Transcorrida quase uma década após a maior crise financeira desde a Grande Depressão assolar o mundo (especialmente os países desenvolvidos), a experiência do pós-crise tem sido muito distinta dentre os países que compõem a chamada América Latina.
Escrevi três rápidos comentários sobre o assunto recentemente (Macroeconomic models in Latin America: choices and consequences (I), Macroeconomic models in Latin America: choices and consequences (II) e Macroeconomic models in Latin America: choices and consequences (III)) e este artigo é uma forma de continuar o debate.
Podemos perceber que existem fundamentalmente dois tipos de países: aqueles que se veem aprisionados em uma espiral de baixo crescimento e alta inflação e outros que possuem um melhor desempenho nos dois quesitos. Claro que cada país possui as suas idiossincrasias e, portanto, um artigo apenas seria muito pouco para aprofundar a análise sobre todos os países. Mas sobressai a alta correlação entre países orientados ao mercado e os orientados aos negócios com a dinâmica das supracitadas relações de crescimento-inflação.
No primeiro caso, os países que privilegiam as soluções de mercado (em termos relativos, claros) registraram um pós-crise melhor, ao passo que os gestores dos países que escolheram o outro modelo não podem dizer o mesmo. A orientação ao mercado está longe, muito longe de um laissez-faire. Têm mais uma relação com o liberalismo que entende a importância do Estado em corrigir falhas de mercado e não escolher os vencedores, quando não ser o próprio protagonista da vitória. Embora essa relação pareça mais um “sabor”, porque é difícil defender que um governo seja (ou tenha sido) realmente liberal na região.
Produtividade total dos fatores
Paul Krugman já nos disse que a produtividade não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo. Quando tomamos o Brasil como exemplo, tanto a foto quanto o filme preocupam. Com base nos dados da Penn World Table 9.0, o crescimento da chamada produtividade total dos fatores (PTF) tem decepcionado no pós-crise:
PTF – Penn World Table | ||||
Brasil | Colombia | Paraguay | Venezuela | |
2000-2004 | 0.1% | -0.1% | 0.4% | -0.7% |
2005-2009 | 0.6% | 0.8% | 0.3% | 1.5% |
2010-2014 | -1.0% | 0.9% | 2.8% | -1.9% |
A produtividade decresceu em média 1% no período de 2010 a 2014. No mesmo período, a produtividade da Colômbia cresceu em média 0,9% e do Paraguai 2,8%. Acompanhando o Brasil temos a Venezuela, com queda de 1,9%, em média.
Acemoglu e Robinson já nos mostraram que o fracasso das nações está, em geral, associado às escolhas em relação às instituições. A organização da economia e o protagonismo dos agentes são cruciais para essas escolhas. No curto prazo, os grupos de interesse que se apropriaram do Estado para manter a sua posição social relativa podem muito bem utilizar o aparato governamental para sustentar a sensação de bem-estar social. Mas no longo prazo fica difícil que a realidade econômica não se imponha.
No momento que a América Latina deixar as (momentaneamente) confortáveis práticas populistas e fizer as escolhas, embora difíceis, poderá haver alguma esperança de que a chamada “armadilha da renda média” deixe de ser uma realidade. Uma vez ou outra alguns países fazem escolhas nessa direção, mas os custos no curto prazo fazem com a que população traga de volta ao poder governantes que desviam o país da rota do desenvolvimento e os países da região ficam, na melhor das hipótese, oscilando entre os dois modelos. É a economia política, estúpido!
O Autor escreve em português do Brasil