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João de Sousa

Sexta-feira, Dezembro 20, 2024

Espinosa (uma ida sem volta)

O amor às vezes chega de forma inesperada, embora acredite, que quase sempre ele nos surpreenda, pois nem mesmo quando o esperamos, ele surge da forma esperada… complicado não é? Pois.. um sentimento indisciplinado e autónomo.

Cruzou o Atlântico nas asas de um falcão, para uma missão de cooperação… Entre Angola e Cuba, e nas margens do Lobito, conheceu a Kianda de Luanda, enfeitada de rosa flamingo e perfumada com forte aroma das acácias.

Não houve choque entre o espanhol e o português, que rapidamente fundiram-se, tornando-se em um improvisado portinhol… Mas a base para tudo, era o desejo mútuo, marcado pelo bem querer… O amor é universal e não precisa tradução.

Ele um homem de meia idade, e ela uma mulher não mais na flor da idade, mas ainda deslumbrante e enérgica. Tinha prazo aquele amor, pois a missão estava a terminar….

– Que pena, não ter te conhecido antes… (sussurravam uma para o outro) onde estavas tu?

– Cuba… Tão distante…

– Angola… Aqui pertinho do teu coração

E como sempre o relógio não cooperava, atropelando todos acordos seguia apressadamente, carbonizando os dias que se evaporavam feito nuvens de fumo. As circunstâncias também conspiravam, ora chuva, ora disciplina… Ora regras…

E a regra era: Que seja eterno enquanto durar…

Nem o tempo, nem as regras e nem o medo, conseguiam sequer tocar naquela certeza. Certamente uma fervorosa paixão, adornada de reciprocidade. Sim um amor instantâneo nutrido de intensidade.

E na hora da partida, o ciumento atlântico trago-o novamente, levando seu comando para as terras de Fidel, para o colo daquela mulata de Havana, que dança descalça na da ilha. O mar é mar em todas as margens e a Kianda é sereia em todas as praias… E na mulata moldou sua Kianda… Nos primeiros momentos, sentiu saudades do perfume acácias, e logo embriagado pelo cheiro do charuto, afogou toda a saudade no trago do rum… E seguiu cooperando com o momento.

Bandos de epístolas cortam o oceano em forma de emails… Mas o silêncio impera, para não despertar a saudade…

E insistentemente ela pergunta:

– Porque não me contestas carinho mio???


A autora escreve em PT Angola


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