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Sexta-feira, Novembro 1, 2024

Angola, um sonho perdido

Vitor Burity da Silva
Vitor Burity da Silva
Professor Doutor Catedrático, Ph.D em Filosofia das Ciências Políticas Pós-Doutorado em Filosofia, Sociologia e Literatura (UR) Pós-Doutorado em Ciências da Educação e Psicologia (PT) Investigador - Universidade de Évora Membro associação portuguesa de Filosofia Membro da associação portuguesa de Escritores

Acordei nobre na maresia de uma insónia escura lá pelos lados do nada, uma estátua inventada e um sorriso encontrado para me limitarem a caminhada. Pareciam fariseus naquele estandarte que diziam ser arte, afinal um corte na pele que sangra dores para crescer e nada, tudo é mais forte que o absoluto.

Sentia de cor a cor daquele vazio num rio seco que esbarrava contra a margem e marés eram utopia numa escócia marcada pela luta no reino perdido onde nem czares se sentavam como na bancada sossegada e fria daquela moscovo na televisão, sente-se de forma tão indiferente o fluir dos aleijados acamados no asfalto do desdém que a glória impõe.

Ainda que sem frio, onde a neve nunca existiu há um frio que gela neste quente disfarçado e embalsamado como uma esfinge num Egipto verde de pirâmides cansadas a desfazerem-se em pó numa tarde qualquer, todos os dias.

Acordei como se a surdez me desfizesse num canto sem alma a vegetar fantasmas coloridos em paredes de grafitis experientes a colarem o meu rosto numa floresta seca ou num deserto de ideias como pintassilgos de alcachofre nas paredes de árvores fugidas.

Aos pingos, o tempo esvai-se, a terra que suga o suor de dor dos viajantes e de ambulantes sonhadores, a vida nesta casa sem chão como se o sangue fosse a última esperança de vida.

Um dia destes fui-me embora. Larguei a minha alma e coloquei-a num areal de ninguém para que nunca saibam de onde vim e morarei longe como um pesadelo de toneladas de uma nave e volta nunca, sim, um presságio Nostradamus pintado no caule da árvore que nunca tive e ali ficarei, tendo já desistido de que algum dia na vida os homens acreditassem que era possível viver.

Não perdi a lucidez e continuo ainda num sonho mais profundo que a ingenuidade visionária de um perdedor que compete sempre ainda assim e numa praia qualquer ser a areia que mergulha no mar e nascerá num lugar qualquer deste imenso nada chamado mundo, voz de água que flutua ou maresia, ao fim da tarde esvazia e até parece que a água foi engolida pelo nefasto farto de esperanças na esperança eterna de viver a morte de um apaixonado por ela e fico apenas o sonho que alguém sonhara um dia.

O escuro das areias avermelham-se em vários repentes e tudo é tão inconstante como a verdade de se ser sol ou nada, fonte de tempo e escape de um velocípede sem rodas nas ondas da vida aqui, nesta casa sem chão onde piso nunca, ou porque não exista ou não o sinta, mas deito-me furibundo como se um fim do mundo se tratasse.

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