O ministro da Defesa, Azeredo Lopes, dá hoje uma entrevista ao DN e à TSF na qual, a propósito do desaparecimento de armas dos paióis militares em Tancos, faz com clareza o ponto da situação, sempre com o cuidado de não interferir nas investigações ainda em curso nem ultrapassar competências das entidades militares.
Azeredo Lopes é professor de direito, conhecendo perfeitamente as nuances políticas e jurídicas que caracterizam a função de ministro da Defesa, separando bem na entrevista os planos político e técnico/militar. O DN escolheu para título da entrevista uma afirmação do ministro descontextualizando-a e a TSF seguiu o mesmo caminho. O título das peças dos dois meios é: “Não sei se alguém entrou em Tancos. No limite, pode não ter havido furto”.
Ora, basta ler a entrevista para perceber o contexto da afirmação, que o ministro usa como “absurdo”. A pergunta do jornalista e a resposta completa do ministro em que surgiu a frase podem ser lidas aqui. Eis o excerto:
“(…) No limite, pode não ter havido furto nenhum. Como não temos prova visual nem testemunhal, nem confissão, por absurdo podemos admitir que o material já não existisse e que tivesse sido anunciado… e isto não pode acontecer. (…)”(sublinhado meu)
Os títulos escolhidos pelos entrevistadores procuram chamar a atenção para a frase, mas tratando-se de jornalistas experientes não é suposto que não tenham previsto a polémica (ou a curiosidade) que a afirmação podia desencadear. Do ponto de vista do rigor jornalístico não foi uma opção correcta, já que embora os títulos sejam por definição sucintos e expressivos, não podem (ou não devem) ser descontextualizados.
A polémica não se fez esperar. O deputado do PSD Costa Neves, ou não leu a entrevista e ficou-se pelos títulos ou não foi capaz de entender a frase. O que é estranho já que não há duas interpretações mesmo para iletrados, o que não será o caso. Com ar solene e palavras empoladas, aquele dirigente do PSD veio pedir esclarecimentos e “responsabilidades políticas” prometendo “partilhar com os portugueses aquilo que se souber”, acusando o governo de “tudo fazer para que as situações não se apurem e para que se disfarcem os fracassos e as incapacidades“.
Temos pois matéria para o PSD explorar nos próximos dias, a não ser que algum assessor rapidamente ajude o deputado Costa Neves a perceber que a ironia é uma figura de estilo usada na língua portuguesa.
Declaração de interesses: sou amiga pessoal de Azeredo Lopes, co-fundador deste blog.
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