelmente apelará à UDE, no próximo mês de Julho em Berlim, no “Weissbuch” (Livro Branco) da Defesa.

Isto é importante. Se uma Federação da EU híbrida surgir em torno da Alemanha, muito provavelmente, a seu tempo, a NATO também será reestruturada em uma Anglo-esfera composta pelos EUA, a Grã-Bretanha e o Canadá, e uma Euro-esfera, esta centralizada por Berlim, possivelmente com alguns flutuadores no meio.

A Grã-Bretanha? Se há uma área de “competência” onde o real e efectivo poder tem importância é a questão militar.

De acordo com o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos os 5 países que mais gastaram em 2015, em despesas militares, foram os Estados Unidos com 597 milhares de milhões de dólares; a China com 146 milhares de milhões de dólares; a Arábia Saudita com 82 milhares de milhões de dólares; a Grã-Bretanha com 56 mil milhões de euros e a Rússia com 52 mil milhões de dólares. Isto apenas se pode comparar com os gastos da França em 47 mil milhões de dólares e da Alemanha em 37 mil milhões. Com os outros, não há comparação possível.

Por conseguinte, face ao poder e às próximas diligências da Alemanha, mesmo que a Grã-Bretanha vote pela permanência na EU, a relação de Londres com a EU real (a Zona Euro) permanecerá na melhor das hipóteses semi-afastada, tendo em conta que o Reino Unido não irá aderir ao Euro ou ao Acordo de Schengen, e certamente não será parte da federação alemã híbrida.

Este Verão é, por isso, um grande momento estratégico para a Europa…”

Bem podem, portanto, alguns alemães, menos poluídos pelo actual nacional-mercantilismo de Berlim, gritar no deserto germânico. Como faz Joschka Fischer, o antigo ministro dos “Estrangeiros” do governo de Schröder, que, alarmado pelo caminho tomado, bem clama que Angela Merkel não deveria aparecer como “a terceira personagem alemã a ter destruído a Europa, depois de Guilherme II e de Hitler”. Pois não deveria, mas já apareceu. Joschka Fischer, além de clamar no deserto, acordou tarde. É pena.

Fica assim cada vez mais claro que a “Europa” foi um dispositivo de contenção da “ameaça soviética”, criado em Washington, que teve a sua idade de ouro durante a guerra fria, que ainda desempenhou algum papel na organização e segurança da “Europa de Leste” depois da queda da URSS, mas que está hoje sem objecto nem objectivo reais e sobra, como “resto”, para ser utilizada, como instrumento de potência, no jogo nacional alemão. Pobre “Europa”…

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