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Segunda-feira, Dezembro 23, 2024

Altered Carbon

Nélson Abreu, em Los Angeles
Nélson Abreu, em Los Angeles
Engenheiro electrotécnico e educador sobre ciência e consciência. Descendente de Goa, nasceu em Portugal, e reside em Los Angeles.

Altered Carbon é uma série original do Netflix. Mostra um futuro após o desenvolvimento de uma nova tecnologia que permite armazenar a consciência de forma digital.

Quando uma pessoa falece, por exemplo, pode transferir o seu chip para um outro corpo. A morte é somente do corpo, a não ser que o seu chip (“stack”) seja comprometido e sem backup.

O ser humano já habita outros mundos e a sociedade que curou a morte é protegida por um governo interplanetário. À primeira vista, parece um futuro utópico.

A estória centra-se na personagem Takeshi Kovacs, o último rebelde que tentou evitar esta realidade. Pouco a pouco entendemos porquê. Uns poucos tiveram a presciência para entender que num mundo onde os mais poderosos não morrem, o seu poder se concentraria ainda mais. E o que fazem imortais todo-poderosos sem ética questionar quando estão aborrecidos? Nada de bom.

A ironia é que a mente deste último soldado rebelde foi reanimada algumas centenas de anos depois de ser preso por um destes todo-poderosos: Laurens Bancroft. Bancroft quer saber quem o tentou assassinar.

Não sabemos ao certo se é possível digitar a consciência. Por exemplo, o próprio inventor do microprocessador, o prof. Federico Faggin, afirma que a consciência é mais do que a computação de zeros e uns, pois temos a capacidade de entender o significado de situações e temos uma vida interna. Neste caso, seria complicado baixar a consciência e transferi-la como no filme Avatar ou como nesta série.

No entanto, o mundo de grandes desigualdades e injustiças demonstrado é a parte mais realística desta série que mostra a violência e brutalidade de quem vive para sempre sem propósito maior. É muito provável que desenvolvimentos da medicina e tecnologia permitam que os mais ricos prolonguem a sua vida e logo o seu poder. No futuro, a prioridade não será a democratização dos meios de produção, mas sim da informação ou know-how. Viver para sempre até poderá possível… mas será a morte o que faz viver valer a pena? Esta série audio-visualmente atraente, com humor negro, não é para crianças mas vai dar que pensar aos adultos.

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