Na foto, Caetano Veloso, José Saramago, Jorge Amado. Registro astronômico da jornalista e fotógrafa Maria Sampaio, na casa do músico baiano, em Salvador, 1996.
Naquele ano, Caetano preparava o disco “Livro”, lançado em 1997, juntamente com a autobiografia “Verdade Tropical”. O álbum é um de seus melhores trabalhos. Estão lá “Onde Rio é mais baiano”, “Manhatã”, “Não enche”, uma ótima regravação de “Na baixa do sapateiro”, de Ary Barroso, e a conceitual faixa-título, onde o trecho inicial parece uma legenda inversa para a foto:
“Tropeçavas nos astros desastrada
quase não tínhamos livros em casa
e a cidade não tinha livraria
mas os livros que em nossa vida entraram
são como a radiação de um corpo negro”.
Saramago lançara “Ensaio sobre a cegueira” um ano antes, possivelmente o livro do escritor que melhor simboliza a imagem de um mundo imundo e bárbaro. Na Bahia ele descansava do trabalho que dizia ter sido “um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida.”
Jorge Amado preparava o que veio a ser sua penúltima obra, “O milagre dos pássaros”, uma fábula ambientada em Alagoas. Conta a história de Ubaldo Capadócio, trovador popular, amante de muitas mulheres, típico galanteador irresistível. Mesmo fora do céu da Bahia, personagens da constelação jorgeamadiana, numa deliciosa narrativa temperada com dendê.
O alinhamento dos planetas Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno, que aconteceu no último domingo, 26, voltará em 2022.
O alinhamento visto “nas sacadas dos sobrados / da velha São Salvador” em 1996, tornou-se um fenômeno raro.
por Nirton Venâncio, Cineasta, roteirista, poeta e professor de literatura e cinema | Texto original em português do Brasil
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