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Terça-feira, Julho 16, 2024

Amo-te Maria Madalena

Vitor Burity da Silva
Vitor Burity da Silva
Professor Doutor Catedrático, Ph.D em Filosofia das Ciências Políticas Pós-Doutorado em Filosofia, Sociologia e Literatura (UR) Pós-Doutorado em Ciências da Educação e Psicologia (PT) Investigador - Universidade de Évora Membro associação portuguesa de Filosofia Membro da associação portuguesa de Escritores

Nas trincheiras vazias do céu, do longe, nas calmas sinuosas deste frio arrebatado onde tu, comigo, me abraças num fresco apertado. Havia céu, havia voz, havia calor.

Crescidas as barbas de Jesus.

– Talvez me aqueçam, queiras como eu. Ah, que sonhas?, dormes tantas vezes neste deserto do meu colo, num deserto qualquer.

– Sinto, como estas árvores no espaldar dos infinitos, nestes restos esquecidos, as costas ainda queimadas pelo purgatório dos céus, preciso que me abraces.

Nas trincheiras obtusas de qualquer distância. Um afagar de núpcias, saibam, Jesus era uma metamorfose rara e Madalena, o resquício dos seus beijos de breu.

No deserto, acalentados se sucumbiam num desejo refém, quase que a acabar no refego árduo dos corpos, Ele deitado, as costas marcadas pela suprema verdade divina enquanto o sussurro do desejo por dentro o rasgava sob sonos ou sonhos numa verdade nunca anunciada.

– Desejo-te!, dizia Maria Madalena.

A voz viajava pela floresta como se ali as pernas se transformassem em árvores, criando naquele silêncio, a beleza rara das sombras.

Os cabelos agudos. Roçavam as peles negras um do outro enquanto os olhos fechados indicavam a alma do amor. Maria Madalena de transas. Duas fiadas curtas de cabelo desciam vagarosamente, quase contra os ombros.

Lá fora os corais, o eco sóbrio de paixões muitas num ar de templos, lá fora a ânsia sobre quem sou, embora, sabem, filho que sou da natureza mais poderosa do silêncio, me encubro sem ser, verdade, coisa de outra espécie que não esta.

As mantas eram de folhas feitas. A cobrir-nos o íntimo sol das almas num amor descoberto pelo desejo ao sermos também como os outros, filhos para amar. Rosa negra, um rosto metálico de brumas, negra, os dedos longos numa longitude ali, sobre as minhas barbas, as tuas mãos num cântico, de fora, a entrar pelo templo enquanto eu, possuído de ânsias pelo teu jeito de me possuir devagar.

I only want to say.

Talvez a da época esta confluída canção que me rogavas no leito do amor.

Por dentro, a matriz solta do teu corpo, ainda que dançasses pelos ímpetos inquietos a floresta decorava o nosso sono, que sono era, quis na mesma sentir assim, sonho e que importa.


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