A escandaleira da “traição das elites” europeias – que vai de Primeiros-Ministros, ministros, deputados, políticos e presidentes de câmara a jornalistas – que traem os seus países e se vendem a Estados adversários pelos “trinta dinheiros”
No início do Verão de 2020, o Parlamento Europeu decidia criar “une commission spéciale pour étudier les ingérences étrangères dans les affaires européennes”, cuja presidência foi entregue a um jovem e neófito eurodeputado social-democrata, Raphaël Glucksmann, filho do falecido filósofo André Glucksmann. Claramente, o Parlamento Europeu não esperava nem investia grande coisa nesta comissão especial.
A alguns observadores pareceu mesmo que a comissão nascia para acalmar alguns “excitados românticos” e que se esperava que definhasse, com o tempo, sem alardes e sem sair do seu cantinho. Era não contar com o empenhado trabalho de Glucksmann, a sua dedicação e capacidade de encontrar “boas fontes” e outras “gargantas fundas”
Rapidamente, a comissão estabeleceu uma lista (que cresce todos os dias) de altos responsáveis políticos dos Estados da UE pagos por Pequim e Moscovo. Raphael Glucksmann começa, então, a falar da necessidade de pôr termo a “vingt longues années d‘aveuglement et de corruption des élites européennes”. Desta “traição das elites”, demos conta há quase dois anos, destacando esta investigação aos “Políticos europeus nas mãos da China e da Rússia“.
No início de 2022, o trabalho da comissão permitia já ao magazine francês Le Point escrever:
“La commission Inge, créée spécialement pour armer l’Union européenne contre les guerres hybrides menées par les voisins dérangeants, s’est penchée sur un phénomène identifié par tous les services de contre-espionnage: la capture des élites européennes par deux puissances, la Russie et la Chine. C’est une véritable toile d’araignée qui s’ébauche au fur et à mesure des recrutements de personnalités de haut rang.
“Ce sont ainsi 7 anciens Premiers Ministres (France, Allemagne, Belgique, Autriche, Finlande, République tchèque) qui travaillent ou ont travaillé au service d’intérêts russes ou chinois après leur carrière politique, 1 vice-chancelier allemand, 5 anciens ministres des Finances ou de l’Économie (France, Bulgarie, Luxembourg), 2 anciens ministres des Affaires étrangères (Autriche, République tchèque), un ex-ministre de la Défense (République tchèque) et quelques autres ministres de moindre rang…”
E Raphaël Glucksmann, sem papas na língua, declarava: «Russes et Chinois assurent la retraite dorée de dizaines de décideurs politiques d’Europe».
Pelo que o bem informado jornalista do Le Point escrevia, a comissão de Glucksmann estava a trabalhar sobre matérias “bem conhecidas” dos serviços franceses de contra-espionagem…
Meses depois, em Novembro de 2022, chegava-me um convite para o lançamento, em Paris, de um livro assinado por três ex-patrões da DST, o lendário serviço francês de contra-espionagem. Raphael Glucksmann e a sua comissão já não estavam sozinhos e, a partir daí, as línguas começaram a soltar-se… E continuam. Talvez ainda cheguem a Portugal…
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