Militante activo na Resistência contra o fascismo, sofreu a repressão do regime sem nunca vacilar na determinação com que o enfrentou.
Em 1973 foi candidato no círculo de Setúbal, pela Oposição. Na democracia tem-se mantido um cidadão activo e interveniente, no campo autárquico, sindical e político.
Uma vida de Resistência…
Alfredo Rodrigues de Matos nasceu em S. Pedro do Sul a 22 de Julho de 1934 mas foi para o Barreiro em 1939 e aí fez o curso industrial, o curso de guarda-livros e completou o 3º ciclo do liceu.
Aderiu então ao MUD Juvenil e, em 1952, começou a trabalhar na CUF, primeiro como operário, depois como empregado de escritório. Em Janeiro de 1957, foi preso pela PIDE e julgado no Tribunal Plenário, tendo sido condenado a 18 meses de prisão correccional a que se juntaram 3 anos de medidas de segurança, pelo que cumpriu 4 anos e seis meses de prisão .
Em 1961, na cadeia, aderiu ao Partido Comunista. Libertado em Janeiro de 1962, passou a desenvolver actividades políticas na margem sul, com funções específicas na CUF, aonde regressara. Colaborava então na redacção do Boletim dos Trabalhadores.
Em 1969 fez parte da Comissão Distrital de Setúbal da CDE, integrando a comissão de recenseamento eleitoral e participando nas acções da campanha eleitoral, com vista às legislativas desse ano. Depois, participou na criação do Movimento MDP/CDE, de cujo secretariado nacional fez parte.
Voltou a ser preso após as comemorações do 1º de Maio de 1970 e, após um mês na cadeia da PIDE no Porto a ser interrogado e torturado, foi transferido para Caxias, onde esteve até ser julgado, em Dezembro, no Tribunal Plenário de Lisboa[1]. Foi absolvido, mas nesse mesmo mês foi despedido do Hospital da CUF, no qual era chefe do economato.
Trabalhou depois noutras empresas e, em 1973, entrou no Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas, como adjunto do secretário-geral. Nesse mesmo ano, esteve na preparação do III Congresso da Oposição Democrática, realizado em Aveiro, fazendo parte das comissões nacional e coordenadora. Nesse congresso apresentou, com outros, a tese «Situação e Perspectivas dos Trabalhadores do Distrito de Setúbal».
Ainda em 1973 desenvolveu intensa actividade política em todo o distrito de Setúbal, pelo qual foi candidato a deputado nas eleições para a Assembleia Nacional, na lista da Oposição Democrática.
Em Março de 1974, participou em diversas reuniões, nas secções sindicais da CGTP Intersindical, nas sedes dos principais bancos, em Paris, falando sobre a situação política e social de Portugal.
… e Cidadania
Em 27 de Abril de 1974, foi designado para discursar no Barreiro, em nome do MDP/CDE, e logo em Maio passou a fazer parte da comissão administrativa que dirigiu a Câmara Municipal do Barreiro até às eleições de 1976, ano em que foi eleito para a Assembleia Municipal dessa autarquia.
Em 1975, fora escolhido para adjunto do secretariado da Intersindical, funções que desempenhou até 1979, quando foi eleito vereador (iria substituir o presidente da CMB). Foi presidente dos Serviços Municipalizados da Câmara Municipal do Barreiro, cargo este que desempenhou em sucessivos mandatos, até Dezembro de 1985. Em 1986 voltou à CGTP.
De Fevereiro a Setembro de 2002, foi colunista do semanário Voz do Barreiro e, entre Outubro de 2002 e Junho de 2004, foi director do Concelho de Palmela – Jornal. De Setembro de 2006 a Junho de 2007, foi director do jornal Voz do Barreiro. Como dirigente associativo, fez parte dos corpos gerentes do Cineclube do Barreiro, nos anos de 1971 e 1972.
Em 1993, Alfredo Matos recebeu a Medalha de Ouro da Cidade «Barreiro Reconhecido».
Por ocasião das comemorações do 40º aniversário do 25 de Abril, a CMB homenageou Alfredo Matos, juntamente com: Conceição Matos Abrantes, Daniel Cabrita, Libertino de Carvalho, Faustino Dionísio dos Reis, Francisco Rodrigues Lobo, Álvaro Monteiro e Joaquim da Palma Cadeireiro – «oito cidadãos do Barreiro homenageados pelo seu percurso de luta contra a repressão que sobre eles foi exercida pelo regime fascista».
Poema do Zeca Afonso para Alfredo Matos
«Ao Alfredo Matos»
Por trás daquela janela
Por trás daquela janela
Faz anos o meu amigo
E irmão
Não pôs cravos na lapela
Por trás daquela janela
Nem se ouve nenhuma estrela
Por trás daquele portão
Se aquela parede andasse
Se aquela parede andasse
Eu não sei o que faria
Não sei
Se o mundo agora acordasse
Se aquela parede andasse
Se um grito enorme se ouvisse
Duma criança ao nascer
Talvez o tempo corresse
Talvez o tempo corresse
E a tua voz me ajudasse
A cantar
Mais dura a pedra moleira
E a fé, tua companheira
Mais pode a flecha certeira
E os rios que vão pró mar
Por trás daquela janela
Por trás daquela janela
Faz anos o meu amigo
E irmão
Na noite que segue ao dia
Na noite que segue ao dia
O meu amigo lá dorme
De pé
E o seu perfil anuncia
Naquela parede fria
Uma canção de alegria
No vai e vem da maré
[1] A 22 de Julho de 1970, Zeca dedicou-lhe «Por Trás Daquela Janela», um poema que posteriormente lhe entregou manuscrito. Pelo Natal de 1972, este poema, também com música do Zeca, foi editado em disco, sob o título, Eu Vou Ser Como a Toupeira, que também incluiu a canção A Morte Saiu à Rua, dedicada ao escultor Dias Coelho, dirigente do PCP, assassinado pela PIDE em 19 de Dezembro de 1961.