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Quarta-feira, Dezembro 25, 2024

Álvaro Cunhal. Exemplo e legado

Treze anos após a sua morte, lembramos o ser humano e a sua obra.Álvaro Cunhal dedicou toda a sua vida ao ideal e projecto comunista, à causa da classe operária e dos trabalhadores, da solidariedade internacionalista, a um compromisso e dedicação sem limites aos interesses dos trabalhadores e do povo português, da soberania e independência de Portugal.

Pela sua inteligência fulgurante, pela sua coerência, pela seriedade no respeito dos compromissos, pelo rigor com que aplicava a teoria à prática, e também pela amplitude da sua cultura humanista, pela sua enorme capacidade de trabalho e uma abertura à arte pouco comum, fazem dele talvez a única personalidade da nossa história recente que acolhe o respeito de todos os adversários políticos que com ele se cruzaram e debateram.

Intervindo com o seu Partido de sempre – o PCP – ao longo de mais de 74 anos de acção revolucionária, assumiu um papel ímpar na história portuguesa do Século XX, na resistência anti-fascista, pela liberdade e a democracia, nas transformações revolucionárias de Abril e em sua defesa, por uma sociedade livre da exploração e da opressão, a sociedade socialista.

A luta pela paz e a segurança na Europa está também intimamente ligada à luta pela verdadeira independência nacional de todas as nações europeias. Posições económicas dominantes representam meios de influência e de intervenção na política interna de outros Estados e meios de pressão diplomática.”

Sujeito às maiores provações, a mais de doze anos de prisão, a bárbaras torturas, às duras condições da vida clandestina, revelou sempre as suas qualidades excepcionais de militante e ser humano.

Biografia

Nasceu em Coimbra em 1913 e iniciou a sua actividade revolucionária quando estudante na Faculdade de Direito de Lisboa, para onde entrou em 1931. Participou no movimento associativo e foi eleito em 1934 como o representante dos estudantes no Senado Universitário. Foi militante da Federação da Juventude Comunista Portuguesa (FJCP) sendo eleito seu Secretário-Geral em 1935, ano em que passou à clandestinidade e participou, em Moscovo, no IV Congresso da Internacional Juvenil Comunista. Membro do Partido Comunista Português (PCP) desde 1931.

Preso em 1937 e 1940 e submetido a torturas, voltou imediatamente à luta logo que libertado depois de alguns meses de prisão.

Participou na reorganização do PCP, em 1940/41. Vivendo de novo na clandestinidade, foi membro do Secretariado de 1942 a 1949.

Preso de novo nesse ano fez no Tribunal fascista uma severa acusação à ditadura fascista e a defesa da política do Partido. Condenado, veio a permanecer 11 anos seguidos nas cadeias fascistas, quase 8 anos dos quais em completo isolamento.

Em 3 de Janeiro de 1960 evadiu-se da prisão-fortaleza de Peniche junto com um grupo de destacados militantes comunistas. De novo chamado ao Secretariado do Comité Central, foi eleito Secretário-Geral do PCP, em 1961.

Desde então, participou em inúmeros congressos e encontros com partidos comunistas e outras forças revolucionárias e em conferências internacionais.

Depois do derrubamento da ditadura fascista em 25 de Abril de 1974, foi Ministro sem Pasta do 1º, 2º, 3º e 4º governos provisórios e eleito deputado à Assembleia Constituinte em 1975 e à Assembleia da República em 1976, 1979, 1980, 1983, 1985, 1987. Foi membro do Conselho de Estado.

Na aplicação das decisões do XIV Congresso do PCP (em 1992) relativas à renovação e à nova estrutura de direcção deixou de ser Secretário-Geral do PCP e foi eleito pelo Comité Central Presidente do Conselho Nacional do Partido.

Em Dezembro de 1996 (no XV Congresso do PCP) extinto o Conselho Nacional do PCP e o cargo de Presidente, foi reeleito membro do Comité Central, o que sucedeu também nos XVI e XVII Congressos, respectivamente em 2000 e 2004.

Álvaro Cunhal construiu com o seu Partido um projecto para Portugal. Um projecto onde os valores de Abril cabem inteiros e são a retoma de um caminho que quer ir longe na incessante procura de um mundo mais humano e melhor.

A Arte como expressão da luta

Álvaro Cunhal interligou a sua intervenção revolucionária no plano político com um apaixonado interesse por todas as esferas da vida, nomeadamente na actividade de criação artística.

Autor de uma arte comprometida e assumida, como elemento participante na modificação da sociedade, e movida por ideais de fraternidade, justiça social e liberdade. Uma obra que nos fala ou mostra o povo que sofre e luta.

Na sua obra literária, sob o pseudónimo Manuel Tiago, emergem, entre outros, o romance “Até Amanhã, Camaradas” e a novela “Cinco Dias, Cinco Noites”, “Fronteiras”, onde se contam histórias da resistência e da vida de gentes simples dos campos e das aldeias. António Gervásio, falando na obra literária de Álvaro Cunhal, afirmou “quando estou a ler reconheço o Álvaro, o país, o Alentejo e identifico figuras reais que ele captou”.

O mesmo poderíamos dizer dos seus desenhos e das suas pinturas. Os seus desenhos da prisão são um hino à alegria de viver e de lutar; os seus quadros têm as cores da terra fecunda, dessa terra que queria ver repartida e entregue a quem a ama verdadeiramente, àqueles que a trabalhavam para que se pudesse repartir o pão entre os que ansiavam vê-la livre da servidão.

Desenhos e pinturas da prisão que apenas podiam prender o seu corpo, mas não o seu pensamento, o sonho, a imaginação, nem tão pouco a confiança nos seus companheiros de projecto e na luta do seu povo. Sobre a sua expressão plástica, confrontado com o seu talento, Álvaro Cunhal dizia que gostaria de ter tido tempo para «aprender a pintar».

Vídeos

Álvaro Cunhal – Sobre o Sonho (relativo à sociedade)

Vida, pensamento e luta: exemplo que se projecta na actualidade e no futuro

  • Jerónimo de Sousa | Intervenções, PCP | textos e testemunhos

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