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João de Sousa

Sábado, Dezembro 21, 2024

Algo longe é tempo

Vitor Burity da Silva
Vitor Burity da Silva
Professor Doutor Catedrático, Ph.D em Filosofia das Ciências Políticas Pós-Doutorado em Filosofia, Sociologia e Literatura (UR) Pós-Doutorado em Ciências da Educação e Psicologia (PT) Investigador - Universidade de Évora Membro associação portuguesa de Filosofia Membro da associação portuguesa de Escritores

Havia sempre à porta da nossa casa uma sentinela de espada e foice que martelava como pica miolos o suave cheiro que a órbita cega consumia.

Eram se calhar tempos de que nada me recordo a não ser inventar como uma ingénua criança aqueles sorrisos nada matreiros, era de facto verdade e é, da forma como entendi e hoje resplanto neste canteiro de letras para ninguém, sei como nada se importarão os que a virem mas na cabeça ainda a espada e o sentinela e com ele a volúpia de ermo da lei numa postura a que o recomentavam, ou direi ainda, como a impunham. Se me lembro, era castanha a porta e por trás o azedo escondido

“aí quieto!”

sei lá de quem já nem me importará claro, mas apetece agora não esgrimir, mas nem vacilar as crianças só dormem enquanto de facto dormem, a minha mãe nunca se sentava tal era o tempo que o permitira e apenas servir era uma obrigação

“os miúdos?”

numa afama calada e nada, o quintal sempre na cabeça enfim, o ruído esquizofrénico da máquina de costura num longe tão perto sei lá, isto de pensar agora nas distâncias são outros vinténs dizia a quimera, uma senhora antiga e já revolta numa paz de arrumos onde os livros secam.

Um dia, o sonho despertará quem sabe, acredito sabe?, estas acutilantes invasões que tanto perturbam nem sempre são o mesmo sumo sacro de ideias que entendo terem ido já mas mesmo assim ainda senãos, há imensas vírgulas para repartir num texto por escrever enquanto a gente nele viaja como um sacrificado em si para tudo e tantos lá, seremos mais que prováveis reféns de ostracismos de colónias de férias como eram os tempos a que me refiro no início, presumo que entendam ainda que nada faça sentido, o importante não é esse sentido que entendam ser a lógica destas matemáticas de filósofos dos arrufos de Arquimedes, um sonhador só se cala enquanto dorme e ainda assim pensa numa tela filmada para sonhos ou sonhadores e que importará essa verdade que um dia será de verdade o filme para a nossa vida?

“raios me partam as metafísicas!”

A minha mãe sei lá onde e o meu pai

“os miúdos?”

na portaria do tempo, abrira-se e a enchente para nos contentar um beijo e bom dia fui, eram já tantas da tarde e sozinho o meu sorriso era mais quente para dentro que a vontade de viver essa rumaria sem vaidades,

“baixem as guardas por favor!” e dormi como sempre até hoje, ou será que me esqueço de algo?


Fotografia: “A COSTUREIRA” foto contemplada com 1º lugar na categoria Profissional PB no 35º Concurso Fotográfico da Cidade de Santa Maria/RS Fotografia: J. B. Segundo


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