Não foi no centenário, foi um ano depois. Mas foi. O parlamento alemão reconheceu, ainda que de uma forma simbólica, que o massacre cometido em 1915 pelas forças do Império Otomano, hoje Turquia, foi, na verdade, um verdadeiro ‘genocídio’ contra o povo arménio, conforme noticiou a versão online do Canal Russia Today (RT News).
Esta resolução considerada um “dever histórico” contou com a presença de membros do corpo diplomático turco e alemão, e teve aprovação da chanceler Angela Merkel, ainda que a própria estivesse ausente do Parlamento.
Como seria de esperar, a reacção por parte do governo turco e do poderoso partido AK foi imediata – pelo menos não demorou um século a tomar como esta decisão.
Desde logo pelo próprio Presidente Recep Tayyip Erdogan, durante uma visita ao Quénia, a acenar com medidas de retaliação por parte de Ankara e com a consequência imediata de chamar o seu embaixador na Alemanha em sinal de protesto. Uma reverberação desde logo seguida pelo Primeiro Ministro Binali Yildirim a condenar a decisão do parlamento, argumentando que fora fruto da pressão do “lóbi arménio racista”.
Em sinal contrário, o ministro dos Negócios Estrangeiros Edward Nalbandian, citado pela agência France Press, congratulou-se com a decisão, salientando a “contribuição inestimável da Alemanha para o reconhecimento internacional e condenação do Genocídio Arménio, bem como à luta universal para a prevenção do genocídio e crimes contra a Humanidade”.
Resta saber como irá a Senhora Merkel lidar com a situação nos próximos dias, sendo certo que do lado de Ankara a tempestade irá agravar-se antes que venha a bonança. Durante esse período, os pratos da balança andarão agitados por forma a tentar equilibrar o recente acordo para troca emigrantes por biliões de euros, bem como a passagem livre de visa para o espaço Schengen. Para já, Merkel bota água na fogueira argumentando que “há muito que liga a Alemanha à Turquia”, apesar das “diferenças de opinião em relação a um assunto”, conforme citado pela Reuters. De resto, segundo a mesma fonte, a chanceler mantém-se optimista, ao afirmar que “a nossa amizade e laços estratégicos é óptima”.
Recorde-se que o massacre inicia-se a 24 de Abril, de 1915, quando 250 intelectuais arménios são detidos pelas autoridades otomanas e posteriormente executados em Constantinopla, hoje Istambul. Sucede-se a deslocação, deportação e colocação em campos de concentração da maioria dos arménios em território arménio, sob a justificação de rebeldia e aliança com a Rússia durante a Primeira Guerra Mundial. Ao todo terão sido afectados mais de 1 milhão e meio de arménios. Apesar de a Turquia ter reconhecido esses “maus tratos”, sempre se opôs a qualquer noção que englobasse a palavra “genocídio”. Hoje ainda o faz. Resta saber, qual será o preço a pagar por um apaziguamento que se revela tão difícil quanto tardio.