Se o governo de Lisboa é um, o discurso é assim-assim. Se é outro, o discurso é assim-assado. A condenação de vários homens, acusados de conspiração contra o regime, faz soar badaladas. Ou que a resposta de Lisboa é fraca, ou forte, ou neutra ou, ainda hipócrita.
Estamos no domínio do colonialismo serôdio. Não temos responsabilidade directa sobre o que Angola e os angolanos querem para o seu futuro. Deve ser claro que, desde há 40 anos, os portugueses tiveram, emagadoramente, duas posições sobre Luanda: partidária, quando o MPLA se opunha à UNITA e, depois, de aproveitadores de dinheiro fácil de diamantes e petróleo. Isabel dos Santos, por exemplo, é o nosso Buffett, (não bufete), a quem tratamos com reverência monetária e desprezo pessoal.
A condenação de Domingos da Cruz, Luaty Beirão e mais 15 pessoas, num julgamento que ora se apelida de político, é só mais um sintoma de um poder que está nas cadeiras dos palácios há 40 anos, sem o largar. Angola não é uma democracia, disso não há discussão que aguente os factos.
Mas o papel de Portugal não pode ser do velho senhor da guerra que sanciona ou critica, com uma moralidade desconchavada e sem grande legitimidade. Santos Silva e Marcelo bem podem comunicar cartas de intenções, mas Angola cabe aos angolanos.
Obama teve o mesmo problema com Israel. Detestando Benjamin Netanyahu, o presidente norte-americano fartou-se de mandar mensagens anti-guerra, contra o poder cego de Tel Avive e os desmandos autoritários em defesa de um país criado a régua e esquadro depois da Segunda Guerra Mundial. Mas basta que Trump ganhe as eleições (ou Hillary) para que os israelitas voltem à ribalta das simpatias.
Desconheço Luanda, Benguela, todo o povo e o país. Julgo que seria sensato da antiga “Metrópole” não se indignar tanto sem ter vontade de fazer coisa alguma – como limitar a circulação de capitais duvidosos. Mas enquanto isto se cingir ao parole parole, os angolanos decentes, democratas e livres bem podem esperar. De Lisboa, apenas acenos descomprometidos, por detrás do leque, como se fôssemos virgens à procura do melhor partido, que case connosco e nos sustente as despesas de sapatos, vestidos, lingerie e alguma verve senhorial.
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